Em 1812, os Irmãos Grimm publicaram o livro “Contos de Grimm”, na Alemanha. Ali estava o drama de João e Maria, irmãos perdidos na floresta às voltas com uma bruxa má. O clássico que marcou a infância de milhares de crianças chega ao sertão brasileiro em “João e Maria – Opereja”, espetáculo da Cyntilante Produções que estreia na Campanha de Popularização do Teatro e Dança.

 

Em cartaz no Palácio das Artes neste sábado (20/1), às 18h, e domingo (21/1), às 17h, a peça introduz a criançada no mundo da ópera.

 

“A história de João e Maria vem sendo esquecida nesta era do streaming. Nenhuma grande produtora de filmes buscou adaptá-la para o cinema. Nós, como artistas, temos o papel de resgatar contos assim”, afirma o diretor Fernando Bustamante.

 

Fundada em 2005 na capital mineira, a produtora Cyntilante adapta histórias da literatura para os palcos. Porém, este espetáculo traz uma proposta diferente: praticamente não tem falas.

 

“Opereja” se passa nas matas secas da caatinga e traz características da vivência interiorana. “Percebemos que a história clássica tem muitas coincidências com a realidade sertaneja brasileira. Vimos nessa semelhança a oportunidade de fazer com que ela seja revivida, mostrada para as crianças novamente no palco, mas com nova roupagem voltada para a identidade nacional”, diz Bustamante.

 




Papa-figo em ação

 

Na versão mineira, os dois irmãos, filhos de pai vaqueiro e mãe dona de casa, perdem-se na floresta quando vão colher pequi para o jantar. Sem rumo, a dupla encontra uma casa feita de brigadeiro, bolo-de-rolo, doce de leite, tapioca, pamonha, cocada e sequilho. Lá dentro, nada de bruxa europeia.

 

“A bruxa da nossa versão é o Papa-figo, que aqui no Sudeste é conhecido como Homem do Saco. É aquela figura estranha que oferece doces, mas, na verdade, quer comer o fígado das crianças”, afirma Fernando.

 

“Temos também a Comadre Fulozinha, protetora da mata, que protege João e Maria na caatinga no momento em que eles estão perdidos. Em vez da trilha de miolos de pão, os irmãos sertanejos fazem uma trilha com milho, porém um bacurau os come”, comenta. Esse pássaro de hábitos noturnos vive em regiões do cerrado e do sertão.

 

A trilha sonora é especial. Ritmos regionais guiam a história, ao som dos cancioneiros nordestino e mineiro, com rabeca, acordeom, violão e zabumba.

 

“A adaptação se dá em vários sentidos. Vai da música, ao utilizarmos instrumentos populares, à questão visual, nos figurinos, com nosso artesanato típico da chita e da renda”, diz Bustamante.

 

“Todas as músicas da versão original alemã são transformadas em xote, xaxado e baião. Isso faz com que as pessoas se reconheçam, lembrando-se dos xotes do Luiz Gonzaga”, diz.

 

Depois de estrear na capital mineira em setembro de 2023, “João e Maria – Opereja” seguiu para o Nordeste do país, com apresentações em Fortaleza, Recife e Salvador.

 

A produtora planeja mais óperas infantis para 2024 e 2025. “Este ano, a gente estreia ‘A guitarra mágica’, adaptação da 'Flauta mágica', de Mozart. Em 2025, ‘Aída’, de Verdi, vai completar a nossa trilogia”, adianta Bustamante.

 

“JOÃO E MARIA – OPEREJA”


Direção de Fernando Bustamante. Sábado (20/1), às 18h, e domingo (21/1), às 17h, no
Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos a R$ 25, nos postos do Sinparc e no site vaaoteatromg.com.br. Na bilheteria, R$60 (inteira). Informações: www.cyntilante.com.br


* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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