O acervo artístico da Fundação Clóvis Salgado (FCS) vem sendo construído desde a fundação da instituição, em janeiro de 1970. Na época, era comum existir um acordo entre artista e galeria que estabelecia a doação de uma obra a cada exposição realizada. Com o passar dos anos, a prática foi caindo em desuso, a doação passou a ser espontânea e segue assim até os dias de hoje.

“Antes, o nosso acervo era constituído basicamente por pintura, desenho e escultura. Por volta de 2013, quando temos uma forte retomada desse processo de doação, ele passa a armazenar outros suportes, como objetos instalativos, por exemplo. É legal ver que ele acompanha a mudança dos artistas, do mercado e das instituições”, comenta Uiara Azevedo, gerente de Artes Visuais da FCS.

Pensando na memória expositiva de Minas Gerais, em janeiro deste ano, a FCS realizou mostra com obras que fizeram parte de antigas exposições no complexo cultural do Palácio das Artes, mas sem um recorte temático estabelecido. Nesta quarta-feira (20/12), a CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais abre a exposição “Sou aquilo que se vê”, voltada para apresentar retratos que fazem parte do acervo da instituição.

 



Com 20 obras, a mostra reúne trabalhos produzidos por nove artistas ao longo de várias décadas, abrangendo nomes como Humberto Guimarães, Genesco Murta, Tiago Nunes, Ártemis e Chris Tigra. Os retratos vão desde o viés mais tradicional da fotografia até outros suportes como o desenho e a pintura.

Segundo Uiara, embora a fotografia seja um dos suportes mais antigos, a parte dedicada a essa expressão artística é recente dentro do acervo da FCS. “Quando a gente olhou para essa coleção, vimos que ela era constituída por muitos ‘portraits’ (retratos), a partir daí surgiu a ideia da mostra. Pensamos em colocar isso sob um olhar mais contemporâneo, trouxemos outras formas artísticas que vão além da fotografia”, afirma Uiara.

SUJEITOS INDIVIDUALIZADOS

Natural da Região do Serro, Tiago Nunes iniciou em 2010 estudo sobre a Festa do Rosário. Formado em fotografia pela Escola Guignard, o mineiro começou a pesquisa após voltar de uma temporada em Nova Iorque. “Cheguei com esse desejo de investigar o Serro, especificamente a Festa do Rosário sob o aspecto da fé e da devoção", afirma o fotógrafo que, após a imersão na cultura do Nordeste de Minas, também se tornou congadeiro.

Ele passou a fotografar anualmente até que notou um incômodo: percebeu que na fotografia o congado era sempre representado coletivamente e nas ruas. “Uma massa de cores”, nas palavras dele. Foi aí que teve o desejo de individualizar os sujeitos, levando-os para fazer retratos dentro do estúdio.
“Nesse trabalho de retratar as pessoas, escutar e conversar, o projeto foi tomando uma robustez maior. A gente foi se conhecendo e o resultado dessa intimidade foi acontecendo tanto nas interações quanto nos retratos”, diz o artista.

Daí surgiu a série “Rusá” (Rosário dito no mineirês), exposta em 2017, por meio de edital de ocupação da CâmeraSete. Agora, três das 30 fotos originais voltarão a ser expostas na mesma galeria, com visitação gratuita aberta ao público até 3 de fevereiro.

“SOU AQUILO QUE SE VÊ – COLEÇÃO
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO”
Exposição na CâmeraSete (Av. Afonso Pena, 737, Centro). Abertura para o público nesta quarta-feira (20/12). Visitação de terça a sábado, das 9h30 às 21h, até 3 de fevereiro. Entrada franca. 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

 

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