Fred Zero Quatro, vocalista da banda Mundo Livre S/A, lembra que foi a partir do surgimento do movimento Manguebeat, na primeira metade dos anos 1990, que o carnaval de Pernambuco adquiriu a feição multicultural que hoje é sua marca registrada. É com a síntese desta folia que o grupo chega a Belo Horizonte para única apresentação, nesta sexta-feira (2/2), a partir das 21h, no Distrital do Cruzeiro.

 

O show dá sequência às comemorações dos 30 anos do Manguebeat, iniciadas em 2023. O repertório inclui temas autorais do Mundo Livre e canções das bandas Nação Zumbi, Eddie e Mombojó, destaques do movimento. A programação do Carnaval do Distrital, que começou em 26 de janeiro, segue até o próximo dia 16.

 

“A gente sempre fez incursões na praia do carnaval, não só pela questão do cavaco, que sempre esteve presente, mas explorando os ritmos de Pernambuco. 'O velho James Browse já dizia' (do álbum “Novas lendas da etnia Toshi Babaa”, de 2013) é um frevo reinventado. Clássicos da banda, como 'A bola do jogo' (do primeiro disco, “Samba esquema noise”, de 1994), a gente envenenou com uma levada de ciranda”, diz Zero Quatro.

 



 

Repertório engajado

 

O tributo ao Manguebeat privilegia músicas nas quais o grupo imprime marcas das variadas vertentes do carnaval pernambucano. “Acaba sendo apresentação mais festiva mesmo”, observa, ressalvando que isso não exclui a abordagem política e social que acompanha o Mundo Livre S/A desde sua criação, em 1984.

 

Exemplos disso são “Fake news”, do disco “Walking dead folia” (2022), e “O outro mundo de Xicão Xukuru” (de “O outro mundo de Manuela Rosário”, de 2004), samba que trata da importância de valorizar os povos originários e a luta pela demarcação das terras indígenas.

 

“A nossa linguagem faz dançar e pensar ao mesmo tempo”, pontua Zero Quatro. Com agenda aquecida – Mundo Livre S/A faz show amanhã em Brasília, domingo em Goiânia e tem três compromissos na próxima semana em Pernambuco –, a banda vive momento marcante de suas quatro décadas de carreira.

 

“Passamos 10 anos na garagem antes de lançarmos o primeiro disco, então estamos considerando esse período, a partir da fundação da banda em 1984. O momento é de resgate, para jogar luz sobre nosso legado”, destaca. Este ano, deve ser lançada a primeira biografia oficial do grupo, a cargo do escritor e jornalista Pedro de Luna.

 

“Estamos tentando aproveitar este momento histórico de fomento, com diversos editais de cultura depois de um longo inverno. Queremos ver se damos conta de não perder nenhum edital. Então, tem muita coisa boa para colhermos ao longo deste ano”, confia.

 

Ao comentar o legado do Manguebeat, Zero Quatro diz que o movimento segue pulsante no cenário musical brasileiro e, especialmente, pernambucano.

 

“Antes do Manguebeat, o Marco Zero (principal polo carnavalesco do Recife) não existia. Você tinha as agremiações de bairro, tradicionais, e o Galo da Madrugada, que começou como uma coisa privada e foi crescendo. Só no início dos 2000 se instituiu o formato com dezenas e dezenas de palcos espalhados por toda a cidade, trazendo o conceito de multiculturalidade. Ele vem do ideário da metáfora (manguebeatiana) da diversidade dos manguezais, onde estão fincadas antenas que captam a música do mundo”, conclui Zero Quatro.

 

CARNAVAL DO DISTRITAL


Com Mundo Livre S/A e DJs Bebela Dias e Zaidan. Nesta sexta-feira (2/2), no Distrital do Cruzeiro (Rua Opala, s/nº, bairro Cruzeiro). Abertura dos portões às 21h. Ingressos: R$ 40 (terceiro lote), à venda na plataforma Sympla.

compartilhe