Lélia Gonzalez fundou o Movimento Negro Unificado (MNU) para se posicionar contra a democracia racial e exigir políticas públicas em benefício da comunidade afro-brasileira. -  (crédito:  Divulgação)

Lélia Gonzalez fundou o Movimento Negro Unificado (MNU) para se posicionar contra a democracia racial e exigir políticas públicas em benefício da comunidade afro-brasileira.

crédito: Divulgação

No intuito de divulgar o legado e difundir o pensamento de Lélia Gonzalez (1935-1994), intelectual e ativista pelos direitos das mulheres negras, a Fundação Banco do Brasil lançou nesta quinta-feira (22/2) o Projeto Memória – Lélia Gonzalez: Caminhos e Reflexões Antirracistas e Antissexistas. 

Até junho de 2025, exposições, palestras, oficinas e atividades educativas sobre a vida e obra da ativista serão realizadas no circuito do CCBB (Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo) e em instituições culturais ligadas ao Banco do Brasil. A programação terá início em Salvador e chegará a Belo Horizonte em junho do ano que vem.

 

Em 2015, o Projeto Memória já havia homenageado Lélia Gonzalez. Na época, 20 réplicas da exposição fotográfica “Lélia Gonzalez: o feminismo negro no palco da história”, realizada pela Fundação Banco do Brasil, ocupou o salão de entrada dos CCBBs e foram disponibilizadas para movimentos negros, universidades e bibliotecas para que a mostra fosse montada nesses locais. 

As instituições também receberam quatro mil kits contendo fotolivro biográfico de Lélia e DVD do documentário sobre a ativista. Outros quatro mil kits pedagógicos com dois almanaques históricos foram entregues para escolas brasileiras. 

No ano seguinte, o projeto ficou em suspenso. O programa, que já homenageou, entre outros, Carlos Drummond de Andrade, João Cândido (líder da Revolta da Chibata) e Marechal Rondon, volta neste 2024 com o intuito de promover estratégias de reflexão e conscientização sobre o racismo e o sexismo na sociedade brasileira. 

“(Lélia Gonzalez) abriu mão da sua vida pessoal para lutar pelo povo negro”, disse o economista Rubens Rufino, único filho de Lélia. “E isso ocorreu no momento muito crítico da política brasileira, nos anos mais duros da ditadura. Então, essa atitude dela é a coisa que ficou mais marcante para mim”. 

Doméstica, babá e filósofa

Natural de Belo Horizonte, Lélia se mudou para o Rio de Janeiro aos 8 anos com a família. Ainda na infância, começou a trabalhar como empregada doméstica e babá. 

Formou-se em história e geografia e, posteriormente, em filosofia. Foi professora na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Gama Filho, e publicou seu primeiro livro, “Lugar de negro” (em parceria com Carlos Hasenbalg), em 1982. 

Lélia também fundou o Movimento Negro Unificado (MNU) para se posicionar contra a democracia racial, reivindicar o fim da violência e da discriminação racial e exigir políticas públicas em benefício da comunidade afro-brasileira. 

Outra questão cara para ela foi o sexismo, responsável por silenciar muitas mulheres. Esse posicionamento a transformou numa espécie de ícone do feminismo brasileiro. 

Angela Davis

A filósofa mineira rompeu fronteiras. Em passagem pelo Brasil em 2019, a filósofa norte-americana e ativista pelos direitos dos negros, Angela Davis, disse que “os brasileiros deveriam ler mais Lélia Gonzalez”. 

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Lélia morreu em 10 de julho de 1994, aos 59 anos, em decorrência de problemas cardiovasculares. Suas obras foram publicadas por diferentes editoras e não são difíceis de serem encontradas nas livrarias. O Instituto Memorial Lélia Gonzalez, administrado pela família da ativista, mantém vivo o legado dela. 

“A gente observa os indicadores sociais, que mostram que o número de óbitos da população negra, sobretudo jovem, é gritante. Dentro dessa visão estrutural do preconceito racial – e também sexista –, entendemos a Lélia Gonzalez como chave fundamental para promover um letramento racial”, afirmou o presidente da Fundação Banco do Brasil, Kleytton Morais. 

Para ele, “há uma camada de profunda ignorância na sociedade brasileira”. E completa: “Por isso, o Projeto Memória se propõe a contribuir nesse debate. Acreditamos no processo educacional, que a educação liberta. E, para isso, precisamos de uma ferramenta de disseminação do pensamento.”