A folia de Alceu Valença já começou. E o cantor e compositor pernambucano já pôs o seu bloco na rua, quer dizer, nas plataformas de streaming. Ivete Sangalo, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Lenine, Geraldo Azevedo, Almério, Lia de Itamaracá e Juba cantam com ele no álbum “Bicho Maluco Beleza – É carnaval” (Deck).

 

O disco é dedicado a um personagem histórico da folia pernambucana: Carlos Fernando, parceiro de Alceu que morreu em 2013. Autor de “Banho de cheiro”, ele criou o projeto “Asas da América”, que renovou a cena do frevo nas décadas de 1970 e 1980.

 

Alceu, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho participaram dos primeiros álbuns do projeto de Carlos, que contava também com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Luiz Caldas e Chico Buarque.

 

“Sempre participei do carnaval de Pernambuco, que tem samba, maracatu, frevo de rua, frevo de bloco, frevo canção, ijexá. Enfim, são vários gêneros”, diz Alceu Valença. “Quando era criança, absorvi todos esses gêneros detrás do portão da casa dos meus pais. Na frente de casa, passavam todos os blocos que iam para o carnaval no Centro. E eu ficava ali, observando aquilo. Por coincidência, éramos vizinhos do maior maestro de frevo e orquestras de Pernambuco, o Nelson Ferreira. De maneira natural, fui absorvendo tudo aquilo, armazenando nos meus HDs de memória, vamos assim dizer.”

 

Por falar em HDs de memória, este carnavalesco desde criancinha ganha homenagem especial, o álbum “Carne de caju”, da banda Mombojó, cria da cena manguebeat pernambucana. É considerável a influência do artista pernambucano, que tem 77 anos, sobre outras gerações.

 




Frevo em Sampa

 

Todo mundo sabe que Alceu é praticamente “patrimônio histórico” do carnaval de Olinda. Porém, ultimamente, ele estendeu sua veia foliã a São Paulo, comandando o bloco Bicho Maluco Beleza. “É um sucesso, o público só vem aumentando. Em 2023, tivemos mais de 60 mil pessoas. Este ano, vamos nos apresentar no dia 3 de fevereiro”, comenta. O novo álbum surgiu justamente da experiência em Sampa.

 

“Pensei em fazer encontros de pessoas cantando. Aí, me lembrei de Ivete Sangalo, que vinha muito a Pernambuco e cantava no Recifolia. Convido também Maria Bethânia em 'De janeiro a janeiro', diálogo entre um homem e uma mulher que diz assim: 'Pra começar, eu vou te amar o ano inteiro/ De janeiro a janeiro, meu amor, sem atropelo/ seguiremos caminhando sobre os dias/ Carnaval vem chegando, vamos cair na folia/ Apronte a sua fantasia que eu afino o meu pandeiro/ Vamos brincar todo dia em Olinda no Bloco do Beijo'.”

 

Ao falar do carnaval de Olinda, Alceu lembra a moça fantasiada de diabo louro, canção que gravou com o filho, Juba. “Um frevo pesado, para arrombar mesmo”, avisa. E cantarola a letra de J. Michiles: “Um diabo louro faiscou na minha frente/ Com cara de gente, bonita demais/ Chegou de bobeira, marcando zoeira no meio da praça/ Quebrando vidraças, isto não se faz.”

 

Convidados estão na capa do disco de Alceu Valença para o carnaval

Reprodução

 

O encontro com Lenine se dá em “Bom demais” – “ficamos ali, brincando com o ritmo”, diz Alceu. Com Elba Ramalho, ele gravou “Caia por cima de mim”, sua parceria com José Fernando. A letra diz assim: “Chegou a hora de você saber/ Aquela história sem fim/ Eu sou louco por você/ Você é louca por mim/ e dê um beijo na boca, meu anjo querubim”.

 

“Querubim é a musa que está em várias músicas minhas, a moça fantasiada de anjo”, diz Alceu. Outro convidado do novo álbum é Almério. “Ele faz parte da nova cena de artistas pernambucanos que mergulham na nossa cultura de maneira visceral”, elogia o veterano. A dupla gravou “O homem da meia-noite”, parceria de Alceu com Carlos Fernando, a quem o disco é dedicado.

 

Poesia de Ascenso e ciranda com Lia

 

Logo depois vem “Maracatu”, parceria dele com o poeta Ascenso Ferreira. “O frevo e o carnaval de Pernambuco têm várias vertentes. Há a marcha polaca fazendo com que surgisse o frevo de rua. Depois temos o frevo de bloco, muito lusitano. E aí vem a música africana, 'Maracatu', melodia minha em cima do poema de Ascenso Ferreira. Canto sozinho esta e, em seguida, chamo a Lia de Itamaracá para fazer ciranda comigo.”

 

Depois de Lia, que acaba de completar 80 anos, Alceu mostra “Luar de prata”, ciranda de sua lavra. “Essa me remete ao tempo da faculdade de direito, quando eu gostava de dançar. Ia sempre para as cirandas ver os mestres cantando.”

 

“Táxi lunar” fecha a folia. “Coloquei essa para sair do Brasil, do nosso planeta, e fazer carnaval na Lua”, brinca Alceu. “A música é minha, do Geraldo Azevedo e do Zé Ramalho. Fizemos um em cada canto, não estava todo mundo junto. Eu cantava, tocava para eles e foi incrível, um prazer”, relembra.

 

A folia foi tão boa que Alceu já pensa em novos carnavais. “Tenho músicas para uns quatro discos, mas vou gravá-los na Lua, já que vou pegar o táxi lunar”, diverte-se.

 

REPERTÓRIO

 

“BICHO MALUCO BELEZA”
De Alceu Valença. Com Ivete Sangalo

 

“DE JANEIRO A JANEIRO”
De Alceu Valença. Com Maria Bethânia

 

“O HOMEM DA MEIA-NOITE”
De Alceu Valença e Carlos Fernando. Com Almério

 

“DIABO LOURO”
De J. Michiles. Com Juba

 

“BOM DEMAIS”
De J. Michiles. Com Lenine

 

“CAIA POR CIMA DE MIM”
De Alceu Valença e José Fernando. Com Elba Ramalho

 

“MARACATU”
De Alceu Valença e Ascenso Ferreira. Com Alceu Valença

 

“QUEM ME DEU FOI LIA”, “MOÇA NAMORADEIRA” E “JANAÍNA”
De Manoel José e Antônio Baracho/ Lia de Itamaracá. Com Alceu Valença e Lia de Itamaracá

 

“LUAR DE PRATA”
De Alceu Valença. Com Alceu Valença

 

“TÁXI LUNAR”
De Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho. Com Geraldo Azevedo

 

“BICHO MALUCO BELEZA – É CARNAVAL”


Disco de Alceu Valença
Deck
10 faixas
Disponível nas plataformas digitais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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