Em 2010, Bárbara Colen iniciava o curso de teatro no Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado (Cefar) quando recebeu a notícia de que uma recém-inaugurada produtora de Contagem selecionava atores para um curta. Ela se candidatou, fez os testes e foi selecionada.

 

A produtora era a Filmes de Plástico. E o curta, “Contagem”, dos irmãos Gabriel e Maurílio Martins. O filme representou Minas Gerais em festivais brasileiros e internacionais. Durante as filmagens de “Contagem”, Bárbara conheceu André Novais, assistente de direção. Foi o primeiro e, até então, único trabalho da dupla.

 



 

Embora a trajetória da atriz se encontre com a da Filmes de Plástico em alguns momentos – Bárbara voltou a trabalhar com a produtora em “No coração do mundo” (2016), dirigido por Gabriel e Maurílio Martins –, as carreiras dela e de André nunca mais se cruzaram. Até agora.

 

Depois de quase 15 anos, os dois se reencontram como homenageados da 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que começa nesta sexta-feira (19/1) e segue até o próximo dia 27, na cidade histórica mineira.

 

“Quando fiquei sabendo que seria homenageada junto com o André, pensei: ‘Pronto, agora vai ser a coisa dos sonhos’”, comenta Bárbara, em tom bem-humorado.

 

“Na época em que comecei, tinha a questão muito forte do racismo. Eu nunca via o meu tipo no cinema, não via outras meninas negras em papéis de destaque. É muito bonito ver o quanto isso está se transformando”, diz Bárbara.

 

André Novais, talento da premiada Filmes de Plástico, rodou "Quando aqui" para estrear em Tiradentes

Leo Lara/divulgação

 

Outra linguagem

A questão racial importa, evidentemente. Mas não foi o critério da organização da Mostra de Tiradentes. “A gente queria destacar o cinema mineiro, que de um tempo para cá tem ganhado notoriedade dentro e fora do Brasil”, afirma Raquel Hallack, diretora da Universo Produção e coordenadora-geral do evento.

 

“É uma outra forma de fazer cinema, com estilo de linguagem um pouco diferente do cinema que se faz no Rio de Janeiro, por exemplo. Então, para mostrar um pouco a cara deste cinema, optamos pela geração que o André e a Bárbara integram, geração que já tem percurso e carreira bem consolidados. Não é uma geração momentânea”, acrescenta.

 

Abrindo o calendário audiovisual brasileiro de 2024, a Mostra de Cinema de Tiradentes vai reunir 145 filmes, entre longas e curtas, de 20 estados. As exibições estão divididas em seções temáticas realizadas gratuitamente nos espaços Cine-Praça (no Largo das Forras), Cine-Tenda (no Largo da Rodoviária) e Cine-Teatro (no Centro Cultural Yves Alves).

 

Pronto em uma semana

 

Na abertura, serão exibidos “Quando aqui”, de André Novais, e “Roubar um plano”, do mesmo diretor em parceria com Lincoln Péricles.

 

“‘Quando aqui’ não estava planejado para passar na mostra”, revela André. Na verdade, o filme nem sequer existia até a semana passada. “Quando a Raquel me ligou convidando para ser o homenageado, ela disse que a temática era ‘As formas do tempo’. Aí, lembrei que tinha o esboço de um filme que tratava justamente sobre isso. Perguntei se ela não toparia fazer a estreia durante a mostra.”

 

Com o sinal verde de Hallack, André correu contra o tempo. Filmou tudo em cinco dias e terminou a montagem na última sexta-feira (12/1).

 

O média-metragem “Quando aqui” se propõe a ser uma viagem no tempo sem sair do lugar, explica Novais. A história se passa no bairro Amazonas, em Contagem, com temporalidades diferentes, onde passado, presente e futuro se misturam.


Fora do padrão

 

A mostra “Foco Minas” será voltada para estreias de longas mineiros cuja linguagem desafia o padrão comercial vigente. O destaque é “A estação”, de Maria Cristina Maure. Na trama, mulher chega a uma estação para pegar o trem, que não aparece. Obrigada a se hospedar na pensão que a companhia ferroviária oferece aos passageiros, enfrenta verdadeira saga para tentar sair daquele lugar.

 

Também serão exibidos filmes mais conhecidos, como a cinebiografia “Mussum, o filmis”, de Sílvio Guindane, e “Mais um dia, Zona Norte”, de Allan Ribeiro, vencedor do Festival de Brasília do Cinema, em dezembro.

 

Debates e seminários vão abordar o tempo envolvido no processo de produção de um filme, as formas do tempo no cinema contemporâneo brasileiro, a formação e capacitação de agentes públicos e culturais, entre outros temas.


Tempo em foco

 

“As formas do tempo” será o tema da Mostra de Cinema de Tiradentes. “Como é o fazer cinematográfico nesta época em que vivemos muito acelerados? Em que isso interfere nas estéticas, narrativas e duração dos filmes? Vamos conversar com o público sobre isso”, diz Raquel Hallack, coordenadora-geral do evento.

 

“Vários filmes retratam a temática sobre a mudança em nossa maneira de consumir cinema. São filmes que, em sua maioria, foram feitos depois da pandemia, período em que vivemos mais acelerados ainda”, comenta.


27ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES


De sexta-feira (19/1) a 27/1, na cidade histórica de Tiradentes. Informações no site da mostra.

compartilhe