É difícil contar o número de vezes que Slash tocou no Brasil. A mais recente foi há pouco mais de um ano, Belo Horizonte incluída, na passagem do Guns N’Roses pelo país – muito celebrada, por sinal, já que desde 2016 o guitarrista, de 58 anos, e o baixista Duff McKagan voltaram às boas com a banda de Axl Rose. BH volta a recebê-lo, em outra situação. 

Em 2012, ele montou um projeto paralelo – Slash Featuring Myles Kennedy and The Conspirators – que ganhou voo próprio. Já foram quatro álbuns, todos seguidos de turnês. O mais recente, “4” (2022), é o motivo de Slash iniciar este 2024 na América Latina – serão 10 cidades de seis países entre janeiro e fevereiro. A temporada brasileira começa por BH, no próximo dia 29, no Arena Hall. 

Em entrevista ao Estado de Minas, Slash fala do processo de gravação de “4”, da relação com Myles Kennedy e os Conspirators e de sua coleção de guitarras. A outra banda não é citada em momento algum – não falar sobre os Guns N’Roses foi condição sine qua non para a realização da entrevista. 


A maioria de seus discos foi gravada na Califórnia. “4” foi gravado em Nashville, com todos tocando juntos. Foi a grande diferença?
Tivemos inclusive um produtor diferente (Dave Cobb, vencedor de vários Grammy e conhecido por produzir álbuns de rock e country) em um grande e antigo estúdio (o histórico RCA Studio A). Mas a maior diferença entre este disco e o anterior é que foi gravado totalmente ao vivo em uma sala. Foi algo que nunca tinha conseguido fazer em toda a minha carreira, foi como se estivéssemos tocando em um clube. Contratei Dave Cobb depois que ele me disse que gostaria de fazer um disco como Glyn Johns, que foi engenheiro do Led Zeppelin, The Who. Naquela época, ele gravou tudo ao vivo. Isso foi a grande diferença. Bem, e a COVID depois de cinco dias juntos. 

Você e Myles Kennedy estão juntos desde 2010, certo?
Começamos no álbum “Slash”, em que convidei vocalistas diferentes. Ele cantou duas músicas e quando tudo acabou perguntei se queria fazer a turnê daquele álbum. Ele foi tão incrível no estúdio que achei que seria capaz de cantar todo o material. Myles assinou contrato para aquele projeto e depois me apresentou Todd Kerns (baixista). Achei os caras ótimos e vi que deveria gravar um disco com eles. Foi daí que surgiu o “Apocalyptic love” (2012, o primeiro álbum dele com Myles Kennedy and The Conspirators). 

É fácil trabalhar com Myles e os Conspirators?

Sim, é realmente um processo simples. Eu apenas escrevo o que quer que seja. Quando acho que é bom o suficiente, mando para o Myles e ele começa a criar a melodia com uma ideia vocal. Então nós nos reunimos e juntamos tudo. É descontraído e sem estresse. 

Sobre a faixa de abertura de “4”, “The river is rising”: você a considera política?
Não quero colocar palavras na boca do Myles, mas liricamente ela foi inspirada por coisas que estavam acontecendo na época. E ainda estão. Esse clima social e político, você sabe. E ainda estávamos gravando no auge do COVID. Mas não é exatamente o que se chama de mensagem política, é apenas uma espécie de declaração pessoal que tem a política como parte do assunto. 

Já “The path less followed” fala sobre os desafios de ser músico. A música é tão excitante como no passado?
Não acho que a cena musical tem sido como na época em que eu era criança. Nem como o final dos anos 1980 e o início dos 1990, no que me diz respeito. Na época, você tinha bandas surgindo de vários lugares. Aquele clima dos anos 1970, 1980, praticamente desapareceu. Mas não gosto de ficar falando dos velhos tempos e reclamar do hoje. Apenas sigo em frente. 

Mas estar no palco hoje é tão emocionante como já foi?
Estar no palco e tocar diante do público não mudou. Isso tudo ainda é ótimo, tão emocionante quanto já foi. E é por isso que ainda faço o que faço. 

Depois de 40 anos de carreira, você fica nervoso antes de um show?
Ainda sinto frio na barriga antes de começar a tocar. 

Seu lançamento mais recente é o single “Sorry not sorry” (2023), com Demi Lovato.
Foi divertido. Já nos conhecemos há bastante tempo e ela me perguntou se eu colocaria guitarra em uma música que estava regravando. Nunca tinha ouvido “Sorry not sorry” antes, achei muito boa e no final das contas achei uma mistura interessante adicionar guitarra naquela canção pop. 

Mistura, aliás, que você fez muito bem com Michael Jackson. Esta interseção entre o rock e o pop é fácil?
Quando é a combinação certa, funciona. Não dá para apenas dar uma abordagem de rock and roll. A música tem que ter certo tipo de dinâmica. Se for a coisa certa, fica incrível. 

Você já tocou no Brasil várias vezes. Guarda algum momento especial do país?
Há muitos, já que faço turnês no Brasil há muito tempo. Se fosse identificar cada um deles, ficaríamos aqui o dia todo. O que posso dizer é que muito do material que está em “4” foi escrito em diferentes locais da turnê de 2019 (em que tocou em oito cidades). 

Sobre sua incrível coleção de guitarras, quase 400. Quantas você realmente toca?
Agora já são mais de 400. Toco praticamente todas, porque foi essa a única razão pela qual as comprei. Algumas poucas, que são muito raras, comprei para aumentar meu pedigree como colecionador. Mas acho que posso contar nos dedos a quantidade de guitarras que comprei só para guardar. Todo o resto eu uso, mesmo que não seja o tempo todo. Quando compro, é especificamente por causa de um determinado som. E o que acontece é que nunca me livro de nada. 

 

“SLASH FEATURING MYLES KENNEDY AND THE CONSPIRATORS”

Em 29 de janeiro, no Arena Hall (Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi). Abertura dos portões: 19h. Inteira – pista premium: R$ 680; arquibancada: R$ 340. Meia-entrada esgotada para os dois setores. À venda na bilheteria, de quarta a sábado, das 12h às 20h, e na loja Eventim do Shopping 5ª Avenida (Rua Alagoas, 1.314, Savassi), de segunda a sexta, das 10h às 19h, e aos sábados, das 10h às 15h, sem cobrança da taxa. No site eventim.com.br, há cobrança de taxa.

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