O ator Cillian Murphy, um dos favoritos na disputa pelo Oscar deste ano por sua interpretação no papel–título de “Oppenheimer”, de Christopher Nolan, é o astro do filme de abertura do Festival de Berlim, um drama irlandês baseado em uma história real sobre mães solteiras exploradas por freiras católicas.

"Small things like these", adaptação do livro homônimo da irlandesa Claire Keegan, está entre os 20 filmes que disputam o Urso de Ouro, prêmio mais importante da Berlinale, como o evento alemão é chamado em seu país.

O júri do festival é presidido pela atriz queniano-mexicana Lupita Nyong'o, a primeira artista negra a assumir esse posto. O Festival de Berlim, que prossegue até o próximo dia 25, abre o ciclo dos três grandes festivais de cinema da Europa, antes de Cannes (em maio), na França; e Veneza (em setembro), na Itália.




Para a 74ª edição do evento, a Berlinale apresenta uma programação eclética, com diretores e atores do mundo inteiro, estrelas, documentários políticos e produções autorais e experimentais.


Homenagem a Scorsese

Em "Small things like these", Cillian Murphy volta a trabalhar com o cineasta belga Tim Mielants, que dirigiu episódios da série "Peaky blinders". Ao lado da atriz norte-irlandesa Michelle Fairley, da série "Game of thrones", e da britânica Emily Watson ("Ondas do destino"), Murphy interpreta um pai dedicado que descobre o segredo do Asilo Madelena: entre 1820 e 1990, as freiras de seus conventos escravizaram jovens mães depois que entregaram seus bebês nascidos fora do casamento para adoção.

"Estamos convencidos de que esta história que junta a bondade com os mais frágeis e a vontade de lutar contra a injustiça encontrará eco em todos", afirmou recentemente o italiano Carlo Chatrian, que codirige pela última vez a Berlinale, ao lado da neerlandesa Mariette Rissenbeek. No próximo ano, a dupla será substituída pela americana Tricia Tuttle.

Entre as estrelas aguardadas em Berlim, o grande destaque é o consagrado diretor americano Martin Scorsese, que receberá um Urso de Ouro honorário por sua carreira.


Contexto de guerra

O festival, historicamente caracterizado por seu compromisso político, acontece em um contexto delicado, após quatro meses de guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas em Gaza.

Pouco antes da abertura, quase 50 colaboradores da Berlinale assinaram uma carta aberta em que pedem à direção do festival uma posição mais firme sobre "a atual ofensiva contra a vida palestina".

Até o momento, os diretores do evento expressaram "compaixão com todas as vítimas das crises humanitárias no Oriente Médio e além" e manifestaram preocupação com o "aumento do antissemitismo e do sentimento antimuçulmano".

Entre os poucos filmes procedentes da região na Berlinale, "No other land", de um coletivo palestino-israelense, mostra a destruição dos vilarejos de Masafer Yatta, na Cisjordânia, por parte das autoridades israelenses e a improvável associação de um ativista palestino com um jornalista israelense.

O cineasta israelense Amos Gitai, que sempre defendeu uma solução negociada para a paz no Oriente Médio, exibirá uma versão da obra teatral "O rinoceronte", de Eugène Ionesco.


Políticos desconvidados

O Festival de Berlim havia convidado membros do partido político de extrema direita Alternativa para a Alemanha para a sessão de abertura, na noite de quinta (15/2). O convite é uma antiga tradição.

Mais de 200 profissionais do audiovisual alemão levaram uma carta de repúdio às redes sociais pedindo que o festival cancelasse o convite. A organização declarou que o protocolo é convidar os políticos eleitos no país e que os membros do partido venceram as últimas eleições para o parlamento.

"Eles também são representantes de comitês políticos voltados à cultura e outros grupos. Isso é um fato e nós temos que aceitá-lo", disse a nota. No entanto, o festival reviu sua posição e desconvidou os representantes da extrema direita para a noite de gala. 

compartilhe