O ator Maurício Machado é o companheiro de cena de Osmar Prado, que está de volta aos palcos como o cruel e manipulador Marquês -  (crédito: Priscila Prade/divulgação)

O ator Maurício Machado é o companheiro de cena de Osmar Prado, que está de volta aos palcos como o cruel e manipulador Marquês

crédito: Priscila Prade/divulgação

“Não se pode contrariar os deuses do teatro. Eles são generosos, mas também vingativos”, costuma dizer Juca de Oliveira. O aviso do colega passou pela cabeça de Osmar Prado ao ser convidado para estrelar “O veneno do teatro”, que cumpre curta temporada hoje e domingo (13 e 14/1), no Cine Theatro Brasil Vallourec. A peça faz sua pré-estreia em BH antes de iniciar a turnê pelo Brasil.

“Com o fim da novela ‘Pantanal’, em 2022, saí da Rede Globo e fui convidado para fazer esse espetáculo. Senti que o convite vinha dos deuses do teatro, através do diretor Eduardo Figueiredo. Não poderia recusar, porque eles são vingativos, né?”, diz Osmar, em tom de brincadeira.

 

Osmar Prado como Velho do Rio, na novela Pantanal

Último papel de Osmar Prado na TV foi como Velho do Rio, no remake da novela "Pantanal" exibido pela Globo

Estevam Avellar/Globo/divulgação

 

Escrita pelo espanhol Rodolf Sirera, “O veneno do teatro” marca a volta do ator ao palco depois de quase uma década. A última montagem de que participou foi o musical “Barbaridade”, encenado em 2015 no Rio de Janeiro e em São Paulo. Depois, engatou projetos na TV, atuando em novelas, séries e na sitcom “Os Trapalhões”.

 

Voltar ao teatro não significa retorno às origens. Osmar estreou como ator na extinta TV Paulista, aos 10 anos, no elenco da novela “David Copperfield”, adaptação do livro de Charles Dickens (1812-1870). Depois de integrar o elenco infantojuvenil da emissora por quase uma década, foi para a Globo participar do folhetim “Ilusões perdidas” (1965). Migrou para a TV Excelsior em 1968 e voltou para a Globo, onde fez cerca de 50 novelas até 2022.

“O teatro tem algo de diferente”, afirma. “Não é repetição fria do espetáculo. Ele é emoção, sentimento e, acima de tudo, o prazer de transgredir as normas estabelecidas. Nós deveríamos experimentar no palco todo o nosso sofrimento, toda a nossa angústia, todos os nossos mais íntimos desejos e temores”, emenda.

Reflexões sobre o teatro

Osmar empresta toda essa carga emocional ao Marquês, seu personagem em “O veneno do teatro”. Intelectual excêntrico, poderoso, apaixonado pelas artes cênicas e extremamente cruel, Marquês atrai um jovem ator (papel de Maurício Machado) à sua casa, sob pretexto de financiar uma peça estrelada pelo rapaz. O convidado se vê impelido a participar do jogo mental com o anfitrião que pode lhe custar a vida.

Trata-se de um thriller psicológico sobre o papel do teatro no próprio teatro – e do teatro na vida real. O mais importante da trama são os questionamentos do Marquês e do jovem ator durante o embate mental travado por eles. 

Reflexões sobre ética, convenções sociais, liberdade do artista e sua submissão ao poder descortinam o caráter nada santo dos personagens – não apenas do Marquês, que, numa primeira leitura, pode tranquilamente ser encaixado como o vilão.

“Nós, seres humanos, somos maus como um todo”, sentencia Osmar. Fazendo suas as palavras do Marquês, afirma, sem titubear: “Somos piores do que os mais cruéis animais que habitam as florestas”.

“O Marquês tem suas maldades, claro. Porém, ao invés de ser mau por natureza – não podemos ir por esse caminho, senão a gente vai para o rótulo –, ele joga na cara das pessoas aquilo que elas realmente são dentro do contexto social”, explica o ator.

“O veneno do teatro” se apresenta como um jogo de espelhos e imagens distorcidas. Talvez seja a forma de Sirera criticar a ditadura franquista espanhola. Afinal, a peça foi escrita em 1978, apenas três anos após o fim do governo de Francisco Franco, que durou de 1939 a 1975.

“A peça foi escrita na ditadura do Franco na Espanha, onde (Federico) García Lorca foi cruelmente assassinado e houve tantas outras aberrações antes da redemocratização. Quase 50 anos depois, o que é posto em xeque pelo texto é o poder exacerbado, o poder que seleciona uma certa casta de privilegiados. Isto é o nazismo. Isto é o fascismo”, afirma Osmar Prado.

 

Atores Maurício Machado e Flávia Rubim na novela Cordel Encantado

Maurício Machado, como Silvério, e Flávia Rubim, a Filó, em "Cordel encantado", novela da Globo que estreou em 2011

Estevam Avellar/Globo/divulgação

 

Química

Os dois atores nunca trabalharam juntos. Osmar e Maurício integraram o elenco da novela “Cordel encantado” (2011), da Globo, mas não contracenaram, pois faziam parte de núcleos diferentes.

“Logo na primeira leitura, sentimos que havia uma certa identificação entre a gente. Sem essa química, não há a menor possibilidade de fazer a peça”, diz Osmar. “Os dois atores precisam estar irmanados no mesmo objetivo, confiando um no outro. É como se fôssemos dois jogadores de futebol fazendo a dupla de ataque: um não precisa nem olhar para saber onde o outro está, já toca a bola na cara do gol.”

 

“O VENENO DO TEATRO”


Texto de Rodolfo Sirera. Direção: Eduardo Figueiredo. Com Osmar Prado e Maurício Machado. Neste sábado (13/1), às 21h, e amanhã (14/1), às 19h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, Centro). Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), na bilheteria ou pelo site cinetheatrobrasil.com.br. Informações: (31) 3201-5211.