A cozinheira Mary (Da'Vine Joy Randolph) apazigua os ânimos entre o turrão Hunman (Paul Giamatti) e o rebelde Angus (Dominic Sessa) -  (crédito: Universal Pictures/divulgação)

A cozinheira Mary (Da'Vine Joy Randolph) apazigua os ânimos entre o turrão Hunman (Paul Giamatti) e o rebelde Angus (Dominic Sessa)

crédito: Universal Pictures/divulgação

 “Os rejeitados”, dirigido por Alexander Payne, estreia nesta quinta-feira (11/1) no circuito comercial brasileiro credenciado por dois prêmios no Globo de Ouro, entregues no último domingo. Paul Giamatti levou o troféu de melhor ator em filme de comédia/musical, enquanto Da'Vine Joy Randolph foi a melhor atriz coadjuvante nesta categoria. Cotadas para o Oscar, as atuações são um dos pontos altos deste longa lançado em outubro nos EUA. 

Vale dizer, antes de mais nada, que comédia e drama se equilibram em igual medida na história do sistemático e turrão professor Paul Hunman (Giamatti) e de seu aluno Angus Tully (Dominic Sessa). O cinema norte-americano mantém a tradição de filmes natalinos, que transitam entre os dois gêneros e quase sempre derrapam na pieguice. Não é o caso de “Os rejeitados”, apesar de ter como pano de fundo as festas de fim de ano e sua simbologia explorada à exaustão. 

Trata-se de um filme cativante, que emociona sem apelar para o sentimentalismo barato. Payne não evita clichês – a vida no internato estudantil, a relação conflituosa entre professor e aluno, as reverberações da guerra do Vietnã nos anos 1970 –, mas surfa entre eles com elegância. 

 

O personagem de Giamatti é rejeitado por todos – professores e estudantes – da tradicional Barton Academy, em Massachusetts, onde leciona desde sempre. Rabugento, severo, autoritário, intransigente e em boa medida hipócrita (o que se revelará no decorrer da trama), ele não se condói em distribuir notas baixas e reprovar alunos, inclusive o filho de um mecenas da escola, o que lhe vale uma “punição”. 

O castigo de Hunman é permanecer na Barton Academy nas férias, tomando conta de alunos que não vão passar o Natal com a família. A tarefa não lhe desagrada completamente, pois, com sua personalidade algo misantrópica, o local de trabalho acaba por ser uma espécie de refúgio. 

Angus Tully recebe, na véspera do Natal, o telefonema da mãe avisando que não o quer em casa durante as férias, pois pretende passar a “lua de mel” com o homem que conheceu recentemente. Assim, o rapaz ingressa no grupo sob a tutela de Hunman, formado por mais quatro alunos. O pai rico de um dos jovens resolve, de última hora, buscá-lo de helicóptero, e os outros três vão junto, restando apenas Tully na escola.

 


Bom garoto

O personagem de Dominic Sessa é apresentado como adolescente rebelde, problemático e expulso de outras duas escolas, mas não é isso o que o se vê na tela. Durante todo o filme, o bom garoto – sagaz, irônico, mas essencialmente um bom garoto – sofre com os problemas familiares e a iminência de ser enviado para um colégio militar caso seja expulso novamente. Tully exige menos em termos de atuação, porque não sofre grandes mudanças ao longo da trama. 

O arco dramático da transformação está no professor Hunman e se dá totalmente pela convivência dele, a princípio espinhosa, com o estudante e com Mary Lamb (Da'Vine Joy Randolph), cozinheira da escola que perdeu o filho de 19 anos, morto no Vietnã. Uma espécie de mediadora entre os dois, Mary é a única pessoa com quem Hunman tem relação amistosa no trabalho. 

O trio está confinado na escola, o clima é de tensão. O embate entre professor e aluno vai ficando cada vez mais áspero, até Tully desafiar abertamente Hunman. A partir daí, o longa ganha leveza, abrindo espaço para o humor pontual e muito eficiente. 

“Os rejeitados” tem história simples e bem contada. Esse é um mérito do diretor: por meio dos clichês de que dispõe, Alexander Payne consegue conduzir os sentimentos do espectador com bons artifícios e sem pesar a mão. 

O ambiente um tanto quanto claustrofóbico da Barton Academy dá lugar a outras paisagens, caminho de expansão e abertura que o filme percorre, sobretudo no que diz respeito aos sentimentos dos personagens. 

Outro destaque é a meticulosa reconstituição de época das locações, vestuário, cenários, objetos, modos dos personagens e até da paleta de cores. Parece, de fato, um filme dos anos 1970. A trilha sonora se casa com o que é mostrado na tela. Tais quesitos técnicos se somam ao bom trabalho do elenco e à condução precisa de uma história trivial – previsível até –, mas sedutora pelo que guarda sob sua superfície prosaica.

 

“OS REJEITADOS”

EUA, 2023. Direção de Alexander Payne. Com Paul Giamatti, Da'Vine Joy Randolph e Dominic Sessa. Estreia nesta quinta-feira (11/1) na Sala 1 do UNA Cine Belas Artes, às 13h50, 16h20 e 20h30; Ponteio 2, às 21h30 (exceto ter.); Ponteio 3, às 16h20; e Centro Cultural Unimed-BH Minas, às 18h30