Uma banda que nasceu de um instrumento – essa é, muito sucintamente, a história da Cigar Box Band, que, criada em Belo Horizonte em 2021, lança nesta sexta-feira (16/2) seu álbum de estreia, batizado “Don't belong”, com sete faixas autorais. O nome do grupo já entrega: a semente a partir da qual ele foi gerado é a cigar box guitar, uma ancestral não muito distante da guitarra elétrica como a conhecemos hoje.
O instrumento, muito usado pelos bluesmen estadunidenses, é construído artesanalmente com componentes simples. Apesar de sua estrutura rústica, a cigar box guitar é capaz de produzir uma ampla gama de sons. Usualmente, os construtores se valiam de caixas de madeira, usadas para guardar cigarros ou charutos, para fazer a caixa acústica do instrumento – o que explica seu nome. Músicos contemporâneos, como Jack White, PJ Harvey e Ben Harper, têm ressuscitado o interesse por essa espécie de protoguitarra.
Esse interesse brotou também no músico e produtor Fred Chamone, que, ao lado do vocalista Germano Renan e do baterista Paulo Espinha, forma a Cigar Box Band. O álbum de estreia conta também com participações especiais do gaitista Eduardo Sanna e do baixista Luciano Porto. Antes de montar o grupo, Chamone desenvolvia um trabalho em duo com Renan, apresentando covers de blues, rock e country em bares e pubs de Belo Horizonte e cidades do interior do estado.
Ele conta que, depois de dois anos nesse esquema, acabou se entediando com o formato. “Eu queria inovar e, pesquisando, descobri a cigar box guitar. Localizei, no Brasil inteiro, apenas dois construtores do instrumento. Comprei uma e passei a desenvolver um trabalho a partir dela. Depois comecei a comprar várias outras, cada uma com uma afinação diferente, e foi assim que a banda surgiu, eu criando os riffs, as bases, enviando para o Germano, e ele fazendo as letras e melodias”, diz.
Afinações diferentes
Na gravação de “Don't belong” foram utilizados três tipos de cigar box guitar, cada uma com uma característica e uma afinação diferentes, além de uma guitarra elétrica convencional. Nesse conjunto, o modelo que mais se destaca é uma cigar box guitar construída com uma pá, que aparece no clipe que acompanha o primeiro single do álbum, “Be mine”, disponível no YouTube desde janeiro.
“Toco outros estilos, música instrumental, jazz, mas gosto muito de rock antigo, de blues, da sonoridade vintage, então a cigar box guitar me abriu um novo campo de composição. Ela é muito específica, pode ter só duas, três ou quatro cordas, com uma afinação aberta, que pede o uso do slide. Estudei bastante a cigar box e também a linguagem do slide para chegar a essas composições. É um instrumento rústico, praticamente um pau com cordas e um captador, mas é muito versátil”, diz Chamone.
Ele cita como influências importantes para a Cigar Box Band grupos e artistas como ZZ Top, Led Zeppelin e Seasick Steve, que se situam na confluência entre o blues, o country e o hard rock. O músico explica que, antes de chegar às composições incluídas em “Don't belong”, o grupo vinha se apresentando pontualmente com repertório de covers. Paralelamente, Chamone foi construindo uma rede de contatos para dar suporte à estreia da Cigar Box Band.
Foi assim, por meio de uma plataforma on-line, que ele chegou à gravadora francesa M&O Music, que chancela o lançamento do álbum. “Essa 'label' nos contratou e já vem fazendo o trabalho promocional em escala mundial, cuidando da divulgação e da distribuição”, aponta. Ele observa que a M&O Music é mais voltada para o heavy metal e já trabalhou com outros projetos brasileiros, como o Cavalera Conspiracy e Soufly, que tiveram à frente os irmãos Max e Iggor Cavalera.
“O diretor dessa gravadora conhece bem o rock brasileiro e sabe que Belo Horizonte é uma referência nesse cenário. Já havia um interesse no nosso projeto, e quando mostrei uma foto minha segurando a cigar box guitar feita com uma pá, ele pirou. Fiz uma breve pesquisa e não encontrei ninguém no Brasil ou no mundo que toque uma cigar box guitar feita com pá”, ressalta.
Ele destaca que os três integrantes da banda têm muitos anos de atuação no cenário local. Renan já foi vocalista da banda Kamikaze, da geração dos anos 1980 do heavy metal mineiro, e da Kashmir, uma das primeiras bandas cover de Led Zeppelin de Belo Horizonte. Espinha é baterista da banda Odilara, de samba e MPB, além de ter participado de vários outros projetos musicais. E o próprio Chamone já tocou no grupo de MPB contemporânea Crivo e na banda de pop rock Mandrake.
“Como produtor, também já tenho mais de 15 anos de experiência. Tenho o Studio Independente, onde 'Don't belong' foi gravado e mixado, então já produzi trabalhos para centenas de bandas. Somos todos músicos experientes”, salienta. A masterização, conforme aponta, foi feita na Espanha, no FD Mastering Studio, por Fernando Delgado, que é seu conhecido de longa data.
Próximos passos
Os planos da Cigar Box Band são ambiciosos. Fred Chamone diz que o grupo pretende lançar, ao longo do ano, cinco performances gravadas ao vivo em estúdio, de músicas do álbum “Don’t belong”. Paralelamente, a ideia é começar um trabalho de venda de shows em Minas Gerais e Brasil afora. E, com as pontes internacionais já construídas, o grupo quer estreitar o contato com os chamados bookers, agenciadores que podem viabilizar pequenas turnês por outros países. “Temos essa perspectiva, de que a banda esteja presente no mercado estrangeiro”, diz o músico.
“DON'T BELONG”
• Álbum da Cigar Box Band
• Sete faixas
• Disponível nas principais plataformas a partir desta sexta-feira (16/2)