Beatriz Oliveira vive Bel em

Beatriz Oliveira vive Bel em "Lapso", que aborda vivências dos surdos e da juventude negra

crédito: Nathalia Cordeiro/divulgação

O curta-metragem mineiro “Lapso”, dirigido por Caroline Cavalcanti, estará na Mostra Competitiva Generation do 74º Festival Internacional de Cinema de Berlim, que será entre 15 e 25 de fevereiro. O filme já conquistou o Prêmio Canal Brasil de Melhor Curta no 34º Festival Internacional de Curtas de São Paulo e teve repercussão positiva entre público e crítica em diferentes festivais brasileiros. 

“Lapso” tem como cenário o Centro e a periferia de Belo Horizonte, trazendo como protagonista Bel, uma adolescente surda interpretada por Beatriz Oliveira. 

“Escrevi o roteiro em 2021 a partir das provocações do laboratório NPA de Curitiba, do qual participei. Sou uma pessoa com deficiência auditiva, tenho parte da audição comprometida. Isso me causou um certo desejo de descobrir quais são essas dificuldades, barreiras e obstáculos, o que me fez me aproximar da comunidade surda e desenvolver trabalhos com eles. Então surgiu a vontade de desenvolver um roteiro que passasse por esse lugar”, conta a diretora e roteirista Caroline Cavalcanti. 

No curta, os adolescentes Bel e Juliano se encontram após serem detidos por atos de vandalismo e passam a cumprir medidas socioeducativas em uma biblioteca pública. O filme se desenvolve através de diários em áudio compartilhados por Juliano, nos quais ele expressa seus sentimentos e dúvidas, buscando um propósito na vida. 

Também atriz, Caroline Cavalcanti iniciou sua carreira no teatro. A diretora e roteirista é conhecida por projetos como a websérie “Absurdas”, indicada a melhor ideia original pelo Rio Webfest, e o curta “Tinnitus”, exibido em diversos festivais. Está desenvolvendo seu primeiro longa. PcD auditiva, há cinco anos tem experimentado novas relações com o som. 

“Lapso” evidencia duas temáticas relevantes na atualidade, mas pouco discutidas pelo cinema contemporâneo: as experiências das juventudes negras e das pessoas surdas. Por isso, para Caroline, era fundamental a protagonista ser interpretada por uma atriz surda. 

“Encontrar uma equipe que fosse bem diversa e com a inclusão bem estabelecida era irredutível”, diz. “Somos seis pessoas com deficiência auditiva: eu, como diretora e roteirista, as duas atrizes (Thayanne Lima e Beatriz Oliveira), o assistente de arte (Jessé Barbosa), o assistente de produção (Hélio Alves) e a consultora de inclusão e libras (Michelle Murta)”, afirma. 

“Não faz sentido chamar uma pessoa sem deficiência auditiva para fazer o papel de uma pessoa com deficiência. Beatriz veio de São Paulo para gravar o filme”, detalha Caroline. 

Afeto e resistência 

No enredo de “Lapso”, o espectador é imerso na vida desafiadora de Bel e Juliano, adolescentes que, apesar de enfrentarem obstáculos distintos, encontram uma conexão profunda através do afeto e da resistência. 

Enquanto a menina lida com os desafios de sua deficiência auditiva, utilizando a língua de sinais como meio de comunicação, o garoto encara as complexidades de ser um jovem negro na periferia de Belo Horizonte. 

Para Caroline, o filme convida a explorar as nuances dessas identidades, propondo reflexões sobre como a solidariedade e a compreensão mútua podem superar barreiras e construir laços em meio a adversidades impostas por desafios sociais. 

“A gente não quis trazer a surdez como tema central. Foi algo de que tentamos fugir. O que trouxemos foi uma pessoa com deficiência vivendo a vida dela. Era importante trazer essa coisa mais sutil de pessoas com deficiência fazendo coisas a que já estão acostumadas, e não sendo colocadas no lugar de vítima nem de denúncia. Quisemos trazer o lugar da representatividade na vida cotidiana”, conclui. 

“LAPSO”


Primeira exibição para o público na 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Sessão em 21 de janeiro, às 16h30, no Cine Tenda.