Telas que retratam figuras geométricas negras sobrepostas ao fundo de cores quentes dividem espaço com esculturas de aço no formato de poliedro. As esculturas, por sua vez, dialogam com fotografias em preto e branco de imigrantes que tentaram a sorte na Bélgica e com formas figurativas talhadas em bronze. A tudo isso se juntam bordados em telas.

 

Assim é a exposição coletiva “A percepção é a realidade”, em cartaz até 29 de fevereiro na galeria Brizola – Escritório de Arte. Pode parecer um caos, mas como diz a teoria, há sempre uma ordem no caos.

 

A babel artística, ao contrário da Babel bíblica, se propõe a estabelecer diálogos das obras entre si e com o espectador. Com curadoria de Maria e Cida Brizola, a exposição reúne obras de Israel Kislansky, João Diniz, Julio Alves, Leo Brizola e Michelle Mulls.

 

“A gente optou por escolher um perfil de artistas mais maduros. Eles têm mais ou menos a mesma faixa etária e currículo já estabelecido”, conta Maria Brizola. “Na verdade, ‘A percepção é a realidade’ é uma pocket exposição. Cada artista mostra de quatro a sete obras, que sintetizam a essência de cada um ali”, comenta.

 



 

Telas com figuras geométricas negras são o cerne do trabalho do pintor Júlio Alves. Ao passo que esculturas de aço refletem a formação de João Diniz como arquiteto.

 

“São 'estrut/cul.turas', um misto de estrutura e escultura”, explica Diniz. “É mais uma vontade de fazer do que uma inspiração. Quando se assume o processo, a obra vai surgindo e surpreendendo. Não há antevisão. O resultado é mais descoberta, achado, do que criação estética diletante. Da mesma forma que o caminho se faz ao andar, a obra acontece em seu processo de feitura”, afirma.


Resistência

 

De acordo com ele, arte é uma forma de resistência. “Um exercício de liberdade, de inconformismo, de demonstração de possibilidades além das existentes. O trabalho com as barras, com as estruturas, sugere uma forma de ‘solidariedade’, onde cada peça depende e compõe com as outras um conjunto harmônico e indivisível. Essas reflexões talvez possam ser metaforicamente extrapoladas, contrapondo-se às polarizações contemporâneas”, observa Diniz.

 

Em outro ponto da galeria, há fotos em preto e branco de Michelle Mulls e esculturas figurativas de Israel Kislansky, o artista que coordenou as recentes restaurações do Monumento à Independência do Brasil, em São Paulo.

 

Detalhe de "Donner la préférence", fotografia de Michelle Mulls

Michelle Mulls/divulgação

 

Leo Brizola apresenta pinturas e bordados. “É um pequeno recorte da minha produção recente”, conta. “O bordado é técnica que tenho utilizado há quase tanto tempo quanto a pintura, apesar de nunca tê-los exposto em um conjunto completo”.

 

“A maior parte das obras vem da pesquisa sobre a própria história da arte, a complexidade da natureza humana, o fascínio que me causam as pinturas dos holandeses do século 17 – atmosferas de Vermeer, Gerard Terborch, Jan Steen e o resto da turma, incluindo Rembrandt – e como elas podem ser transportadas para a atualidade”, afirma Leo.

 

De acordo com ele, não se trata de sentimentos pós-pandemia. “Afinal, ela ainda está viva em meu pensamento, assim como as guerras e as notícias negativas, que afetam minha sensibilidade. Como sou um tanto quanto pessimista, esse desalento transparece nas obras. Não sou muito literal nessa abordagem, mas sei que esse sentimento subjaz”, diz Leo Brizola.

 

“A PERCEPÇÃO É A REALIDADE”


Obras de Israel Kislansky, João Diniz, Julio Alves, Leo Brizola e Michelle Mulls. Até 29/2, na galeria Brizola – Escritório de Arte (Rua Ministro Orozimbo Nonato, 442, sala 1.510, Vila da Serra). Abre de quarta a sexta-feira, das 16h às 20h; sábado, das 11h às 17h; e domingo, das 12h às 15h. Entrada franca, mediante agendamento pelo telefone (31) 98886-0034.

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