Nesta sexta-feira, 19 de janeiro, serão lembrados os 42 anos da morte de Elis Regina, uma das vozes mais bonitas do Brasil, comparada às divas do jazz Ella Fitzgerald e Billie Holiday. Para lembrar o imenso legado da cantora, o flautista e saxofonista carioca Carlos Malta manda o álbum independente “Pimenta” para as plataformas digitais, com releituras de 10 músicas eternizadas pela “Pimentinha”.

 

O tributo a Elis foi lançado originalmente em 2000. “Só havia algumas coisas no YouTube, algumas pessoas colocaram algo do disco lá”, conta Malta. “Não havia nada no Spotify e nas outras plataformas.”

 

“Elis está na minha vida desde cedo, na televisão e nos festivais dos anos 1960, defendendo aquelas músicas incríveis como 'Arrastão', e depois ao lado de Jair Rodrigues no programa 'O fino da bossa', levado ao ar pela TV Record de São Paulo. Ela era presença garantida lá em casa, com a gente ouvindo diariamente seus discos”, comenta Malta.

 

Carlos Malta lançou "Pimenta" e prepara o EP "Pimentinha" para o aniversário de Elis, em março

Maria Mazilo/divulgação

 

O flautista, de 63 anos, não se esquece do álbum do saxofonista e compositor Victor Assis Brasil, “um dos maiores músicos do mundo”, cuja contracapa era assinada por Elis Regina. “Foi gravado Teatro da Galeria, no Rio de Janeiro”, observa.

 

“Victor sempre foi um farol para mim. E a Elis um 'farolão', aquele astro brilhando no horizonte”, compara. “Eu a ouvi falando sobre sua técnica, como dividia, como esperava o acorde. Vi várias entrevistas com Elis dando lição de canto. Eu, moleque, ainda aprendendo a tocar. Tudo isso veio jorrar neste disco. Antes de lançá-lo, fiz um show com o baixista Augusto Mattoso, o baterista Luís Sobral e o pianista Osmar Militto, que chegou a tocar com Elis. Foi um show lindo em homenagem a ela, em 1999, no espaço do BNDES, no Rio de Janeiro.”

 




De coração

 

“Pimenta” foi gravado no estúdio da casa de Sergio Benchimol, oftalmologista apaixonado por música. O álbum de 2000 sofreu pequena alteração para se adequar aos meios técnicos atuais. “Porém, os padrões não saíram tanto do lugar e o som continua maravilhoso”, garante Malta. “O legal é que o relançamento não tira nem um pouco do álbum. Fazemos a interpretação de 10 músicas que Elis gravou. Elas foram escolhidas de coração, não houve nenhum pensamento mercadológico”, afirma.

 

“Pimenta” contou com a participação de Dalmo C. Mota (violão 12 cordas), Augusto Mattoso (baixo), Sobral (bateria), Osmar Militto (piano), Itamar Assieri (piano), Jurim Moreira (bateria), Gabriel Improta (guitarra) e Kesso Fernandes (bateria).

 

Carlos Malta e o pianista norte-americano Cliff Korman dividiram “Garota de Ipanema”. “A Elis tinha aquela gravação antológica com o Hermeto Pascoal, acho que foi a única vez que ela cantou esta música na vida. Pensei: não posso deixar de ter a canção no disco”, diz o flautista

 

No próximo 17 de março, dia em que Elis Regina completaria 79 anos, o saxofonista vai lançar o EP “Pimentinha”, com outra formação. A ideia partiu de Carlos Mills, da gravadora Mills Records, e de Daniele, mulher do saxofonista e fã da cantora.

 

“Fizemos a gravação na Vison, estúdio do Carlos Andrade. Foram três Carlos: o Malta, o Mills e o Andrade. Meu enteado Matu Miranda gravou a voz cantada sem letra. Participaram também o Tunico Secchin (sax), Haroldo Eiras (guitarra), Antonio Fischer-Band (piano), Giordano Gasperin (baixo elétrico) e Fofo Black (bateria).

 

“Ficou parecendo uma continuidade do 'Pimenta', e eu queria que fosse isso. Continuidade em termos de essência, espontaneidade e tipo de arranjo”, diz Malta. O repertório traz “Trem azul”, “Se eu quiser falar com Deus”, “Alô, alô marciano” e “Vivendo e aprendendo a jogar”.

 

“Do 'Pimenta' nasceu o 'Pimentinha'”, brinca o saxofonista. “Colocamos neste EP a atmosfera daquele último álbum dela, 'Trem azul'. As quatro músicas fazem parte daquele disco maravilhoso. Não é cover, pois fizemos outra leitura, partindo da instrumentação com guitarra, flauta, sax, clarone, piano acústico e baixo”, conclui Malta.

 

Vida intensa e breve

 

Elis Regina morreu em São Paulo, aos 36 anos, no dia 19 de janeiro de 1982, após sofrer parada cardíaca causada pelo consumo de bebida alcoólica, cocaína e tranquilizantes. A inesperada partida da cantora deixou o Brasil consternado.

 

Muito jovem, ela estreou nos anos 1950 em Porto Alegre, sua terra natal. Mudou-se para o Rio de Janeiro, destacando-se em festivais da canção e programas de televisão. Estrela da MPB, foi chamada de “a nova Ella Fitzgerald” pela crítica europeia. Gravou cerca de 60 LPs e compactos. Revelou os compositores Milton Nascimento, João Bosco, Aldir Blanc, Renato Teixeira e Ivan Lins, entre outros.

 

“PIMENTA”


• Disco de Carlos Malta
• 10 faixas
• Disponível nas plataformas digitais

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