“Se eu te eternizar”, disco com 12 canções que Olivia Hime acaba de lançar, tem o objetivo de celebrar seu parceiro de vida, Francis Hime. O homenageado assina os arranjos de 10 faixas, nas quais também toca piano. Dori Caymmi, Zélia Duncan, Sérgio Santos, Quarteto Maogani e St. Petersburgo Orchestra fazem participações especiais.
Este é o 16º disco da artista carioca. No repertório, composições de Francis feitas em parceria com Zélia Duncan, Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Geraldo Carneiro, Cacaso, Thiago Amud. Há quatro músicas compostas por Francis e Olivia, incluindo a primeira parceria do casal, "Meu melhor amigo", de 1972.
A direção musical é de Paulo Aragão e cada faixa ganhou um texto de apresentação da cantora e compositora fluminense Zélia Duncan. “Tudo começou na pandemia, quando todos estavam em casa, botando a cabeça para trabalhar. Eu também estava reclusa e sempre tive vontade de mergulhar nas profundezas, ou melhor, nesses baús de Francis. Tive tempo para isso durante aquele período.”
Olivia ligou para o amigo e pianista João Carlos Coutinho, contando de sua intenção. “E o próprio Francis, ouvindo a nossa conversa, disse: 'Você vai me fazer uma homenagem, mas quero participar também. Não quero ficar só de homenageado'. Comecei a fazer uma pesquisa, porém minha meta maior era cantar coisas dele que eu nunca havia cantado e, principalmente, aquelas escondidas, guardadas, às quais julgo serem maravilhosas”, conta a cantora.
Ela conta que “o processo foi muito tranquilo” porque trabalhou “cada música com muito cuidado”. “Comecei a pensar nos arranjos, ao mesmo tempo em que fazia sugestões a Francis. Trabalhei muito nesse disco também na parte conceitual de arranjo, sugerindo a ele uma coisa ou outra.”
Terminada a pandemia, ela já estava “com o disco maduro”, segundo conta, mas levou ao palco outro trabalho em parceria com Francis Hime, o show “Os dois Franciscos”. Fiz um orçamento para o álbum, porém era inviável para a gravadora Biscoito Fino, da qual sou sócia. Vi que ele não daria para ela, porque tiraria dinheiro de outras produções. Como diretora, não achei ético usar uma verba excessiva para um trabalho meu.”
Jeitinho
Olivia decidiu então procurar Danilo Santos de Miranda (1943-2023), diretor do Sesc. “Contei para ele o meu desejo. Ele disse: 'Claro que você vai fazer esse álbum, do jeitinho que você quer e vai botar, sim, uma orquestra na mão do Francis, como você deseja'. Consegui fazer um disco farto de instrumentação, dando a Francis a alegria de se esbaldar”, diz ela.
A artista não descarta a hipótese de fazer outro volume com músicas de Francis. “Estou amamentando esse álbum, que é recente. Não estou pensando em nada, mas ainda existe material que deixo para outra cantora. Aliás, o que tem de material belo, inédito de Francis, atual e que foi pouco gravado é muito.”
Ela diz ter se dado conta de “coisas curiosas na trajetória da escolha do repertório dos artistas” no passado. “Há 40 anos, havia aquela necessidade de ter uma música de sucesso, com os intérpretes indo atrás de uma canção inédita. Pediam: 'Francis, faz uma música para mim!'. Ou então uma música de sucesso e o resto do LP ficava esquecido.”
Projetos
Essa necessidade, segundo ela, passou num segundo momento. “No meu caso, sempre tive interesse em fazer projetos fechados, seja com Chiquinha Gonzaga, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Ruy Guerra ou Dorival Caymmi. Sempre me interessei também por pegar projetos e mergulhar neles e, com isso, pude perceber que grande parte dos intérpretes passaram a se dedicar a isso, com a chegada do CD e DVD, porque permitia uma fluidez, inclusive foi uma época na qual se gravou muito DVD.”
Agora, de acordo com a cantora, estamos no “terceiro momento, o da internet, em que se vai soltando as músicas uma a uma, com EPs e singles, e as pessoas pararam com aquela necessidade de pegar uma música inédita ou de sucesso e hoje trabalham aquela canção que acham melhor”.
Na opinião de Olivia, isso é bom, porque elimina a obsessão por todo mundo gravar a mesma música. “Saía uma canção do Chico ou do Francis, por exemplo, e todo mundo tinha que gravá-la. Agora as pessoas diversificaram as suas escolhas. Minha questão com o streaming é com o som, que é algo que me incomoda um pouco, mas tenho os meus CDs e LPs. Como pesquisa e abertura de novos artistas, acho o streaming uma beleza, acho até muito rico mesmo. O que não gosto é da qualidade do som, espero que consigam melhorá-lo.”
Embora seja diretora de gravadora, a cantora não lança discos com frequência. “Isso porque o álbum tem que ser maturado, elaborado, pensado e, principalmente, estudado. Temos que estudar as músicas. Ainda continuo acreditando em CD e LP. Acho que são como livros que a gente tem que guardar para ouvir melhor.”
FAIXA A FAIXA
• “Valsa sedutora” (Francis Hime e Zélia Duncan)
• “Breu e Graal” (Francis Hime e Thiago Amud)
• “Pássara” (Francis Hime e Chico Buarque) – Participação de Zélia Duncan
• “Mar enfim” (Francis Hime e Olivia Hime)
• “Menino de mar” (Francis Hime e Olivia Hime) – Participação de Dori Caymmi
• “Amorosa” (Francis Hime e Olivia Hime)
• “Círculo fechado”(Francis Hime e Paulo César Pinheiro)
• “Ribeirinho” (Francis Hime e Cacaso)
• “Anunciação” (Francis Hime e Paulo César Pinheiro) – Participação de Sergio Santos
• “A invenção da rosa” (Francis Hime e Geraldo Carneiro)
• “Meu melhor amigo” (Francis Hime e Olivia Hime)
• “Eterno retorno” (Francis Hime e Geraldo Carneiro)
“SE EU TE ETERNIZAR”
• Disco de Olivia Hime
• Selo Sesc (12 Faixas)
• Disponível nas plataformas digitais