Galerias do CCBB remetem ao barraco de Antônio Roseno de lima, entre pinturas, penumbra e a luz dos lampiÕes
 -  (crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Galerias do CCBB remetem ao barraco de Antônio Roseno de lima, entre pinturas, penumbra e a luz dos lampiÕes

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press

Materiais precários, a maioria encontrada no lixo, fazem parte das pinturas de Antônio Roseno de Lima que ficarão expostas a partir desta quarta-feira (24/1), no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), na Praça da Liberdade.

 

Nascido no Rio Grande do Norte, A. R. L, como ficou conhecido, ele se mudou para São Paulo buscando melhores condições de vida, assim como tantos brasileiros. Morou na favela Três Marias, em Campinas (SP), até morrer, em junho de 1998. Trabalhava como fotógrafo e vendia doces para se sustentar. No barraco, pintava sobre a mesa na qual comia e contava seu dinheiro.

 

“Conheci o trabalho do Roseno em uma exposição de arte coletiva. Fui atrás dele e me apaixonei por sua obra. Perguntei se venderia para mim, e ele disse que sim, já eram quase 30 anos produzindo, mas ninguém nunca havia comprado nada. Pouco a pouco, fui comprando sua produção e nos tornamos grandes amigos”, conta o curador Geraldo Porto, professor doutor do Instituto de Artes da Unicamp.

 


Frases e bilhetes

 

Cores fortes e chapadas, traços e contornos grossos retratam temas do cotidiano de Roseno, cujas pinturas trazem frases autoafirmativas – “Sou um homem muito inteligente” e “Queria ser um passarinho para conhecer o mundo inteiro!”, por exemplo.

 

No verso dos quadros, Roseno anexava um pequeno bilhete, no qual informava sobre materiais, processo de criação, execução e conservação. “Quem pegar esse desenho guarda com carinho. Pode lavar. Só não pode arranhar. Fica para filhos e netos. Tendo zelo atura meio século”, recomenda num deles.

 

No CCBB, as pinturas estão dispostas de forma que os bilhetes possam ser lidos pelo público, evidenciando o cuidado do autor com sua própria obra e a esperança de que ela fosse além de sua própria vida.

 

Galerias escuras, à luz de lampião, transportam o visitante para a atmosfera do barraco de A.R.L. “Esta exposição no CCBB é a realização de um sonho. É muito importante para um artista brasileiro como o Roseno chegar até aqui, ter esse nível de reconhecimento nacional”, afirma o curador Geraldo Porto.

 

Roseno obteve algum reconhecimento, principalmente em São Paulo, a partir de seu encontro com Porto. Passou a participar de exposições que lhe permitiram viver seus últimos anos de forma mais confortável. A primeira mostra individual dele ocorreu em 1991, na Casa Triângulo, na capital paulista.

 

“A ideia de vida e obra é muito importante nesta exposição. Uma pessoa pode vir aqui e achar, de repente, que o trabalho não tem mérito, não é bonito, mas a partir do momento em que conhece a história dele, tudo muda. A curadoria é afetiva, por conta da relação dos dois. Roseno e Geraldo foram amigos até a morte do Roseno”, afirma Maíra Castelões Gama, produtora da mostra.


“A.R.L. VIDA E OBRA”


Pinturas de Antônio Roseno de Lima. Desta quarta-feira (24/1) até 18 de março, nas galerias do térreo do Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Abre de quarta a segunda-feira, das 10h às 22h. Entrada franca. Informações: (31) 3431-9400.