A única coisa que Lee Tang quer é fugir de um destino absolutamente banal na Coreia do Sul. O sonho ele já tem: o Canadá, mais especificamente as Montanhas Rochosas. Mas nada, absolutamente nada indicava que sua vida se tornaria uma grande arapuca.
Com estreia nesta sexta (9/2), na Netflix, "A killer paradox" integra o pacotão de produções sul-coreanas que a plataforma vai lançar em 2024 – estão previstas, até o fim do ano, 31, entre filmes e séries. Vale avisar que esta série foge do padrão água com açúcar do país asiático, que costuma figurar entre os campeões de audiência da plataforma.
A narrativa tem um clima quase kafkiano, por vezes sufocante. Foi adaptada da webtoon (quadrinhos sul-coreanos publicados on-line) homônima escrita e ilustrada por Kkomabi.
O protagonista é conhecido do público cinéfilo. Choi Woo-shik, que interpreta Lee Tang, integra o elenco de "Parasita" (2019), de Bong Joon Ho, vencedor de quatro Oscars. Ele fez o filho de Ki-taek (Song Kang-ho), o primeiro membro da família a se infiltrar na residência dos Park.
Pois na série sua vida é só um pouco melhor do que a do garoto do filme. Lee Tang está na faculdade e não estuda de jeito nenhum. Ele se diz traumatizado pelo período obrigatório no exército, mas ninguém, nem os amigos ou a família, acredita na história.
Turno da noite
Vive numa quitinete bancada pelos pais, que tampouco se interessam por sua vida. Paga as contas trabalhando como atendente de um mercado de bairro – atende no turno da noite, logo depois de sua única irmã terminar o turno dela.
Pois uma única noite muda tudo. Um homem bêbado chega ao mercadinho. Apronta uma confusão e é salvo por um amigo, um homem de alguma idade, que gentilmente paga a conta. Muito mais tarde, quando está voltando para casa, Lee Tang se depara com o primeiro homem, caído no chão.
Continua seu caminho, até que encontra o segundo homem, aquele que havia sido simpático com ele. Ao questioná-lo por deixar o amigo caído, os dois se envolvem numa briga. Lee Tang acidentalmente o mata. Passa uma noite daquelas em casa, mas acredita que tudo estará resolvido. Só que a polícia faz uma descoberta: o homem morto era um serial killer que tinha matado muita gente no passado. Sob nova identidade, vivia uma existência comum.
Ainda que muita gente tenha achado que a justiça tenha sido feita, há um policial interessado no caso. O detetive Jang Nan-gam (Son Suk-ku) parece o único policial sério de seu distrito – os outros são ou incompetentes, ou puxa-saco, ou as duas coisas. É este detetive que vai se tornar a primeira dor de cabeça de Lee Tang.
Habilidade especial
Este, por seu lado, começa a perceber que tem a habilidade de reconhecer pessoas cruéis que merecem morrer. Lee Tang decide abraçar seu destino e se tornar um matador de quem, em sua opinião, não deve viver. A história ainda traz um terceiro personagem importante, o ex-policial Song Chon (Lee Hee-Jun), que começa a perseguir Lee Tang por sua própria conta.
Com cenas fortes, sequências com um pé no surrealismo, "A killer paradox" está longe de ser uma série fácil. É um exemplo bem acabado da diversidade da produção televisiva sul-coreana da atualidade. E foge totalmente do padrão dos populares k-dramas românticos, o que já é uma grande vantagem.
“A KILLER PARADOX”
• A série, em oito episódios, estreia nesta sexta (9/2), na Netflix