"Um itinerário de ressignificação" está em cartaz no Museu Regional de São João del-Rei -  (crédito: Diego Mendonça/divulgação)

"Um itinerário de ressignificação" está em cartaz no Museu Regional de São João del-Rei

crédito: Diego Mendonça/divulgação

Diego Mendonça cresceu em meio a blocos e entalhes de madeira, no coração da cidade histórica de São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes. Filho e neto de marceneiros, o artista, de 41 anos, cria suas obras com o refugo da fabricação de móveis, espelhos e objetos. 

A criação sustentável inspira a exposição “Um itinerário de ressignificação”, no Museu Regional de São João del-Rei, reunindo trabalhos feitos com sobras de três marcenarias e uma oficina de molduras. A mostra de Diego Mendonça ficará em cartaz até 28 de abril. 

“Minha família trabalha com móveis há quase 50 anos. Começou com a minha avó, depois meu pai, agora eu e meus irmãos. A vida toda fui muito ligado à natureza e ficava incomodado com o descarte de materiais”, comenta ele. 

“Quando um artista olha para algo e vê além, tem à sua frente um mundo de possibilidades do que pode ser feito com coisas descartadas”, afirma. 

Pós-graduação

Com 25 obras, a mostra é o resultado da pesquisa de pós-graduação de Mendonça, chamada “Artes, urbanidades e sustentabilidade”, iniciada em 2019 e apresentada em 2022 na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). 

Em seu ateliê, no porão de um imóvel no centro histórico da cidade, Diego desenvolveu assemblages com influência barroca. Há obras de cunho religioso, que, segundo ele, trazem “uma pitada de crítica à religiosidade, não à fé, mas ao que fazem com ela.” 

“O legal da busca por essas peças é que olho para elas e falo: ‘Consigo ressignificar isso’. No ateliê, vou juntando como se fosse um quebra-cabeça e elaborando o processo de visualização”, explica. 

A exposição tem madeira, papéis reciclados e flores secas de buquês descartados, transformadas em miniárvores. “Tenho esponjas de cozinha, até pérolas de fantasia de carnaval que não foram utilizadas. Tudo virou obra de arte”, completa. 

Na pós-graduação, ele chamou a atenção para os grandes agentes do descarte de madeira na região de São João del-Rei. 

“Quando comecei o mestrado, fiz a proposta da sustentabilidade, porque estamos numa região com mais de 300 marcenarias. Consequentemente, multiplicamos o desperdício e o descarte inadequados da natureza. Quis dar uma cutucada nos empresários e nos artesãos para trazer essa conscientização”, afirma. 

Diego explica que sua intenção é provocar a reflexão sobre o uso de materiais extraídos da natureza, além da ressignificação do que já foi considerado lixo. 

“Sofri o processo de ressignificar as coisas em todas as áreas da minha vida, não só na arte. A gente precisa trazer isso para o nosso cotidiano, até porque a Terra não vai aguentar mais tanto tempo com tanta poluição e produção de lixo”, conclui. 

“UM ITINERÁRIO DE RESSIGNIFICAÇÃO”


Exposição de Diego Mendonça. Até 28 de abril, no Museu Regional de São João del-Rei (Rua Marechal Deodoro, 12, Centro). Entrada franca. Funciona de terça a sexta-feira, das 10h às 17h; sábado, das 13h às 17h; e domingo, das 9h às 13h. Informações: (32) 99159-1827.

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria