Seu Franco, homem trans de 67 anos, acredita que série vai ajudar as pessoas a compreenderem a população LGBT+  -  (crédito: Colabora/divulgação)

Seu Franco, homem trans de 67 anos, acredita que série vai ajudar a sociedade a compreender a população LGBT

crédito: Colabora/divulgação

Está no ar a terceira temporada da premiada websérie “LGBT+60: Corpos que resistem”, que já bateu 2 milhões de visualizações em plataformas digitais. Comoventes narrativas de cinco brasileiros LGBT+ desafiam estereótipos para defender a diversidade na terceira idade. Histórias de amor, orgulho, superação e resistência ressignificam a experiência LGBT+ na maturidade.

 

O diretor Yuri Alves Fernandes, jornalista de Ipatinga, lançou a websérie por meio da plataforma de jornalismo independente #colabora. Os cinco novos episódios podem ser conferidos no canal da #colabora no YouTube.

 

“Eu não via muitos conteúdos sobre velhice LGBT na mídia. Até cheguei a ver algumas reportagens, mas eram poucas. Então, pensei: bom, aqui tem um assunto sobre o qual a gente precisa jogar luz”, conta Yuri Fernandes. “Ao lado pessoal, como homem gay, soma-se o fato de que pessoas LGBT+ não têm muita representatividade na velhice. Se a gente não consegue se ver na terceira idade, como vamos conseguir imaginá-la?”.

 


João Nery, a referência

 

A websérie reitera os direitos de parte da população relegada ao envelhecimento. Foram entrevistados a ativista Denise Taynáh Leite, de 74 anos; o jornalista Márcio Guerra, de 63; a influenciadora Ana Carolina Apocalypse, de 65; a drag queen Luiza Gasparelly, de 60; e seu Franco, de 67.

 

“Tive a ideia e depois procurei os personagens. O único que desde o início já tinha a certeza de que queria entrevistar é o João Nery, homem trans que era conhecido na mídia. Inclusive, foi a última entrevista dele, que faleceu logo depois do lançamento da primeira temporada”, conta Yuri.

 

O etarismo é um dos preconceitos mais fortes enfrentados pela comunidade LGBT+. Isso ocorre devido à falta de representatividade, que acaba levando ao afastamento dos mais jovens em relação aos mais velhos, adverte Yuri Fernandes.

 

A influenciadora Ana Carolina Apocalypse

A influenciadora Ana Carolina Apocalypse, que completou 65 anos

Colabora/divulgação

 

Seu Franco é homem trans negro de 67 anos nascido em Porto Alegre. Saiu de casa aos 13 para morar nas ruas porque não era aceito. Aos 17, começou a tomar consciência de sua identidade de gênero, mas demorou anos para se compreender e se aceitar como trans masculino. Contribuiu para isso a entrevista na TV de João Nery, convidado da primeira temporada de “LGBT+60”.

 

“A equipe chegou a mim através da doutora Daniela Cornélio, que fez minha cirurgia, processo muito bacana. Foi muito importante contar um pouco da minha história, e acho que vai ser importante para as outras pessoas saber tudo o que passei até chegar aqui. Independente da idade, não podemos nunca desistir dos nossos sonhos”, afirma seu Franco, protagonista do quarto episódio da nova temporada.

 

Yuri ressalta a importância do entrevistado gaúcho. “A história dele vai ser conhecida e vai revolucionar muito, porque temos poucos homens trans idosos falando sobre isso no Brasil. Ele será fonte de inspiração e de força para muitos jovens”, acredita.

 

“Espero que a série chegue em muitas pessoas. Quem não é do nosso meio de repente vai assistir e procurar entender mais a gente. Para os nossos, quero dizer que não deixem de viver, a vida é maravilhosa”, diz seu Franco.

 

A terceira rodada está no ar, mas a história não acaba por aí. “Um desejo é explorar mais o Brasil, ter personagens de fora da Região Sudeste. Até hoje, a gente teve o seu Franco, do Sul, e a Martinha, personagem incrível da primeira temporada que morava na Bahia. Quero explorar mais o Nordeste, o Norte, o Centro-oeste, conhecer outros contextos. Quem sabe para a quarta temporada?”, conclui Yuri Fernandes.

Prêmios

Desde a estreia, em 2018, a websérie vem conquistando prêmios. Os mais recentes foram os de melhor roteiro e melhor direção no Rio Webfest 2023, maior festival de webséries do mundo. “LGBT+60” ganhou o Prêmio Longevidade Bradesco Seguros, na categoria jornalismo web (2019), e o 20º Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade LGBT+, na categoria audiovisual e artes cênicas (2021), além de menção honrosa na Mostra Cine Diversidade, no Rio de Janeiro, em 2021.

 

“LGBT+60: CORPOS QUE RESISTEM”


Direção: Yuri Alves Fernandes. Terceira temporada, com cinco episódios. Websérie disponível no YouTube