Uma das novidades deste mês do Apple TV+, "Histórico criminal", ainda em andamento (quatro dos oito episódios foram lançados), é uma série policial britânica, à primeira vista, convencional. Os crimes ocorrem nos subúrbios de Londres, e acompanhamos não só a investigação dos detetives como também suas vidas privadas, com problemas bem próximos aos do próprio espectador. Não há um super policial, cenários deslumbrantes ou sequências de ação de tirar o fôlego.



Mas isso, de maneira alguma, se configura como um defeito, muito pelo contrário. Não despregamos os olhos da TV por causa de seus protagonistas, Peter Capaldi e Cush Jumbo. Ambos são detetives em Londres e não atuam na mesma delegacia. Mas acabarão se cruzando, ora trabalhando juntos, ora em lados opostos. A tensão é constante.

Capaldi é o detetive inspetor chefe (DCI) Daniel Hegarty. Da velha guarda, ele é respeitado e influente em seu meio, com uma equipe muito fiel – e todos sabem que é melhor não mexer com ele. O policial tem uma vida pessoal problemática, tanto que, nas folgas, trabalha como motorista e segurança particular de gente rica e duvidosa. Não há como defini-lo de cara – mas há algo de muito errado com ele.

Cush Jumbo é a sargento detetive (DS) June Lenker, policial dedicada com uma vida em família estável (marido, mãe e filho adolescente). Falta-lhe experiência, mas sobra determinação em chegar lá. Um telefonema para o qual ninguém estava dando bola pode mudar tudo.


PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Uma vítima de violência doméstica faz uma ligação anônima afirmando que seu namorado pode ter matado alguém chamado Amelia Burrows. Lenker descobre que Hegarty era o investigador do caso Burrows e que o namorado da vítima, Errol Mathis (Tom Moutchi), foi julgado pelo assassinato. Está cumprindo pena de 24 anos de prisão. Talvez, ela acredita, um homem inocente esteja atrás das grades.

É sem maldade que ela chega a Hegarty. O chefe de Lenker avisa a ela que todo contato com o inspetor deve ser feito por e-mail. Mas ela vai vê-lo pessoalmente. E, já neste momento, o desconforto se dá – Lenker é mulher e negra, representa os novos tempos, algo que Hegarty não quer por perto. O veterano não precisa de muito para se fazer entender, o crime já foi resolvido há muito.

Ela não se dá por vencida – e um novo feminicídio vai colocá-los juntos em outra investigação. Só que Lenker não esqueceu o telefonema anônimo – e Hegarty, em ligações dúbias para antigos colegas, já mostrou que tem culpa no cartório.

A trama segue com novos personagens, o mais interessante deles a raivosa advogada de Mathis, Sonya Singh (Aysha Kala). Mas o que realmente faz a diferença é o embate entre os protagonistas. Hegarty, o predador, exala superioridade o tempo inteiro. Lenker, por seu lado, não se amedronta em momento algum. O suspense vem sendo mantido a cada episódio. Vê-los digladiando em cena faz de "Histórico criminal" um drama policial único fora da curva.

“HISTÓRICO CRIMINAL”
• Série do Apple TV+. São oito episódios, quatro já disponíveis. Novos episódios às quartas.

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