Criado em 2015 pelos instrumentistas, compositores e empresários Carol Figueiredo e Dan Oliveira, o Música aos Montes (MaM) iniciou sua trajetória como estúdio e produtora. Durante a pandemia, em 2021, Carol notou déficit na cena musical mineira. Foi assim que nasceu o selo cujo nome remete aos morros em volta de Belo Horizonte e de Montes Claros, a cidade natal de Dan.
Voltado para a gestão de artistas iniciantes, o MaM atua nas áreas de produção, lançamento, distribuição digital, planejamento, marketing, produção audiovisual e divulgação na imprensa.
Instalado no bairro Esplanada, na Região Leste de BH, o selo conta com quatro estúdios. A proposta é lapidar artistas ligados à MPB e ao jazz. Cantora, compositora, professora e diretora-executiva do MaM, Carol Figueiredo afirma que há grande efervescência da cena mineira, mas faltam iniciativas na área de gestão.
“Temos artistas extremamente talentosos, mas existem deficiências na parte executiva e mercadológica. A maioria não enxerga que cada artista é uma empresa, e essa empresa precisa administrar, organizar, planejar. Sinto que os artistas daqui acabam ficando no meio das montanhas por falta de organização, de planejamento, de entender que existe, sim, a parte de fazer música boa, mas existe uma outra parte que se não for feita, você não consegue sobreviver de música”, explica.
“A gente pega o artista do zero e cria todo o universo em que ele será divulgado. Entendemos quem é este artista, criamos o conceito de lançamento e estudamos o mercado onde ele vai se lançar”, diz Carol. Em 2023, o selo obteve mais de 1,5 milhão de plays.
Mais contratações
O elenco do Música aos Montes é formado atualmente por Cruvinel, Davi Leão, Flor Grassi e Túlio Dayrell. Em 2024, devem ser contratados Dan Gentil, semifinalista do “The voice Brasil 2020”, e Cebola, contrabaixista da banda Daparte, que pretende investir na carreira solo.
Será aberto o selo A Porta, com o propósito de abraçar rap, pop e rock. A estreia será com o belo-horizontino Tuzin.
Natural de Ituiutaba, João Pedro Cruvinel tem 23 anos. Primeiro integrante do selo, ele soma mais de 900 mil streams no Spotify.
“Em 2020, eu tinha algumas músicas engavetadas, mas sempre com aquele pé atrás para lançar. O primeiro contato com a Carol e o Dan foi supermassa. No final de 2022, a gente começou um projeto mais extenso, a produção do meu álbum, e foi aí que entrei para o selo”, conta. “Absorvendo tudo”, disco de estreia de Cruvinel, saiu em novembro de 2023.
Estreia aos 12
Davi Leão, de 20, iniciou a carreira cedo, aos 12. Filho de músicos amadores, fez parte da banda Poison Gas, formada por adolescentes que se apresentaram no Planeta Brasil e até mesmo na Inglaterra, no International Beatle Week.
A carreira solo de Davi começou em 2022. O EP “Villa Rica”, com cinco faixas autorais, foi lançado em 2023, com show realizado na quinta-feira passada (18/1), no Teatro de Bolso Sesiminas.
A carioca Flor Grassi é a mais jovem. Com 19 anos, ela diz se inspirar em Marisa Monte e acaba de ingressar na carreira artística depois de passar três anos estudando teatro musical em Nova York. Seu primeiro single é “Saudade invade”.
Embora os três sejam artistas solo, o processo criativo de Flor, Davi e Cruvinel é coletivo. Por meio de encontros nos estúdios do MaM, eles se tornaram amigos. Juntos, compõem e arranjam grande parte das músicas lançadas pelo selo.
“Composição parece ser uma coisa tão pessoal... Você pode escrever sobre tanta coisa quando a gente senta lá juntos e ‘pira o cabeção’. A partir disso, sai muita coisa massa”, brinca Cruvinel.
“A gente criou uma relação quase de família. Nossa rotina é compor pensando em para quem vão as letras. Estamos juntos nessa, dando pitaco na música um do outro, vendo o que é melhor. É assim que funciona”, explica Flor Grassi.
Davi Leão acredita que a união é o diferencial do MaM. “Artistas que não só estejam juntos, mas componham juntos, toquem nos shows uns dos outros. Essa é a interação que eu acharia muito bonita se rolasse de maneira geral na cena da cidade. Sinto que os artistas são unidos de um jeito muito fragmentado. O MaM tem o potencial de agregar muito bem a cena que existe, está crescendo e promete muitas coisas legais daqui para a frente”, observa.
Sem espaço
De acordo com o trio, o maior obstáculo na cena autoral de BH é a falta de espaço, tanto físico quanto de divulgação. A cantora Flor Grassi diz que por ser mulher, os desafios são ainda maiores.
“A gente é muito pouco respeitada nessa indústria, principalmente por contratantes e por pessoas que nos veem 'de cima'. Por ser mulher e muito nova, percebo que somos vistas como entretenimento raso, para preencher buracos entre atrações tidas como principais”, reclama,
Quem optar pela música autoral terá de lutar por espaço. “Eles não querem saber de música autoral, não querem que a gente cante MPB. Querem ouvir um pop ou colocar DJ no horário que seria o nosso. Com isso, nós tocamos antes, naquela hora em que praticamente ninguém chegou. Falta espaço para a gente ser vista de verdade, principalmente as mulheres”, conclui Flor.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria