Nasi pretende fazer show do disco e diz ter a intenção de se apresentar em BH neste ano -  (crédito: ANA KARINA ZARATIN/DIVULGAÇÃO)

Nasi pretende fazer show do disco e diz ter a intenção de se apresentar em BH neste ano

crédito: ANA KARINA ZARATIN/DIVULGAÇÃO

Marcos Valadão Ridolfi, o Nasi, tem 62 anos de vida – 42 deles dedicados ao Ira!. No entanto, os números que mais chamam a atenção não têm relação direta com uma das mais importantes (e ainda relevantes) bandas que emergiram no Brasil dos anos 1980. Nasi tem 30 anos de carreira solo, e o recém-lançado “RockSoulBlues” (independente) é seu nono álbum.

“Eu, Nasi solo, lutar contra o Nasi Ira!? A mesma coisa acontece com o Edgard (Scandurra). A gente sempre leva desvantagem”, afirma ele sobre a carreira solo, sempre em segundo plano. “Faço discos por uma questão artística, de sanidade mental”, diz ele, que considera o novo trabalho, com oito faixas, seu álbum “mais de intérprete”.

Melhor explicando: nestes nove álbuns, há três do projeto Nasi & Os Irmãos do Blues. Nos demais, alguns assinando sozinho, noutro com Os Spoilers (disco de 2022 de forte acento punk), havia uma banda fixa. Agora, não. Houve formações diferentes acompanhando-o, cada qual de acordo com a história que ele queria contar na canção.

Há somente uma canção autoral, o bem-humorado “Blues do gato preto”, cheio de metais. As demais são versões bastante pessoais de músicas diversas, de um samba setentista que fez sucesso na voz de Martinho da Vila (“O caveira”) a um lado B de Tim Maia (“O que você quer apostar?”).

Nasi abre o disco relendo sua própria história, com um registro bluesy do hino “Dias de luta” (Scandurra). “Sou muito fã do guitarrista Igor Prado (que gravou a canção). Ele toca igual ao Edgard: é canhoto e não inverte as cordas (da guitarra). Isto é raro, no Brasil achava que era só o Edgard. Conversando com ele, me disse que, quando garoto, escutava muito o Ira! e que tinha feito uma versão blues de ‘Flores em você’. Um dia tive um insight sobre ‘Dias de luta’, e resolvi gravá-la em um tom menor, que é o do blues. Resolvemos respeitar o Edgard, o autor, e só insinuamos o riff, que é a marca registrada dele”, conta Nasi.

Versões clássicas

Nasi começou a feitura do álbum no final de 2022. Escolheu Marcelo Sussekind para produzir as três primeiras faixas. A formação para estes registros contou com três Sérgios: Melo (bateria), Morel (guitarra) e Villarim (teclados), além do próprio Sussekind. “Queria versões mais clássicas, próximas dos originais”, diz Nasi.

Deste encontro saíram “Não te quero santa” (Vitor Martins/Sérgio Fayne/Saulo Nunes), do repertório de Erasmo Carlos do início da década de 1970; “O que você quer apostar?”, do já citado Tim Maia; e “Rosa selvagem”, versão de Nasi para “Ramblin’ rose”, gravado originalmente em 1962 por Jerry Lee Lewis.

Há muita memória afetiva nas escolhas de Nasi. Seu compositor favorito, ele diz, é Zé Rodrix. Tanto que “Devolve meus LPs”, uma das faixas do disco, é a quarta canção que ele gravou do cantor, compositor e escritor morto em 2009.

Outra escolha é mais ousada. “Queria fazer um blues de um samba do Martinho”, conta Nasi, referindo-se a “O caveira”. “Quando fui ver, não achei legal, estava meio forçado. Por outro lado, percebi que a divisão rítmica do samba é muito próxima da do country. Então fiz uma versão country western, uma coisa meio Johnny Cash. Tanto que fui procurar uma cantora, Nanda Moura, uma grande revelação, para fazer um dueto meio Johnny e June”, conta ele.

Ousadia semelhante Nasi fez a partir de um blues clássico, de autor desconhecido. “Rollin’ and tumblin’” foi registrada por muita gente, de Robert Johnson a Eric Clapton. Na versão de Nasi, ela se tornou “Não vá me adaptar”, com uma pegada de eletrônica e hip hop. Para tal, ele contou com a colaboração de Apollo 9 e DJ Hum.

Para ele, além da sonoridade, é amor que conceitua “RockSoulBlues”. “Como boa parte dos músicos da minha geração, continuo pensando no conceito de um álbum, de músicas que conversam entre si. O amor é aqui um tema central. Tirando o ‘Blues do gato preto’ e ‘Dias de luta’, as outras canções trazem várias versões do sentimento amor, seja mais romântico, seja mais visceral”, continua Nasi.

Ao fazer um trabalho de intérprete, Nasi também pensou na própria voz. “Hoje, acho que estou no melhor momento dela. Nos primeiros discos do Ira!, principalmente os dois primeiros, eu tinha voz de menino, não gosto muito. Todo cantor tem uma escala musical que é boa para ele. A maior parte das músicas eu cantei no tom original. Só em ‘O caveira’ tive que baixar para fazer uma coisa mais gutural, mais nebulosa, Tarantino.”

Com o disco na praça, ele não vê a hora de começar a fazer shows. “Metade da banda que está comigo há 15 anos é a cozinha do Ira!”, diz Nasi, referindo-se ao baixista Johnny Boy e ao baterista Evaristo Pádua. Completando o time, o tecladista André Youssef e o guitarrista Rodrigo Lancelotti. “Quero muito fazer shows deste disco, ir a Belo Horizonte mostrar este outro lado. Agora só tenho que arregimentar um baita saxofonista”, comenta.

Depois de um 2023 intenso – foram mais de 100 shows com o Ira! – Nasi e Scandurra decidiram deixar a agenda deste ano mais livre para seus próprios projetos.


“ROCKSOULBLUES”
• Álbum de Nasi
• Oito faixas, independente.
• Disponível nas plataformas digitais