Entre os diferentes ofícios que teve, Rui Mourão foi diretor do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto -  (crédito: Beto Novaes/EM/D.A Press –  17/7/14)

Entre os diferentes ofícios que teve, Rui Mourão foi diretor do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto

crédito: Beto Novaes/EM/D.A Press – 17/7/14

Membro da Academia Mineira de Letras (AML), o escritor, professor, pesquisador e crítico literário Rui Mourão, morreu na madrugada de ontem (18/2), aos 94 anos. A informação foi dada pela assessoria da AML. A causa da morte foi insuficiência cardíaca combinada a uma pneumonia. O velório será nesta segunda-feira (19/2), das 8h30 às 11h30, no Cemitério do Bonfim (Rua Bonfim, 1.120, Bonfim).

Natural de Bambuí, região da Serra da Canastra, no Oeste mineiro, Mourão ocupava a cadeira nº 31, cujo patrono é o médico, jornalista e compositor Lucindo Filho (1847–1896). Começou os estudos no Grupo Escolar José Alzamora, em sua cidade natal. Para continuar o segundo ciclo, que seria o equivalente ao ensino médio de hoje, precisou mudar-se para Belo Horizonte, dividindo as tarefas da escola com um emprego que arranjou para se manter.

 

Em 1949, aos 20 anos, prestou concurso para o Banco Mineiro da Produção (atual Banco do Estado de Minas Gerais) e, na sequência, foi aprovado na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

GUIMARÃES ROSA

No ano seguinte publicou seu primeiro texto: uma resenha crítica do livro “Sagarana”, de Guimarães Rosa (1908-1967), no jornal carioca A Manhã. Mourão teve espaço cedido pela colunista Dinah Silveira de Queiroz, escritora paulistana que mantinha o costume de publicar textos de novatos. No mesmo ano, ele se juntou ao poeta Affonso Ávila e ao crítico literário Fábio Lucas para lançar a revista Vocações.

A estreia de Mourão na literatura, contudo, ocorreu apenas em 1956, com a publicação da novela “As raízes”. Em 1957, recorreu novamente aos colegas Ávila e Lucas para lançar uma nova revista, dessa vez a Tendência, na qual escreveu diversos ensaios e críticas literárias. Ainda em 1957, o escritor recebeu do governo de Minas a Medalha da Inconfidência, mais alta comenda concedida a personalidades que contribuíram para o prestígio e a projeção mineira.

No início de 1962, Mourão deixou a capital mineira com a esposa Elza Sampaio do Couto e os quatro filhos seguindo para Brasília, onde daria aulas de literatura brasileira na recém-criada universidade federal (Unb). Passados três anos, no entanto, já com o golpe militar consolidado e o regime ditatorial instaurado no país, o escritor e mais 270 professores da Universidade de Brasília se desligaram da instituição em repúdio às arbitrariedades do regime militar.

Em 1966, mudou-se para os Estados Unidos a fim de lecionar na Tulane University, em New Orleans, na condição de professor visitante e só retornou ao Brasil em 1969, sendo colocado à disposição da Imprensa Oficial do Estado, onde integrou a comissão de redação do Suplemento Literário do jornal Minas Gerais.

PRODUÇÃO LITERÁRIA

Em 1970, virou diretor-executivo da Fundação de Arte – Ouro Preto (FAOP). E, em 1973, voltou à produção literária, com o romance “Cidade calabouço”. Assumiu, no ano seguinte, o cargo de diretor do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto; e foi nomeado posteriormente membro do Conselho Estadual de Cultura, onde foi autor do projeto de criação do Prêmio Guimarães Rosa, de ficção.

Em paralelo a esses ofícios, Mourão escreveu o romance “Jardim pagão”, publicado em 1979. A partir daí, sua produção literária passou a ser mais prolífica, emendando uma sequência de lançamentos, como "Monólogo do escorpião" (1983), "Museu da Inconfidência" (1984, em parceria com Francisco Iglésias), "O alemão que descobriu a América" (1990), "Boca de chafariz" (1990), "A nova realidade do museu" (1990), "Servidão em família" (1996), "Invasões no carrossel" (2001), “Quando os demônios descem o morro” (2008) e “Mergulho na região do espanto” (2015).

Em 1986, recebeu do Estado de Minas o troféu Melhores de 1985, na categoria cultura. Com toda sua dedicação às letras, Mourão foi eleito, em 2009, para ocupar a cadeira nº 31 da AML, no lugar de Luís Carlos de Portilho (1910–2008). Sua posse ocorreu em 29 de outubro do mesmo ano.

“Rui Mourão foi intelectual raro: homem de pensamento e de ação”, disse ao EM o ex-presidente da AML, Rogério Tavares. “Crítico literário e romancista, fabulou com refinada inteligência sobre as coisas de Minas Gerais. Como gestor público, comandou por décadas o Museu da Inconfidência, a ele imprimindo feições renovadas.” De sua obra literária, Tavares destaca “Boca de chafariz” e “Mergulho na região do espanto”. “Além do excelente 'Quando os demônios descem o morro’, cuja epígrafe é chave fundamental para entender o trabalho do autor: ‘A arte é sempre uma invenção, uma mentira, mas é uma forma de a realidade se manifestar’”, emendou.

Em nota divulgada à imprensa, o atual presidente da instituição, Jacyntho Lins Brandão, considerou Mourão como “figura entre os mais proeminentes romancistas mineiros, desde a publicação de ‘As raízes’, em 1956, até o mais recente experimento de autoficção, ‘Quando os demônios descem o morro’”, escreveu. “Sua vida plena de realizações deixa um precioso legado à cultura brasileira”, lembrou Brandão.

Rui Mourão deixa quatro filhos, cinco netos e quatro bisnetos.


LIVROS

• “Jardim pagão”, 1979
• "Monólogo do escorpião" (1983)
• "Museu da Inconfidência" (1984, em parceria com Francisco Iglésias)
• "O alemão que descobriu a América" (1990)
• “Boca de chafariz" (1990)
• "A nova realidade do museu" (1990)
• "Servidão em família" (1996)
• "Invasões no carrossel" (2001)
• “Quando os demônios descem o morro” (2008)
• “Mergulho na região do espanto” (2015)