Cineasta, ator e roteirista, o paulista José Mojica Marins (1936-2020) criou um dos personagens mais famosos do imaginário popular brasileiro: Zé do Caixão. Muitas vezes confundido com a própria criatura, o mestre do terror fez sucesso – no Brasil e no exterior – com seu coveiro de unhas enormes, capa preta e cartola.

 


Em “À meia-noite levarei sua alma” (1964), terceiro longa de Mojica, Zé do Caixão foi apresentado pela primeira vez ao público. O filme conta a história de um agente funerário cruel, obcecado pela ideia de ser pai, que apavora moradores de uma cidade do interior de São Paulo.

 


Atração desta sexta-feira (23/2) para sábado (24/2) à meia-noite, no Cine Humberto Mauro, os ingressos gratuitos devem ser retirados apenas na plataforma Eventim a partir do meio-dia de hoje (22/2).

 


Pela primeira vez, o projeto “Sessão da meia-noite”, inaugurado em agosto passado, vai exibir um longa nacional. “Não tem clássico melhor para isso, este filme é reconhecidamente o maior do José Mojica. Ele marcou a história da cinematografia brasileira”, comenta Vítor Miranda, gerente de programação do Cine Humberto Mauro.

 


O longa faz parte da lista dos 100 melhores filmes nacionais divulgada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

 



 


As sessões da meia-noite se inspiram na prática do mercado internacional, nos anos 1970, de exibir durante a madrugada filmes com pouca circulação comercial. Segundo Vítor Miranda, a ideia, agora, é fazer com que o público se relacione com o cinema de novas maneiras.

 


“À meia-noite levarei sua alma”, o primeiro filme da chamada “trilogia Zé do Caixão”, completa 60 anos. Embora hoje tenha a fama de “cult”, nem sempre foi assim. Mojica enfrentou preconceito com seu cinema popular. Sem recursos, o diretor fazia sacrifícios para financiar as produções. Vendeu o próprio carro para pagar salário dos funcionários.

 


Boca do Lixo

 

O longa foi viabilizado por meio da Boca do Lixo – polo cinematográfico paulistano conhecido nas décadas de 1960 a 1980 como celeiro de pornochanchadas, filmes independentes e fitas de terror provocativas e transgressoras.

 


Vítor Miranda explica que naquela época, apesar de experiências como as de Alberto Cavalcanti, o público e a crítica não estavam habituados a produções de terror nacionais. Com o passar do tempo, as criações de José Mojica Marins conquistaram notoriedade e respeito.

 


Uma década depois de seu lançamento, “À meia-noite levarei sua alma” fez sucesso no exterior, com Zé do Caixão ganhando o nome de Coffin Joe e vencendo prêmios na Espanha e na França.

 


Autor e criatura se confundem até hoje – é comum as pessoas dizerem que filmes de Mojica são dirigidos por Zé do Caixão.

 


“Mojica é uma dessas figuras da história do cinema que conseguiram criar um personagem que ficou na cultura popular para além de um ou dois filmes. Assim como o Vagabundo, de Chaplin, ele é quase uma entidade. Sem dúvida, com sua forma de escrever, o José é o pai do terror nacional”, observa Vítor Miranda.

 


José Mojica Marins dedicou 71 de seus 83 anos ao cinema. Dirigiu 40 produções e atuou em mais de meia centena de filmes.

 


“À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA”


Filme de José Mojica Marins, com Zé do Caixão. Exibição à meia-noite desta sexta-feira (23/2) para sábado (24/2), no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Classificação: 16 anos. Entrada franca, com retirada de ingressos exclusivamente pela plataforma Eventim, a partir do meio-dia de hoje (22/2).


* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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