Depois do hiato de quatro anos, um filme nacional volta a atingir a marca de 1 milhão de espectadores. Em cartaz desde 28 de dezembro, a comédia “Minha irmã e eu”, dirigida por Susana Garcia e estrelada por Ingrid Guimarães e Tatá Werneck, conseguiu o feito na última semana.
O título mais recente que alcançou tal posto também foi dirigido por Susana – “Minha mãe é uma peça 3”, com Paulo Gustavo, que em 2019 levou 11,6 milhões de pessoas aos cinemas. A título de comparação, a cinebiografia de Claudinho e Buchecha, “Nosso sonho”, filme brasileiro mais visto de 2023, teve meio milhão de espectadores.
Veronica Debom, de 39 anos, está desde o início na história de Mirian (Ingrid) e Mirelly (Tatá), irmãs goianas opostas em tudo. Tinha alguma experiência escrevendo para a TV quando recebeu o telefonema de Ingrid, que não a conhecia. No primeiro encontro veio a proposta – participar da equipe de roteiristas do novo filme da atriz. Ingrid queria Verônica justamente pelo “olhar feminino”.
Esta conversa foi pré-pandemia. Na época, Veronica já tinha engrenado na carreira de atriz, feito novelas e séries. Mas o que a catapultou para a função de roteirista foi o texto do espetáculo “O abacaxi” (2017), sucesso no Rio de Janeiro, que mais recentemente ganhou uma edição em livro.
A história, que ela também encenou, traz reflexões sobre os amores modernos, por meio de diferentes casais. “Estava namorando e tentava entrar em um relacionamento aberto. Hipoteticamente, acreditava nisso, mas racionalmente...”, conta ela sobre a gênese do espetáculo, que fala de diferentes formas de amor: “o amor próprio, o amor romântico, a amizade”.
Da TV para o cinema
A partir desta estreia, Veronica passou a trabalhar em roteiros de séries. Escreveu para “Diário de um confinado” (2020), de Bruno Mazzeo, fez a redação final de “Vizinhos” (2023), criada pela dupla argentina Mariano Cohn e Gastón Duprat. Faltava o cinema.
“É diferente. Entrei na indústria para fazer cinema. Na TV, você tem programa de humor, minissérie, história contínua, esquete, história episódica. As estruturas variam muito. No cinema é tudo muito específico”, ela conta.
Em decorrência da pandemia, “Minha irmã e eu” demorou para sair do papel – foi filmado há um ano. No grupo final de roteiristas ficaram Ingrid, Veronica, Célio Porto e Leandro Muniz. “Foi um trabalho coletivo. A sala de redação funciona da seguinte maneira: depois de decidirem juntos o que vai acontecer, o que é a escaleta do filme, cada um (dos roteiristas) vai para o seu canto fazer as cenas e os diálogos.”
Como havia duas grandes atrizes de comédia, não faltaram cacos nas falas. “A Tatá improvisou muita coisa, e isso acaba melhorando o texto. Tem a velha guarda de autores que não gosta de caco, mas a Tatá e a Ingrid improvisam muito. E o fazem de forma brilhante. Isso faz com que os roteiristas fiquem melhores na foto”, brinca Veronica.
O processo do filme foi tão legal que houve até um convite inesperado. Não estava previsto que ela estaria em cena, até ganhar Gislaine de presente. “A gente tinha um impasse no roteiro, e alguém criou uma filha para a dona Glacy (Selma Lopes). Para fazer um carinho, a Ingrid me chamou para o papel. Foi uma delícia, pois pude viajar para Goiás”, acrescenta Veronica.
O sucesso da bilheteria de “Minha irmã e eu” foi, segundo ela, “uma surpresa muito desejada”. Veronica pretende continuar atuando e escrevendo. “Nunca fui capaz de fazer planejamento. Sempre escrevi. Foi a escrita que me salvou na adolescência. Estava contratada (por uma rede de TV), mas sendo paga para ficar em casa, quando escrevi a peça. Sou meio Zeca Pagodinho, deixo a vida me levar”, conclui.
Mais três estreias
Veronica Debom está em dois filmes e uma série que serão lançados este ano. O que mais a empolgou foi “O clube das mulheres de negócio”, novo longa de Anna Muylaert. Fã da diretora, diz que realizou “um sonho”. Ela interpreta Zulmira, direitista e armamentista, papel que a levou a aprender a usar “todo o tipo de arma”.
Outro filme é o drama “O deserto de Luisa”, de Allan Minas, em que vive Bel, mulher que assume as rédeas de uma família problemática. Ela também contracenou com Marisa Orth, que vive sua mãe na série “Body for Beth”, que será lançada pelo canal TNT.