No ar em "Renascer" como João Pedro, Juan Paiva brilhou como Buchecha no longa "Nosso sonho" e vai estrelar "Justiça 2", no Globoplay -  (crédito: Fábio Rocha/globo)

No ar em "Renascer" como João Pedro, Juan Paiva brilhou como Buchecha no longa "Nosso sonho" e vai estrelar "Justiça 2", no Globoplay

crédito: Fábio Rocha/globo

 

O ano começou literalmente com o pé direito para Juan Paiva. Após brilhar nos cinemas no filme “Nosso sonho”, que conta a história da dupla Claudinho & Buchecha, o ator de 25 anos protagoniza o remake de “Renascer”, na Globo, e a série “Justiça 2”, que tem estreia prevista para este semestre no Globoplay.

 

Jovem preto e periférico, o intérprete de João Pedro na novela das 21h – que teve seu primeiro papel principal em “Um lugar ao sol” (2021) – celebra essa mudança de paradigma no audiovisual. "A gente está avançando por um lugar interessante, e que seja numa velocidade mais rápida. Fico muito feliz com tudo o que vem acontecendo. Que eu possa inspirar outras pessoas que vêm de comunidade, assim como eu", afirmou à reportagem.

 

Na novela criada por Benedito Ruy Barbosa, adaptada pelo neto Bruno Luperi, João Pedro é o filho caçula do fazendeiro José Inocêncio (Marcos Palmeira), que o rejeita desde bebê pelo fato de a mãe, Maria Santa (Duda Santos), ter morrido no parto. Contraditoriamente, dos quatro herdeiros, ele é o mais parecido com o pai e o único que ficou com ele na fazenda, lidando com o cacau.

 

 

"João Pedro é um cara de muita força, herdada da mãe. É pé no chão, pé na terra. Ele está sempre buscando um carinho do pai, mas é rejeitado. Essa relação é de embate, mas que não atrapalha a relação com o respeito. É um cara muito especial e deveria ser olhado por esse pai, de quem ele é espelho, com mais cautela", defendeu, à época do lançamento da novela.


DE REPENTE, PAI

 

Embora na ficção ocupe o lugar de filho, Juan entende de paternidade. Ele foi pai, aos 16 anos,de Analice, hoje com 9, fruto do relacionamento com a companheira, Luana Souza, que conheceu no colégio. O ator lembra que a notícia da gravidez foi "preocupante", porque o casal não sabia como planejar a vida sendo tão jovem ainda. "Foi mais susto, com certeza, uma mistura de tudo… Mas depois virou empolgação. Quando descobrimos o sexo do bebê, fomos acompanhando a barriga crescendo, as coisas foram se ajeitando e a empolgação aumentou. Mas ter que lidar com a notícia de cara, com tudo que vem junto, é bem desesperador mesmo", relatou.

 

Juan ressalta que uma das maiores dificuldades dessa fase foi financeira. "Ainda tinha o desejo de concluir meus estudos, e ainda fazendo teatro, tudo isso junto…. Mas, graças a Deus, tive a minha família, que nos ajudou muito e com quem tenho uma relação de muita reciprocidade. A gente se ajuda muito. E hoje é bem tranquilo, estamos buscando nosso caminho, tocando a vida e crescendo junto com a minha filha, de certa forma", explicou o ator, destacando o fato de encarar a nova e precoce realidade com leveza. "Como somos jovens, o clima é bem de boa. Às vezes, parece que ela é nossa irmã. Estamos vivendo", salientou, aos risos.


DE RAVI A BALTHAZAR

 

Em “Justiça 2”, Balthazar será um dos protagonistas da trama, um motoboy que foi preso injustamente, passou sete anos na cadeia e sai disposto a reconstruir a vida, voltando a trabalhar e a cuidar da avó diabética (vivida por Zezé Motta), mas é enredado em uma trama de vingança. A série do Globoplay foi gravada em Brasília, mais especificamente em Ceilândia e, por meio do personagem de Juan Paiva, retratará a vulnerabilidade do processo de reconhecimento facial, que prejudica, especialmente, a população preta.

 

Sobre esse trabalho, o ator ainda não adiantou muito, mas já se sabe que, honesto e inocente, Balthazar sentirá literalmente na pele a injustiça social ao ser apontado como criminoso pelo ex-patrão (interpretado por Marco Ricca) – e isso afetará seu comportamento pacífico, tornando-se um homem vingativo.

 

A narrativa é muito parecida com a de Ravi, o personagem que Juan interpretou em “Um lugar ao sol”, de Lícia Manzo, primeira novela original exibida pela Globo após a pandemia e estreia do ator no início dos créditos de abertura. Preso injustamente após um reconhecimento equivocado, essa trama desencadeou a história do mocinho Christian (Cauã Reymond), que adquire uma dívida alta com traficantes para salvar o melhor amigo e se vê obrigado a assumir a identidade do irmão gêmeo, Renato, quando ele morre em seu lugar, baleado pelos bandidos.


ARTE COMO CAMINHO

 

Criado no Vidigal, onde ainda mora, o ator carioca conhece bem a realidade de quem vive na favela e teve a oportunidade de encontrar o caminho da arte no grupo Nós do Morro – de onde saíram também os atores Marcelo Mello Jr e Renan Monteiro, que fazem seus irmãos em “Renascer”. O ator conta que já passou por episódios de racismo e "isso causa indignação e revolta", mas aprendeu que sua arma será o conhecimento e o estudo.

 

"Preciso ter voz ativa, mas também ser sábio e inteligente, debater e falar sobre isso. Como ator, é de muita importância ter um público me assistindo e poder dizer a ele que sou um homem negro, favelado, que essa é a minha essência. E é preciso agir no respeito. Precisamos nos amar de verdade, acima desses estigmas, então luto mesmo contra o racismo e o preconceito. Estamos no século 21, e isso já deveria estar enterrado, mas ainda precisamos continuar lutando para mudar. Racismo e preconceito não passam batidos por aqui, não." (Patrick Selvatti)