Rio de Janeiro – Na história recente do cinema brasileiro, as atrizes Ingrid Guimarães e Tatá Werneck, e a diretora Susana Garcia são campeãs de audiência. Os números garantem pódio privilegiado no audiovisual. Com o longa "De pernas para o ar 2", lançado em dezembro de 2012, Ingrid levou mais de 4,8 milhões de pessoas às salas de cinema. 

Três anos mais tarde, com "Loucas para casar", Ingrid e Tatá estavam no elenco do filme que ultrapassou a marca dos 3,7 milhões de pagantes. Suzana, por sua vez, dirigiu em 2019, "Minha mãe é uma peça 3", o longa mais visto da franquia criada por Paulo Gustavo, com quase 11,5 milhões de espectadores. 

Para se ter uma ideia da grandiosidade dos números e mudanças no mercado, o filme nacional mais visto em 2023, "Nosso sonho", que estreou em setembro e conta a vida de Claudinho e Buchecha, cravou 430 mil espectadores. 

Ingrid, Tatá e Susana estão de volta às telas com a comédia "Minha irmã e eu", que estreia oficialmente nesta quinta (28/12) em todas as capitais do país, com desafios bem diferentes dos que marcaram os últimos 10 anos do mercado audiovisual no Brasil. O mais forte deles é levar o público de volta às salas de cinema. 

Na coletiva de lançamento de "Minha irmã e eu", em 13 de dezembro, no Rio de Janeiro, Ingrid e Susana garantiram ter consciência das mudanças. "O mercado mudou pós-pandemia, pós-governo, que não aplicou nenhum tipo de incentivo", criticou Ingrid em referência à falta de políticas públicas do governo Jair Bolsonaro para o setor. A falta de dinheiro no bolso do consumidor é outro entrave que agrava ainda mais a situação.


PETS DE FAMOSOS

 

Mesmo diante desse painel, a atriz mantém otimismo e acredita que uma produção reunindo uma diretora com a mão no popular, duas atrizes de gerações diferentes com públicos próprios e uma história que atinge todo mundo pode trazer os espectadores de volta às salas de cinema. 

"Minha irmã e eu" gira em torno dos encontros e desencontros das irmãs a partir do desaparecimento da mãe, Dona Márcia (Arlete Salles). Mirian (Ingrid Guimarães) preferiu ficar em sua terra natal, no Centro-Oeste do Brasil, onde casou-se, formou família, cuida da mãe e, no filme, prepara a festa de aniversário da matriarca. 

Mirelly (Tatá Werneck), a irmã aventureira que foi tentar a vida no Rio de Janeiro, está sempre no sufoco, ganha a vida cuidando de pets de famosos, mas para a família que está em Rio Verde, cidade a 230 quilômetros de Goiânia, ela está cercada de celebridades em um universo de luxo e glamour. 

No encontro das duas depois de muitos anos, Mirelly e Mirian se desentendem na festa da mãe, que some no mapa depois de ver as filhas se engalfinhando e fugindo da responsabilidade de cuidar dela. O filme é uma ficção, mas guarda traços de realidade.


DONA MÁRCIA INSPIRADORA

 

Susana reconhece que ela faz parte de uma geração na qual os pais já estão envelhecendo e daqui a pouco haverá uma inversão de papéis. O problema, segundo ela, é que na agitação da vida, os pais vão ficando esquecidos. “O filme mostra as duas indo atrás desse amor novamente. Fala sobre a conexão dessas duas irmãs, o amor delas pela mãe, que elas nem imaginavam ter”, detalha a diretora. 

Ingrid reconhece que o longa tem traços de autobiografia. A atriz conta que a avó mora em Goiânia, sob os cuidados de uma tia. A mãe de Ingrid preferiu trocar o Centro-Oeste pelo Sudeste há 35 anos. “Minha mãe também cuida da minha avó, mas o dia a dia é da minha tia. Claro que elas não se odeiam, mas me inspirei um pouco nessa história de que sobra para uma, mas quem está longe também sofre como uma certa culpa.” 

A atriz diz que ao longo do processo de criação do roteiro viu que essa situação é uma coisa muito comum. “Quando o pai ou a mãe envelhece os cuidados 'sobram' para o irmão que está mais próximo, o irmão que não se casou ou o que tem mais tempo.” 

Para Susana, o filme mostra que, independentemente da idade, você pode ressignificar a vida. “A Dona Márcia é uma mãe que sai e vai em busca da vida dela”, diz. “Vamos dar uma esperança para essa geração de mulheres na qual muitas não trabalharam. Passaram a vida cuidando da família, que é um trabalho invisível. Minha avó não assinou cheques.” Ingrid lembra que o sonho da mãe de Mirelly e Miriam era ser cantora, mas o desejo foi achatado pelo casamento.


LUTA POR COTA

 

Outra bandeira de Ingrid é a luta pela cota de telas. “Cadê, gente?! Vamos assinar logo esse negócio”, conclamou. Ela já sentiu na pele a concorrência dos grandes filmes internacionais com a produção brasileira. Em 2019, “De pernas para o ar 3” caminhava para os 2 milhões de espectadores e o filme foi, segundo a atriz, arrancado para dar espaço a “Vingadores: Ultimato”. “Ok! Afinal quem era eu para concorrer com Thanos”, comparou com bom humor. 

Entretanto, ponderou que não faz sentido sete salas exibirem o mesmo filme no complexo de cinema. “Você obriga a pessoa a ver um filme só. Se tivéssemos a cota de tela naquela época, isso não aconteceria. A cota de tela é essencial. Daqui a pouco, nossos filhos que já são americanizados no TikTok, nas séries gringas, vão desacostumar a ver filmes falados em português.”


PELEJA COM A FILHA

 

Levar o público ao cinema não é a única peleja da atriz Ingrid Guimarães. Na coletiva, ela revelou que um dos maiores desafios da vida é criar o hábito na filha de assistir filmes brasileiros. “Ela estuda em escola bilingue, ama o TikTok, que tem muita coisa gringa, e ela ama séries americanas de adolescentes.” No dia anterior à entrevista, Clara, de 13 anos, filha única da atriz, foi assistir ao filme “O sequestro do voo 375”, o que provocou empolgação na mãe, que quis saber de tudo. “E as amigas também foram, o que achei muito legal.” 

"MINHA IRMÃ E EU"
(Brasil, 2023, 112 min.) Direção: Susana Garcia. Com Ingrid Guimarães, Tatá Werneck e Arlete Salles. Em cartaz nas redes Cineart, Cinemark e Cinépolis.


* O repórter viajou a convite da Paris Filmes

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