Em seu mais recente disco, “Danilo Caymmi Andança 5.5”, lançado na última sexta-feira (26/1), Danilo Caymmi interpreta oito clássicos da MPB, compostos por Milton Nascimento, Marcos Valle, Torquato Neto, Edu Lobo, Tom Jobim e Geraldo Vandré, entre outros.

O repertório é fruto de uma pesquisa feita pelo artista, em parceria com o músico, arranjador e produtor Flávio Mendes. Os dois já haviam trabalhado juntos no projeto “Danilo Caymmi canta Tom Jobim”, lançado em 2017.



Além de suas cinco décadas de carreira, o título do disco se refere também, segundo Danilo, à canção que se tornou um clássico na voz de Beth Carvalho e é uma parceria dele com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, composta em 1968.

Naquele ano, “Andança” conquistou o terceiro lugar no III Festival Internacional da Canção (FIC), realizado no Rio de Janeiro, no Ginásio do Maracanãzinho, em 1968, perdendo para “Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, a segunda colocada, e “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque, a campeã daquela edição.

O artista considera uma “sorte” ter ficado em terceiro lugar na competição, dado o contexto histórico do festival. “Caso contrário, iríamos levar aquela vaia que Tom e Chico levaram com 'Sabiá'. Na época eu era estudante de arquitetura e vi que todos os DCEs orientavam as pessoas a vaiar qualquer canção que não fosse 'Pra não dizer que não falei de flores'. Então, tecnicamente, teriam que vaiar a nossa música. Aliás, a música dele foi dele (Geraldo Vandré) foi lançada pouco antes de decretarem o AI-5.”

Caymmi afirma que a ideia do repertório do disco partiu de Flávio Mendes. “Ele viu que nesse período de 'Andança' e até um pouco antes de 1968 eu já estava inserido no contexto dessas músicas. Para se ter uma ideia, em 1967, no III Festival de Música Popular Brasileira, realizado pela TV Record, minha irmã Nana Caymmi participou com uma música dela, feita em parceria com Gilberto Gil, que até gravei neste disco, chamada 'Bom dia'; meu irmão Dori com 'Cantador' e eu como músico, acompanhando Roberto Carlos”, recorda.

“A canção 'Eu e a brisa' (Johnny Alf) pertenceu a esse festival e passou despercebida, música incrível, que virou a quinta faixa deste álbum. E usamos novamente o mesmo método com que gravamos 'Danilo Caymmi canta Tom Jobim', ou seja, tudo gravado ao vivo em estúdio. Então esse novo disco é totalmente voltado para a interpretação, assim como foi o outro.”

Melodias mantidas

O cantor e compositor diz que não gosta de gravar mexendo nas melodias. “Acho que fica esquisito. Por exemplo, Tom Jobim, se você alterar uma melodia dele, fica estranho, pois toda nota tem um sentido. O mesmo acontece com Milton Nascimento, que conheço há muitos anos. Pouca gente sabe, mas, no primeiro disco de Bituca, chamado 'Travessia' (Ritmos - 1967), toquei flauta na faixa 'Catavento'. Éramos companheiros e, às vezes, saíamos à noite com o Ronaldo e o Vicente Bastos. Certa vez fomos parar no sítio do meu pai, chamado Maracangalha.”

Danilo Caymmi se diz satisfeito com o resultado do novo trabalho, que considera ir na contracorrente das tendências atuais. “Neste momento em que a gente vive, é difícil… O negócio está muito linear, produzido... Despi totalmente de ritmo para ficar sem amarração e gostei muito do resultado e também do feedback do pessoal. Recebi elogios de uma cantora de jazz norte-americana de quem gosto muito e com quem já trabalhei em Portugal, a Stacey Kent, por quem tenho muita admiração. Ela adorou o disco e disse que estava ouvindo várias vezes ao lado do marido, o saxofonista Jim Tomlinson.”

Embora tenha acabado de lançar um disco, Danilo Caymmi já está pensando nos próximos volumes. “Nunca podemos subestimar a capacidade musical do povo brasileiro. Quando a música é boa, as pessoas acabam gostando. Acho que estava faltando um pouco disso, de elas mergulharem nas canções, como minha irmã (Nana), por exemplo, faz.”

O carioca pretende reunir uma banda e pegar a estrada com o disco. “Confesso que meu maior interesse é sensibilizar as pessoas, para que os jovens fiquem sensibilizados ao verem que existem outras coisas, não bolhas. A gente vive em uma série de bolhas e tem que furar isso para as pessoas conhecerem essas interpretações, assim como as de Milton Nascimento, Nana Caymmi, Dick Farney, entre tantos outros.”

FILHA NA NOVELA

Danilo Caymmi cita com orgulho a presença de sua filha Alice Caymmi na trilha sonora do recém-estreado remake de “Renascer” (Globo). Alice canta“Do acaso”, canção de Ronaldo Bastos e Chico César que foi indicada ao Grammy. Ele diz que o cuidado com a interpretação “é algo de família, de muito papo meu com ela, sobre essa coisa de interpretar e também para dar uma continuidade a esse estilo”.


REPERTÓRIO

- “Bom dia” (Nana Caymmi e Gilberto Gil)

- “Pra não dizer que não falei de flores” (Geraldo Vandré)

- “Viola enluarada” (Marcos Valle e Paulo Sergio Valle)

- “Andança” (Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós)

- “Eu e a brisa” (Johnny Alf)

- “Pra dizer adeus” (Edu Lobo e Torquato Neto)

- “Sabiá” (Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque)

- “Travessia” (Fernando Brant e Milton Nascimento)

 

“DANILO CAYMMI ANDANÇA 5.5”
• Disco de Danilo Caymmi
• Oito faixas (álbum independente)
• Disponível nas plataformas digitais

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