A publicação com 52 imagens foi editada pelo Museu da  Fotografia de Fortaleza, onde as obras estão em exposição -  (crédito: Walter Carvalho/Divulgação)

A publicação com 52 imagens foi editada pelo Museu da Fotografia de Fortaleza, onde as obras estão em exposição

crédito: Walter Carvalho/Divulgação

 

Walter Carvalho se lembra com clareza. Era criança e havia deixado sua cidade natal, João Pessoa, capital da Paraíba, com a família para passar férias na casa de parentes, no interior do estado. Certo dia, apareceu um homem estranho, grande, com bigode espesso e cara fechada, carregando uma espécie de caixa de madeira.

 

O homem reuniu toda a família, escondeu a cabeça por baixo de um pano e, ao apertar um botão, promoveu um grande estouro, deixando todos ligeiramente cegos.

 

O leitor, certamente, já compreendeu que se tratava de uma foto de família e que a tal caixa nada mais era do que um daguerreótipo. Mas, para o pequeno Walter, em fins da década de 1940, aquilo pareceu algo mágico, completamente estranho à sua realidade.

 

“Não posso dizer que esse episódio me fez virar fotógrafo, mas foi algo que ficou marcado em mim”, conta ele. O interesse pela fotografia, no entanto, só desabrochou anos depois, quando se mudou para o Rio de Janeiro para estudar design. Por meio de um professor do curso, aprendeu não a fotografar, e sim a gostar do ofício, como costuma dizer. “Afinal, fotografia não se aprende; fotografia se pratica. O dia em que eu aprender fotografia, eu paro de fotografar.”

 

 

Walter Carvalho transitou pela fotografia, pelo cinema e pela TV. Errante, como refere-se a si mesmo, fez carreira seguindo – mesmo que involuntariamente – a máxima de Glauber Rocha: “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.

 

Um dos principais nomes da retomada do cinema brasileiro, o artista assina a fotografia de “Terra estrangeira” (Walter Salles e Daniela Thomas, 1995), “Central do Brasil” (Walter Salles, 1998) e “Lavoura arcaica” (Luiz Fernando Carvalho, 2001).

 

Também é dele a fotografia de “Notícias de uma guerra particular” (João Moreira Salles, 1999); “Madame Satã” (Karim Aïnouz, 2022); “Amarelo manga” (Cláudio Assis, 2022) e “Carandiru” (Hector Babenco, 2003), entre outros.

 

Como diretor, esteve à frente de “Janela da alma” (2001), ao lado de João Jardim; "Cazuza: O tempo não para" (2004), com Sandra Werneck, e "Raul: o início, o fim e o meio" (2012).


Mostra em Fortaleza

 

Com imagens de sua autoria, a exposição fotográfica “Territórios” está em cartaz por tempo indeterminado no Museu da Fotografia de Fortaleza (MFF) e deu origem a um livro recém-lançado.

 

A publicação reúne 52 fotos, todas sem título, que abordam diversas temáticas. São registros feitos há algumas décadas, como a do jovem vendedor de jornal na Av. Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, capturada em 1977. E cliques recentes, como a foto dos restos de uma alegoria carnavalesca em frente ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, feita em 2021.

 

Também consta uma amostra de uma experiência recente à qual Walter Carvalho tem se dedicado: fotografia impressa em platina, como é o caso do registro de um espantalho deteriorado no sertão pernambucano.

 

“Territórios” não segue uma ordem cronológica. Na mostra e no livro, passado e presente se confundem, de modo que as fotos de décadas passadas se aproximam na mesma medida em que se distanciam dos registros mais recentes, conforme a interpretação que o visitante/leitor lhes dá. Trata-se, portanto, de um livro/mostra-constelação, conforme define o próprio fotógrafo.

 

São imagens registradas durante sua errância e que já estavam selecionadas para compor outro livro que Walter tinha em mente antes de ser convidado pelo Museu da Fotografia de Fortaleza para montar “Territórios”.

 

“Selecionei 20 fotos desse livro e o restante das imagens vieram de outros trabalhos mais antigos. Mas, sempre usando como critério a possibilidade de conseguir proporcionar diferentes leituras para os visitantes”, diz ele.

 

Ele tem engatilhado o projeto de outros dois livros de fotografia. Em um deles, vai mostrar as imagens que vem imprimindo em platina. “O outro (livro) é só com retratos de personalidades que encontrei na rua, ao acaso. Foram fotos que eu não havia planejado e sequer combinado com essas pessoas. E, talvez por isso mesmo, são registros que captaram a espontaneidade dessas pessoas”, comenta. “Mas, claro, essas pessoas me autorizaram a usar a imagem delas.” O lançamento está previsto para este ano. Também está no radar dele um documentário sobre o nada, mas ainda sem previsão de estreia.

 

“TERRITÓRIOS”


>> De Walter Carvalho
>> Projeto do Museu da Fotografia de Fortaleza (80 págs.)
>> R$ 129
>> Exposição homônima em cartaz por tempo indeterminado no Museu da Fotografia de Fortaleza, acessível pelo site museudafotografia.com.br

 

À FRENTE DE “RENASCER”

Diretor contratado da Globo, Walter Carvalho já encabeçou na emissora carioca novelas e minisséries, como a adaptação de “O rebu” (1974), exibida em 2014, “Amor de mãe” (2019) e o remake de “Pantanal” (2020). Atualmente, assina a direção da nova versão de “Renascer”, que estreou no último dia 22 de janeiro e tem sido um sucesso de audiência.