Luciana Patrícia Arruda, a Miss Black, lutou muito para conquistar espaço no hip hop -  (crédito: Acervo pessoal)

Luciana Patrícia Arruda, a Miss Black, lutou muito para conquistar espaço no hip hop

crédito: Acervo pessoal

Em 2023, o movimento hip hop completou 50 anos no mundo e quatro décadas no Brasil. Alicerce da cultura de rua, a música, o estilo e a lírica afiada do rap se tornaram a alma das periferias e foram essenciais para o avanço de discussões de pautas como exclusão social, machismo e racismo.


Há 50 anos, nascia Luciana Patrícia Arruda, a Miss Black, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Cantora, compositora e poetisa, ela iniciou a carreira em 1989 e segue como uma das pioneiras vozes femininas do hip hop mineiro.


Neste fim de semana, Miss Black será uma das atrações do festival Palco Hip Hop, cuja edição aposta no protagonismo feminino e LGBTQIA+.

 


Black se apresentará e participará do debate “O protagonismo das mulheres nos 40 anos de hip hop no Brasil” ao lado de Sharylaine, Mc Ellu, Vanessa Beco e Larissa Borges. A programação conta com shows, debates e oficinas.


Miss vai mostrar canções de seu primeiro e único álbum de estúdio, “Voz preta, pele preta”, lançado no fim de 2023.


“Eu me alfabetizei muito cedo, praticamente sozinha, vendo minha mãe ensinando meu irmão. Ouvia uma rádio que tocava hip hop e miami (bass) todo sábado. Percebi que aquelas músicas eram muito parecidas com o que eu escrevia e automaticamente me identifiquei”, conta.

 

BH Canta e Dança

 

Moradora de Contagem, Luciana se via sozinha numa cidade que não possuía eventos voltados para o hip hop. Por indicação de um amigo fã punk, música tão contestadora quanto o rap, ela participou do “BH canta e dança”, o movimento artístico que mudou sua vida.


“Eu me lembro da sensação até hoje, foi uma coisa mágica”, diz. “Aquela multidão, aquele som batidão. Quando cheguei, conheci DJs e as pessoas que eu ouvia no rádio”, relembra. Ela viu no grupo Expressão Ativa a oportunidade de cantar rap, apesar do preconceito que as mulheres enfrentavam no hip hop nos anos 1990 – algo que ocorre até hoje. Virou backing vocal da banda.


“Hip hop é cultura de homens, cultura machista. Anos atrás, eu tinha de chegar nos eventos e perguntar se podia cantar. Tinha de provar que era boa.” Com seu salto alto, marca registrada, ela começou a ganhar notoriedade, o que incomodou os colegas.


“A gente chegou a ser uns dos grupos de maior expressão na cena do hip hop de Belo Horizonte. Mas pelo fato de ser mulher e ter ganhado protagonismo, pediram que me retirasse”, diz.

 

Solidariedade feminina

 

Miss tentou caminhar sozinha. Mãe solo, chegou a se afastar do hip hop, mas voltou com o apoio de amigas como Sharylaine, que também se apresenta no festival.


O primeiro álbum de estúdio surgiu depois de um momento turbulento, com a filha no colo e após episódios de violência doméstica. “Voz preta, pele preta”, com oito faixas, traz reflexões sobre o feminismo negro e a luta antirracista, entre outros temas.


“Estou muito feliz de estar no festival, que acompanho desde o início. Conheço os meninos e sei da responsabilidade deles com a questão do protagonismo feminino”, comenta. “Espero que, para muitas mulheres, seja o gás necessário para continuarem a acreditar em seus sonhos”, conclui.


NO SESC PALLADIUM


. Sábado (17/2)

11h às 16h: Debates com Negona Dance, Tati Sanches, Frank Ejara, Sharylaine, Mc Ellu, Miss Black e
Vanessa Beco.


18h às 22h: Shows de Monge, Colombiana, Contraste, Sharylaine, Dany Fragozo, MC Ellu, Dayna Vision e Pat Manoese. Seletivas de batalhas de danças urbanas.

 

. Domingo (18/2)

11h às 16h: Debates com Henrique Bianchini, Frank Ejara e DJ Nico.


17h às 21h: Shows de Anjos D' Rua, Sharylaine, Chemical Funk, Roger Dee e Pat Manoese. Malukofonia convida Douglas Din e Shabê. Final de batalhas de danças urbanas.

 

PALCO HIP HOP


Shows, debates e oficinas. Neste sábado (17/2) e domingo (18/2), das 10h às 22h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro), Espaço de Cultura do Gueto (Rua Botelhos, 55, Bonfim) e Espaço de Cultura Soul Guetto (Av. Santa Tereza, 590, Taquaril). Entrada franca para debates e oficinas. Para shows, ingressos a R$ 2 (inteira) e R$ 1 (meia). Veja agenda completa no Instagram (@palcohiphop).

 

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria