O longa de Yorgos Lanthimos (

O longa de Yorgos Lanthimos ("A favorita") que chega nesta quinta-feira (1º/2) às salas está indicado em 11 categorias do Oscar

crédito: SEARCHLIGHT PICTURES/DIVULGAÇÃO

Quando Barbie chegou aos cinemas, não faltaram apoiadoras para a "Barbie Estranha", muito mais próxima do real do que a perfeição loira da protagonista interpretada por Margot Robbie. Pois só depois que conhecemos Bella Baxter é que descobrimos o exato significado de estranheza – e não só a boneca falha interpretada por Kate McKinnon como o filme de Greta Gerwig em si ficam parecendo uma brincadeira de criança.

Pois, em essência, "Barbie" e "Pobres criaturas", que chega nesta quinta-feira (1º/2) aos cinemas, têm o mesmo mote: o despertar de uma mulher para o mundo. E, em sua ingenuidade, as duas personagens, Barbie e Bella, se tornam armas muito eficazes contra o domínio masculino.

Só que, como realização, o longa de Yorgos Lanthimos ("A favorita", "O sacrifício do cervo sagrado") é imensamente superior ao de Greta Gerwig. Estranho, divertido, ousado, inteligente, exagerado, mais do que justifica suas 11 indicações ao Oscar – o cineasta grego concorre nas categorias de Melhor Filme e Melhor Direção. Emma Stone divide com Lily Gladstone, de "Assassinos da lua das flores", o favoritismo à estatueta de Melhor Atriz. No melhor papel de sua carreira, ela é a razão do filme – tudo converge para ela.

A história nasceu do romance "Poor things" (inédito no Brasil), do escocês Alasdair Gray (1934-2019), grosso modo, uma versão feminista e revolucionária do clássico "Frankenstein" (1818), de Mary Shelley (1797-1851). O roteiro adaptado (também indicado ao Oscar) é de Tony McNamara, que traz outras personagens femininas fora da curva: Cruella, Catarina, a Grande, reinventada na série "The great" e "A favorita", sua colaboração anterior com Lanthimos.


Comportamento infantil

O cenário deixa claro que estamos na Londres vitoriana. Bella (Stone) vive numa casa enorme com o cientista Godwin Baxter (um Willem Dafoe coberto de cicatrizes). Tem tudo o que pede, até uma criada exclusiva. E lhe dá um trabalho danado.

Bella é adulta, mas se comporta como uma criança. Fala algumas palavras, mas sabe se expressar bem. Quando não consegue o que quer, joga pratos no chão. Se a comida não lhe apetece, cospe na hora. Dança alegremente, apesar de ter pernas rígidas. E vai dormir com as histórias que Godwin, na verdade, God, como ela o chama (sim, Deus é como ela o vê) lhe conta.

Ao longo da história, vamos descobrir como Bella foi parar na casa do Baxter. Fato é que ela começa a se enfadar da vida cerceada. O cientista, que a tratacom imenso carinho, mesmo que a veja também como um experimento, coloca um de seus alunos, Max McCandles (Ramy Youssef), para monitorá-la o tempo todo. Max se apaixona. Mas Bella, a esta altura, está de olho no mundo lá fora.

Que vem mais do que prontamente, na figura de Duncan Wedderburn (um Mark Ruffalo para lá de exagerado, que, apesar do histrionismo, roubou a vaga no Oscar de Ator Coadjuvante de Dafoe), um canalha que vai lhe apresentar o mundo mais divertido e sórdido que se possa imaginar. Eles começam sua turnê por Londres, mas a fome de Bella é difícil de saciar. Fome de conhecimento, de gente, de sexo.

Sequências de sexo

O filme é pródigo em sequências de sexo. Orgasmos, para a personagem, são chamados de "pulos furiosos". São um elemento essencial para a independência da personagem, até então vivendo sob jugo masculino. "Bella é completamente livre e sem vergonha do próprio corpo", defendeu Emma Stone à BBC, diante do barulho causado pelas cenas.

A atriz apresenta o desenvolvimento de Bella com absoluta sutileza. Ela é imprevisível em tudo e, pouco a pouco, vemos a personagem se desenvolver física e verbalmente. Quando o espectador se dá conta, a garota birrenta deu lugar a uma mulher sexualmente liberada, com ideias próprias.

Como tudo gira em torno da protagonista, direção de arte e fotografia marcam seus diferentes tempos. A parte inicial do filme, quando Bella é infantil e vive em casa, é em preto e branco, com muitos momentos com as lentes olho de peixe, como que para convidar o espectador a entrar naquele mundo.

Tons exuberantes

À medida que a protagonista sai da toca, o filme ganha tons exuberantes, acompanhados de perto pelo cenário. Nada é padrão no universo criado por Lanthimos – direção de arte, figurino, cabelo e maquiagem também estão indicados ao Oscar. Cada cenário (a casa de Godwin, seu laboratório, o hotel em Lisboa, o navio, a opulenta Alexandria, com seu exército de miseráveis, um bordel em Paris, tudo muito influenciado pela art noveau) tem sua própria particularidade – por vezes podemos achar que estamos num ambiente criado por Lewis Carroll.

É tudo muito em "Pobres criaturas". E, no centro de tudo, está Bella – menina birrenta, jovem curiosa, mulher determinada. O tempo todo a gente torce por ela.

“POBRES CRIATURAS”
(EUA/Reino Unido, 2023, 141min.) Direção: Yorgos Lanthimos. Com Emma Stone, Willem Dafoe e Mark Ruffalo. Estreia nesta quinta-feira (1º/2), no Centro Cultural Unimed-BH Minas 1, às 15h30, 20h20; Diamond 2, 14h40 (qui, sab, dom), 17h50, 20h50; Pátio 6, 13h35 (qui, sab, dom), 16h40, 19h50; Ponteio Premier, 14h30, 17h30, 20h30; UNA Cine Belas Artes, 15h20, 18h, 20h40.