Perseguições eletrizantes, dispositivos tecnológicos de ponta e duelo com armas de fogo. “Thelma” poderia facilmente ser o próximo filme da série “Missão: Impossível”, estrelada por Tom Cruise, com um detalhe: a intérprete da protagonista, atriz June Squibb, tem 94 anos.
Squibb segura o touro pelos chifres depois que um fraudador a engana e rouba dela US$ 10 mil. O golpe é o estopim que a faz se lançar às ruas de Los Angeles pilotando uma scooter, armada com antiga pistola e determinada a confrontar o ladrão.
A comédia de ação, que foi exibida no festival de Sundance, nos Estados Unidos, é o primeiro papel principal da atriz veterana, indicada ao Oscar há 10 anos por “Nebraska”.
"Adoro Tom e eu!"
“É maravilhoso! Adoro Tom (Cruise) e eu!”, diz June Squibb. De fato, o filme é cheio de referências ao astro, cujos filmes Thelma adora ver com o neto.
A inspiração em “Missão: Impossível” é clara em cenas como a da missão ultrassecreta narrada por meio de um aparelho auditivo.
O próprio Cruise aprovou o uso de imagens de seus filmes. “Perguntei: 'Ele está nos deixando fazer isso?'. Me disseram: 'Claro. Ele adorou!'”, revelou a atriz.
A premissa singular do filme “Thelma” e seus astros (Richard Roundtree, que morreu em outubro, de câncer, e Malcolm McDowell) causaram barulho em Sundance, trampolim para as melhores produções do cinema independente.
O filme tem mensagem pessoal, explicou o diretor Josh Margolin, que batizou a produção em homenagem à avó, Thelma, de 103 anos. Ela foi vítima de um fraudador, que a fez acreditar que havia sofrido um acidente de carro e precisava de dinheiro para pagar a fiança.
Por sorte, a Thelma da vida real não pagou nada antes de a família checar a informação, mas o incidente inspirou Margolin, que se perguntou o que teria acontecido se ela tivesse caído no golpe e depois quisesse fazer justiça com as próprias mãos, “o que não me estranharia, vindo dela”, afirmou.
O filme de Margolin aborda como a sociedade frequentemente subestima a terceira idade e como o neto tenta superproteger a avó.
Embora a teimosa Thelma do filme goste de viver sozinha e esteja determinada a continuar assim, seu cúmplice, Ben (o último papel de Roundtree), se entregou aos cuidados de uma casa de repouso. É algo que June Squibb entende bem.
“Sempre gosto de trabalhar em algo que fale sobre a idade”, diz ela. “Estou sozinha e não me sinto solitária. Realmente, não”, afirma. A atriz se mantém ativa. Entre seus projetos está a série “American horror stories” e um filme dirigido por Scarlett Johansson, “Eleanor, invisible”.
Depois de muitas décadas na Hollywood conhecida por não querer empregar atrizes mais velhas, a artista veterana vê mudanças.
“Agradeço a Deus por isso!”, diz June Squibb, esperando que seu próximo filme consiga um canal de distribuição em Sundance, chegue aos cinemas e às plataformas de streaming. E, quem sabe, lhe renda mais uma indicação ao Oscar...
“Seria sensacional”, diz ela. “Foi divertido.”