Depois de 2023 frustrar expectativas em relação à efetivação de políticas públicas em âmbito federal para o livro, a expectativa é de que em 2024 esse incentivo venha com mais fôlego.

“Na gestão de Lula, houve muitas ações nessa área. Mas elas foram interrompidas no governo passado”, afirma o escritor Rogério Pereira, editor do jornal Rascunho, especializado em literatura.

 “Quem trabalha com livro e leitura acreditava que, no primeiro ano do governo Lula, as ações seriam retomadas com mais força. Afinal, existe uma Secretaria de Formação, Livro e Leitura ligada ao Ministério da Cultura. Mas não foi o que aconteceu”, comenta.

Pereira defende ações em diferentes frentes para fomentar tanto a produção nacional quanto o interesse pela leitura. Pesquisa da Câmara Brasileira do Livro apontou que apenas 16% da população acima de 18 anos comprou ao menos um livro ao longo de 2023, o que corresponde a 25 milhões de brasileiros.

“Se há incentivo do governo à leitura e à literatura, isso influencia todos os cenários, seja na esfera estadual ou municipal”, diz Rogério.



Editoras apostam em novidades para atrair o público. “Temos a expectativa de que 2024 será melhor, porque será um ano muito forte em termos de lançamentos”, afirma o diretor editorial do grupo Record, Cassiano Elek Machado.

 

Cassiano Elek Machado, diretor do Grupo Record, afirma que livros autobiográficos e o gênero young adult continuarão em alta neste novo ano

Mariana Vieira Elek/divulgação

 

“Ano passado foi bom para a gente, mas tivemos uma soma de fatores que nos ajudaram. Um deles é o sucesso da Colleen Hoover, que foge de qualquer parâmetro normal. Os outros são a manutenção de um catálogo sólido e o investimento na literatura jovem pelo selo Galera”, informa Machado.

O grupo Record foi o mais bem sucedido do país em 2023, em termos de comercialização. Levantamento da Amazon aponta que dos 10 livros mais vendidos no ano, seis eram da empresa: “É assim que começa”, “É assim que acaba”, “Verity” e “Todas as suas (im)perfeições”, da norte-americana Colleen Hoover; “A biblioteca da meia-noite”, do britânico Matt Haig; e “Tudo é rio”, da mineira Carla Madeira.

Na lista do PublishNews, dos oito títulos mais vendidos, metade é da empresa: “É assim que acaba”, “É assim que começa”, “A biblioteca da meia-noite” e “Tudo é rio”.

Jovens adultos 

A literatura jovem – ou “young adult” – deve continuar em alta em 2024, aponta Elek Machado. Assim como as obras de teor autobiográfico.

“Uma marca muito grande de 2023 foi a autoficção”, destaca o jornalista e escritor José Eduardo Gonçalves, idealizador do projeto Letra em Cena, realizado em BH. “Nos romances e ensaios, houve presença muito grande da história pessoal do autor. São memórias e histórias de família desenvolvidas em livro. Em alguns casos, esteve muito presente a questão do luto”, acrescenta, citando títulos de Jacques Fux e Natália Timerman.

Felipe Charbel, por exemplo, partiu das memórias do tio-avô para escrever “Saia da frente do meu sol” (Autêntica Contemporânea), definido por ele como “biografia especulativa”.

Por sua vez, Maurício de Almeida, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura (2007) e do Prêmio São Paulo (2017), reuniu, em “Equatoriais” (Maralto), contos com personagens ligados a aspectos que o mobilizam, “mas experiências que em nada me dizem respeito”. Para ele, o romance deve dar as cartas neste 2024.

 “Acredito que ainda haverá a predominância dos romances. Com as redes sociais e plataformas digitais que vendem livros, as coisas se horizontalizaram. Tem mais espaço para novos autores e novas obras. Infelizmente, ainda é o romance que dá as cartas – digo infelizmente porque gostaria que o cenário fosse mais diversificado”, afirma Maurício.

Esta tendência é “até meio estranha”, aponta o escritor. “Cada vez mais, estamos vivendo em um mundo dinâmico e imediatista. Era para crônicas e contos serem os preferidos, afinal são menores”. 

Autores negros 

O ano que terminou trouxe surpresas. “Quem imaginaria que o Stênio Gardel ganharia o National Book Awards em literatura traduzida?”, afirma Afonso Borges, idealizador dos festivais de literatura de Araxá, Itabira e Paracatu.

“Em 2023, também tivemos a ascensão e valorização de autores como a Eliane Alves Cruz e outros escritores negros. Isso começou a ganhar força no ano passado e tende a se perpetuar por muito tempo”, acrescenta.

 “Se pudesse expressar meu desejo para 2024, pediria para que revistas especializadas fizessem as listas de mais vendidos separando autores brasileiros dos estrangeiros. Tem muito livro nacional bom que não entra nas listas por absoluta inércia do mercado editorial, que sobrepõe os autores internacionais”, afirma Borges. 

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