Com 11,4 milhões de moradores e maior capital da América Latina, São Paulo é o lar de refugiados e cidadãos de outros países em busca de melhores oportunidades de vida. Desde 2017, a cidade é também palco da Orquestra Mundana Refugi, formada por brasileiros e imigrantes.

“Todo lugar é aqui”, novo álbum do grupo, abriga samba, xote, flamenco, tarantela, maksoum, ritmos tibetanos, criolo e música andina, entre outros ritmos.

“Quando a orquestra surgiu, estipulei que fizéssemos um álbum por ano, porque isso estimularia a criação, os ensaios e os estudos. Na chegada da pandemia, estávamos no processo de lançamento do segundo disco e decidimos continuar de maneira remota. Assim surgiu ‘Todo lugar é aqui’”, explica Carlinhos Antunes, diretor artístico da orquestra. Vinte e dois músicos trabalharam – coletivamente – à distância neste disco.



Particularidades de várias culturas são a marca registrada da Refugi. Desde o começo da formação, todos “cantam na língua do outro” e tocam “a música do outro”, conta Antunes.

Faixas do álbum abordam temas ligados a conflitos na terra natal dos integrantes da orquestra. “Amêndoas verdes”, por exemplo, é um canto em prol da causa palestina. “Uskudar”, em ritmo turco, é interpretada pela iraniana Mah Mooni e pela palestina Oula Al Saghir. “Suíte dos povos” traz sonoridades do Tibete.

“Taranta”, tarantela italiana, e “Sardinia”, com ritmos italianos e influências africanas, foram apresentadas pela Orquestra Refugi no Rock in Rio 2022.

“Não somos uma orquestra tradicional. Na orquestra erudita, há repertório de várias partes do mundo, mas a interpretação é a mesma e não se discutem outras possibilidades”, observa Antunes.

“No nosso caso, temos a expertise de aprimorar estudos das várias culturas, inclusive do Brasil. Membros da orquestra que tinham dificuldade de cantar em português hoje já conseguem isso. Também é assim com outras línguas e ritmos”, explica.

O álbum traz duas homenagens à América Latina: “Canto das três raças” (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro), clássico na voz de Clara Nunes, e “Oración del remanso”, do argentino Jorge Fandermole. A faixa “Batarsite” foi gravada em criolo. “Zombra da romazeira” mescla flamenco e ritmos árabes, enquanto a releitura de “Violeira” (Chico Buarque e Tom Jobim) reúne instrumentos de vários países.

“São Paulo foi formada por pessoas de fora, filhos e netos de imigrantes”, observa Carlinhos Antunes. “Nossa orquestra e este disco são exemplo claro de que é possível e necessária a convivência entre as diferenças. Para nós, elas são riquezas”, conclui.

“TODO LUGAR É AQUI”
• Álbum da Orquestra Mundana Refugi
• Circus
• 10 faixas
• Disponível no YouTube

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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