Um conjunto de desenhos que teriam sido feitos por Tarsila do Amaral, grande nome da pintura modernista, e viraram alvo de processo na Justiça para terem sua autenticidade reconhecida, apareceram num site de comercialização de NFTs como autênticos.

 

Os desenhos datam da década de 1920 e mostram paisagens do litoral brasileiro. Eles foram usados pela empresa suíça Zeitls como base para a geração de NFTs, uma espécie de obra de arte digital com certificado de autenticidade.

 

Ao todo, são 225 NFTs de ilustrações coloridas – feitas a partir das originais –, sendo comercializados por 0,3 ETH cada, o equivalente a cerca de R$ 3,3 mil.

 

Desenhos atribuídos a Tarsila, não autenticados no catálogo raisonné, usados como base pela Zeitls

reprodução


Sinal verde

 

Chamado apenas “Tarsila”, o e-commerce foi autorizado por ao menos três herdeiros de Tarsila, e é um dos novos projetos relacionados à obra da modernista tocados por Paola Montenegro, sobrinha-bisneta da pintora agora à frente da empresa que cuida dos direitos autorais de sua tia.

 

Os desenhos são alvo de um processo na Justiça movido pelo tradutor Alípio Neto, o proprietário das obras, que busca a certificação de autoria. Ele pede que especialistas em Tarsila reconheçam a veracidade das ilustrações e que elas sejam incluídas numa eventual nova edição do catálogo raisonné da artista, considerado o guia definitivo de seus trabalhos.

 

Os desenhos não entraram na publicação, não tiveram a aprovação unânime da comissão de especialistas que determinam o que é ou não Tarsila e não foram sancionados por Tarsilinha, a herdeira da pintora que cuidava dos direitos da artista à época da publicação do catálogo. Não há previsão de que o livro seja reeditado.

 

Paulo Montenegro, um dos herdeiros de Tarsila, diz não poder atestar “de forma alguma” que os desenhos são originais. “Não sou um expert no assunto”, diz.

 

A reportagem teve acesso a um documento tratando da produção dos NFTs assinado por Montenegro e por Luis Paulo Estanislau do Amaral, outro herdeiro de Tarsila. Nestes papéis, os desenhos aparecem como sendo originais da pintora.

 

Questionado se isso não seria admitir a veracidade das obras, Montenegro diz que “não tinha olhado por esse lado” mas que, ao assinarem o documento, “indiretamente nós (herdeiros da artista) estamos reconhecendo a autenticidade”.

 




Autenticidade

 

Mario Solimene Filho, advogado de Alípio Neto, o proprietário dos desenhos, afirma que os NFTs e a autorização da família de Tarsila são a maior demonstração de que as obras são autênticas.

 

Daniela Zschaber, gerente de estratégia da Zeitls no Brasil, diz que a empresa “tem a certeza da originalidade das obras”. Segundo ela, a Zeitls tem o propósito de difundir a arte brasileira no exterior. (Folhapress)

compartilhe