Casado com ideais de liberdade, tolerância e gentileza, o físico Albert Einstein pregava o condicionamento da humanidade ao “desenvolvimento moral do homem”. Excluído do projeto político Manhattan, que culminou com testes no Novo México, na antessala do lançamento da bomba atômica em Hiroshima, que vitimou 70 mil pessoas, o mais célebre físico do século 20, enquanto “pacifista militante”, nunca se eximiu da relativa responsabilidade frente aos eventos de 1945.

 

Figura explorada de forma rasa no hollywoodiano “Oppenheimer”, filme dirigido por Christopher Nolan, o pesquisador é o centro de “Einstein e a bomba”, misto de documentário e encenação apresentado pela Netflix.

 

Tida como fruto da “ciência organizada”, nas palavras do presidente Harry S. Truman, a bomba teve por princípio a observação einsteiniana de que “pequena quantidade de massa poderia ser convertida em grande quantidade de energia”. O filme da Netflix, assinado por Anthony Philipson, segue a trilha do cientista disposto a defender que “forças organizadas (nazistas) só poderiam ser combatidas por forças organizadas”.

 



 

Além de ambientar o contexto da escalada ao poder de Hitler, o filme traz reflexões sobre a Noite dos Vidros Quebrados (1938) e a canina fidelidade apregoada pelos integrantes do Reich, além dos vis ataques de Paul Weyland, num congresso sobre preservação da ciência pura, no qual trata da “extravagância e do mercantilismo de dados” na prancheta de Einstein. E atribui falta de provas ao suposto “dadaísmo científico” propagado pelo teórico da relatividade geral.

 

Repugnado pelo conceito de autoridade, Einstein, que se via descolado da fé judaica e da condição de cidadão alemão, tinha “prazer” em pertencer ao “povo judaico”. Para desgosto, no cotidiano, massacrado por milhares de fotógrafos, Einstein se via como “autoridade” dado o destino de, onisciente, ver tudo consigo transformado em “circo midiático”.


Discurso histórico

 

Ainda que clandestino, Einstein viu sua localização, em 1933 (em Roughton Heath, Norfolk, sob resguardo do político e oficial da reserva Oliver Locker-Lampson), ameaçada por artigo do The Observer. Foi de lá que, com a cabeça orçada em 20 mil marcos, segundo cálculos das forças de Hitler, o cientista ensaiou, entre a coragem e a hesitação, o discurso para 10 mil pessoas, no qual evocou “ação” para salvar a humanidade e a herança cultural, pronunciado no Royal Albert Hall londrino.

 

Mapeando a vizinhança entre o nacionalismo (alemão) e o chauvinismo, Einstein exaltou a “liberdade” que disseminou o poder criativo de exemplos como Pasteur, Joseph Lister, Shakespeare e Goethe.
Na ruptura plena com os alemães, ele seguiu, em 1933, para Princeton (EUA), onde morreria, em 1955, aos 76 anos. “Pensar em prol do homem e do seu destino sempre deve ser o objetivo principal para que as criações de nossas mentes sejam uma bênção e não uma maldição para a humanidade” é uma das citações mais fortes presentes em “Einstein e a bomba”.

 

Junto de imagens da “fábrica de extermínio” (de pessoas) Buchenwald, o filme simplifica as ações dos Aliados na Segunda Guerra e revela – sem soberba – uma sentença do físico em torno do fracasso alemão na produção da bomba atômica, que, se assegurada, teria o impedido de “participar da abertura da caixa de Pandora”.

 

No roteiro da produção da Netflix, Einstein se vê forçado a dar o passo de incitar, via carta, o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt contra a exploração germânica de urânio e a estimativa de um novo tipo de artefato em curso – a prevista bomba.

 

“EINSTEIN E A BOMBA”


Direção: Anthony Philipson. Com Aidan Mac Ardle, Rachel Barry, Leo Ashizawa e Andrew Havill. Disponível na Netflix.

 

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