A partir desta quinta-feira (11/1), a fachada digital do Espaço do Conhecimento UFMG, na Praça da Liberdade, recebe a exposição “Quando offline”, com exibição de obras realizadas por mulheres cis e trans com trajetória de vida nas ruas, integrantes do Quando Coletivo.
Criado em 2018 no Maria Maria, abrigo mantido pela Prefeitura de Belo Horizonte, o grupo atua de maneira independente, trabalhando diversas questões por meio de experimentações artísticas.
A mostra resulta de laboratórios realizados em espaços públicos da capital, explorando intervenção urbana, colagem, diário de bordo, desenho, arte têxtil, vídeo e deriva, entre outras ações multidisciplinares. Também integram o Quando Coletivo artistas de diversas áreas, como Matheus Couto, que coordena a exposição, e a curadora Chris Tigra.
O ciclo de laboratórios foi iniciado em 2022, ainda no contexto da pandemia, a partir de projeto aprovado em edital de cultura. “São obras feitas em ambientes físicos, intervenções urbanas que depois a gente levou para o digital. Passado o cenário pandêmico, mantivemos essa proposta como forma de tensionar o real e o virtual”, diz a curadora.
Chris cita a obra “Dona Doa”, boneca feita de caixas de papelão com escritos que expressam desejos das mulheres do Quando Coletivo, a partir do mote temático sugerido por uma delas. “Essa mulher preta e trans propôs que a gente trabalhasse a ideia de doação, registrando o que gostaríamos de doar para os outros e para nós mesmas. Fomos para a Praça da Liberdade e construímos a personagem, escrevendo os desejos de doação nas caixas”, explica.
Posteriormente, o trabalho foi levado ao ambiente virtual e ganhou vida em espaços simbólicos do mundo, como a sede da ONU, em Nova York, a Praça São Pedro, no Vaticano, e o Palácio do Planalto, em Brasília. Essa e outras obras serão exibidas diariamente, das 19h às 23h, na fachada digital do Espaço do Conhecimento.
Desconexão total
De acordo com Chris, trata-se de uma outra forma de tensionamento entre o real e o virtual. O título “Quando offline” se relaciona com isso. “Quem passa ou já passou por situação de vida nas ruas sabe que computador e celular não fazem parte do cotidiano. São pessoas offline. Diante disso, fomos buscar o suporte de equipamentos públicos de inclusão digital, como o telecentro do Cresan (Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional), no Mercado da Lagoinha.”
O coletivo acionou o Espaço do Conhecimento para que a exposição fosse realizada lá, no prédio público voltado para a Praça da Liberdade e com acesso gratuito.
“Não precisa estar conectado em nenhum dispositivo para ver (a mostra), o que, de novo, tensiona essa coisa do acesso ao digital”, afirma a curadora. O Quando Coletivo não exige de suas integrantes qualquer aptidão prévia, pois a proposta é valorizar o diálogo, a troca e o imprevisível por meio de atividades que instigam processos criativos.
Chris destaca outras obras, como o conjunto de fotografias que exploram o tom da pele das mãos das integrantes do Quando Coletivo e a série “Seres humanes”, em que um aplicativo do Instagram foi usado para transformar mulheres em figuras digitais que simulam cartoons. “É outra forma de trabalhar o jogo entre o que é real e o que é virtual”, diz a curadora.
Apesar do contexto de carência, a exposição traz leveza. “Tem toda a problemática social, mas a gente se diverte. O Quando Coletivo é um espaço de respiro. A obra 'Bolsa moradia', por exemplo, registra a nossa performance na praça da Assembleia com R$ 500, o valor do auxílio-moradia do governo, escrito em palitos de fósforos em um painel. A gente coloca fogo nos palitos, enquanto duas meninas questionam o benefício, usando um megafone”, explica Chris Tigra.
“QUANDO OFFLINE”
Obras de integrantes do Quando Coletivo. Diariamente, das 19h às 23h, na fachada digital do Espaço do Conhecimento UFMG (Praça da Liberdade, 700, Funcionários). Até 8 de fevereiro. Exposição virtual em www.quandocoletivo.com/offline.