Depois de um giro pelo país, passando por Niterói, Brasília, Rio de Janeiro e cinco capitais do Nordeste, o Grupo Galpão retorna a Belo Horizonte com seu “Cabaré Coragem”. A montagem cumpre temporada de quarta-feira (28/2) a 24 de março no Galpão Cine Horto, com sessões de quarta a domingo, sempre às 20h.
Com direção de um dos integrantes da trupe, Júlio Maciel, e elenco formado por Antonio Edson, Eduardo Moreira, Inês Peixoto, Luiz Rocha, Lydia Del Picchia, Simone Ordones e Teuda Bara, “Cabaré coragem” marcou o reencontro do Galpão com o público após a pandemia. O texto costura fragmentos da obra de Bertold Brecht com dramaturgia própria, criada coletivamente.
Maciel comemora o sucesso das apresentações em outras praças. “A recepção tem sido linda. No Nordeste, em cada lugar fizemos configuração completamente diferente – de ambientes pequenos, como em Fortaleza, a espaços enormes, como foi em Aracaju. Em Natal, fizemos ao ar livre. Foi bacana ver como nos adaptamos de acordo com a situação. Tudo funcionou muito bem”, diz.
Teatro de revista
Outra alegria foi a temporada de longa duração no Rio de Janeiro, no Teatro Rival. “O espaço está comemorando 90 anos e desde sempre é identificado como a casa do teatro de revista. Então, já cria um ambiente de cabaré. A resposta da plateia foi linda, com o público sempre muito junto da gente, dançando e cantando”, relata Maciel.
Em “Cabaré Coragem”, uma trupe envelhecida e decadente dança, canta e faz números de variedades, enquanto estranhas contradições vão despontando. Apesar dos reveses, a arte se reafirma como espaço da identidade, permanência e crítica social.
O repertório mescla músicas interpretadas ao vivo com números que evocam o circo, com muita dança. Neste trabalho, o Galpão, fiel ao teatro popular e de rua, rompe a relação palco/plateia, compartilhando a encenação com o público.
A nova montagem se vincula diretamente aos primórdios do grupo, afirma Inês Peixoto. “Tem o resgate de números que já foram feitos, com um pouco de circo-teatro, e tem comunicação muito direta com a plateia, com texto muito orgânico. É também uma declaração de amor ao passado acrobático do Galpão, traz a memória do tempo áureo da juventude”, aponta.
O reencontro com Brecht é outro aceno ao passado. “A gente alcançou uma camada de humor que bebe muito na obra de Brecht, que, de certa maneira, está nos primórdios do grupo, porque os atores que fundaram o Galpão se aproximaram trabalhando juntos em ‘A alma boa de Setsuan’. São várias revisitas”, comenta.
Brecht e direita
Júlio Maciel pontua que “Cabaré Coragem” deriva diretamente do momento político-social brasileiro e mundial. Ele alude ao retorno do fascismo e à expansão da extrema direita. “Era a hora de relembrar o que Brecht dizia. E como fazia muito tempo que estávamos sem espetáculo novo por causa da pandemia, queríamos também que fosse um momento de festa, de comunhão com o público”, ressalta.
A trilha sonora sempre foi elemento intrínseco ao trabalho do Galpão. Mas diferentemente de outras peças, “Cabaré Coragem” é objetivamente classificada como um musical. Inês Peixoto explica que a chancela se deve ao fato de a montagem ter como ponto de partida músicas sugeridas pelos próprios atores.
“Cada um trouxe o tipo de música que gostaria de cantar e colaborou com textos, então o espetáculo nasce dos desejos individuais. Durante o processo, conseguimos unir as partes desse ‘Frankenstein’ e encontrar coerência, desenhar percurso que costurasse tudo dentro do Cabaré Coragem. Ele também reproduz um sistema de exploração contra o qual, numa chave metalinguística, fazemos uma pequena revolução”, diz.
Maciel reforça o caráter colaborativo da montagem. “O ‘Cabaré’ foi construído muito a partir de exercícios propostos pelos atores. Passamos por quatro experimentos cênicos. Abrimos nossa sede para os amigos e fomos experimentando ao longo de um ano, com fragmentos de textos e músicas, tudo a partir dos desejos dos atores. Cada um foi montando pequenas estruturas musicais e de cena. Tudo começou com o impulso dos atores”, conclui.
“CABARÉ CORAGEM”
Com Grupo Galpão. De 28/2 a 24/3. Sessões de quarta a domingo, às 20h. Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Ingressos: R$ 39 (cota social), R$ 30 (meia) e R$ 60 (inteira). À venda na bilheteria, a partir das 19h, e na plataforma Sympla, com taxas. Aos sábados e domingos, sessões em libras.
GALPÃO EM NÚMEROS
1982
ano de fundação
26
espetáculos no repertório
1,9 milhão
de espectadores
100
prêmios no Brasil
3 mil
apresentações
280
cidades visitadas
19
países visitados