Na já imensa variedade de reality shows disponíveis, o modelo de competição baseado em ofícios é fonte inesgotável de produções. No Brasil, programas de culinária e confeitaria saturam o segmento, mas novas criações como “Pedreiro top Brasil” mostram o quanto o formato ainda pode render. Dinâmico e bem-humorado, o programa inova ao dar protagonismo a profissionais da construção civil.
Sem confinamento, as provas são o evento central e simulam situações vividas em obras, como rebocar paredes, levantar colunas, impermeabilizar superfícies, fixar telhas, rufos e cumeeiras. Sempre com tempo curto.
Cinco duplas de pedreiros – ou mestres, como o programa os denomina – representam cada região do Brasil. Disputam a premiação de R$ 20 mil para o vencedor, além do troféu Colher de Ouro. Os 10 homens selecionados exercem a profissão, não são amadores.
Promovido pela fabricante de materiais de construção Quartzolit, o programa é transmitido no canal do YouTube da empresa e também na Rede Bandeirantes, com realização da produtora FX Render.
Trabalhadores da construção civil são o público-alvo, consumidores finais dos materiais usados nas competições. Esse propósito publicitário não impede que outras audiências se entretenham, mas pode frustrar os novatos do “faça você mesmo”.
Em reality show de competição, provas e avaliações são os principais elementos para cativar o espectador. Ali é o momento de torcer, de assistir a demonstrações de virtuosismo e habilidade profissional. Se as disputas forem desinteressantes no formato ou apresentação, o episódio não se sustenta.
Nesse ponto, “Pedreiro top Brasil” acerta na concepção das provas, mas é limitado na forma de mostrá-las ao público.
Sem eliminação
O desempenho dos participantes é avaliado conforme o uso dos materiais, execução do projeto e limpeza. Como não há eliminação, os 10 pedreiros participam de todas as provas: mestres Claudiocir, Douglas, Idailmo, Wanderson, Daniel, Felipe, Diego, Júlio, Euziene e Matheus.
Cortes rápidos e a falta de intervenções mais didáticas comprometem o melhor aproveitamento do espectador leigo, que fica sem saber o que observar.
Animações gráficas ou vídeos poderiam complementar as explicações do funcionamento de cada prova. Ou ainda relembrar o significado de termos técnicos. O sistema de pontuação merece aprimoramento.
Júri exigente
Ainda assim, recursos atenuam a desorientação. A apresentadora Renata Golombieski esclarece as dinâmicas do programa, conduzindo a atração com carisma, afinada com o tom descontraído do reality. Mas, sobretudo, é o trabalho dos jurados que guia o espectador. Eles não aliviam em apontar erros, sem condescendência.
Bons momentos ocorrem no choque entre as práticas informais dos mestres versus o olhar de manual dos jurados, sempre cobrando a leitura, por vezes ignorada, das instruções do fabricante.
Nota-se o esforço do programa em assumir ar informal, especialmente ao fazer os jurados usarem bordões como “vai dar bom” ou “vai dar ruim”.
Quando um instrutor do Senai nota que não é correto fracionar ingredientes que formam a argamassa polimérica da prova de impermeabilização (deve-se misturar tudo de uma vez), ele olha para a lente e sentencia: “Vai dar ruim”.
Dimensão afetiva
O programa investe também nos perfis dos participantes. No quadro “Papo de obra”, Renata Golombieski debate o andamento das provas com os pedreiros e apresenta vídeos dos familiares em homenagem aos participantes.
O quadro dá dimensão afetiva ao reality e torna os competidores figuras relacionáveis, construção de empatia que funciona inclusive entre os próprios pedreiros e é celebrada no episódio final.
Nova temporada já está em planejamento. Podem ser aumentados o número de competidores e desafios das provas. A eliminação está em estudos, e a presença de mulheres deve ser estimulada.
A ver se a nova edição conseguirá preservar a autenticidade informal construída na primeira temporada do reality e fará melhor uso das provas, seu elemento mais divertido. (Raphael Concli)
“PEDREIRO TOP BRASIL”
• (Brasil, 2023). Reality show disponível no YouTube.