Primeira-dama da violenta tríade, Eileen (Michelle Yeoh) é mãe coruja do caçula Bruce (Sam Song Li) -  (crédito: Netflix/divulgação)

Primeira-dama da violenta tríade, Eileen (Michelle Yeoh) é mãe coruja do caçula Bruce (Sam Song Li)

crédito: Netflix/divulgação

No Japão, Yakuza. Na Itália, Máfia. Na China, Tríade. Esta última é a menos conhecida, pelo menos neste quinhão do mundo ocidental. Mas das organizações criminosas mundiais é a mais antiga, remontando à primeira metade do século 17. Mesmo com as mudanças ao longo dos séculos, a tríade mantém-se, ainda hoje, como sociedade secreta – nem todos os integrantes são ligados ao crime. É fortíssima em Taiwan. 

Isso tudo é para falar que ouviremos muito o termo tríade ao longo dos oito episódios da série “Irmãos Sun”, uma das boas novidades da Netflix neste início de ano. A produção é norte-americana, mas falada em inglês e mandarim, rodada entre Los Angeles e Taipei (capital de Taiwan) e com dois criadores: um americano (Brad Falchuk, colaborador frequente de Ryan Murphy) e um asiático de ascendência chinesa (Byron Wu, autor estreante). 

A maior atração desta série que versa sobre crimes, pródiga nas sequências de luta, é mulher. Não qualquer uma, mas a malaia Michelle Yeoh, de 61 anos, que em 2023 se tornou a primeira asiática a vencer o Oscar de melhor atriz (pelo filme “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”). 

Em “Irmãos Sun”, ela é a enfermeira Eileen Sun, que vive com o filho Bruce (Sam Song Li) em uma casa simples de subúrbio em Los Angeles. Trabalhadora e delicada, diverte-se jogando mahjong enquanto fofoca com as amigas. Bruce é sua paixão, e ela sonha em vê-lo formado em medicina. 

Não tardaremos a descobrir que tudo é fachada. Eileen não está em Los Angeles à toa. Ela é a mulher de Big Sun (Johnny Kou), o chefão da Dragões de Jade, a mais poderosa facção criminosa de Taiwan. 

 

Emboscada em Taipei

A história tem início com o primogênito dos Sun. Em um apartamento de luxo de Taipei, Charles (Justin Chien) se dedica à produção de bolos com esmero de chef. É interrompido com a chegada de assassinos mascarados. Em alguns minutos, trucida o grupo. Logo depois, Big Sun chega com sua trupe para ver o estrago. Era uma emboscada – o lendário chefe da Tríade é alvejado, ficando entre a vida e a morte. 

Para proteger a mãe e o irmão, Charles parte para Los Angeles. É aí que a coisa fica mais interessante. Meio infantil, Bruce gastou o dinheiro da faculdade em um curso de improvisação escondido da mãe, e mal se lembra de Charles. Na verdade, não sabe que o clã é criminoso. “Por que de repente estou em uma família onde partes de corpos estão sendo colocadas em carros?”, comenta. 

O embate entre o primogênito assassino, conhecido como Perna de Cadeira (sua primeira morte, aos 14, foi com o uso do objeto), e o caçula mimado garante boas situações. Em ritmo acelerado e repleta de cenas inventivas de combate corpo a corpo, a série vai montando seu quebra-cabeças oscilando entre a comédia de ação e o drama. 

Há muitas observações ácidas sobre a cultura asiática – e a diferença entre cada uma nos leva a ver para além dos estereótipos. A cada episódio, novo grupo de personagens aparece, fazendo a teia ficar um pouco confusa na segunda metade da série. 

Quem consegue unir a trama e levar “Irmãos Sun” para outro patamar é justamente a Eileen de Michelle Yeoh. Se no início ficamos mais ligados na dinâmica entre os irmãos, a partir de certo ponto a personagem, também chamada de Mama Sun, mostra realmente a que veio. Para proteger a prole, ela é capaz de tudo. E a atriz exibe, com graça, os diferentes lados da mama chinesa – seja fazendo o jantar, seja usando a furadeira em um cadáver. 

 

“IRMÃOS SUN”

A série, em oito episódios, está disponível na Netflix