“O trabalho de Marguerite Duras tem uma característica muito existencialista. Não é sobre compreendê-la, mas compreender a nós mesmos”, afirma Vitor Miranda, gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado (FCS).

 

“Duras, A eterna”, mostra de cinema dedicada Marguerite Duras, será aberta nesta terça-feira (27/2), às 16h, e segue com programação até a próxima quinta (29/2), no Cine Humberto Mauro. O evento homenageia os 110 anos da escritora e cineasta francesa.

 



 

A curadoria dos longas exibidos na mostra conta com filmes dirigidos e roteirizados pela romancista, além de uma produção baseada em uma de suas obras literárias (“Azuro”, inspirado em “Os pequenos cavalos de Tarquínia”,) e um documentário (“Eu quero falar sobre Duras”).

 

TALENTO NATO

 

Marguerite Duras (1914-1996) nasceu na Indochina francesa, atual Vietnã. Com 17 anos se mudou para a França para estudar direito e ciências políticas. Seu primeiro livro, “Os imprudentes” (1943), foi seguido por dezenas de outros que refletem a percepção aguçada de Duras à condição humana.

 

“O amante”, de 1984, é, segundo a própria autora, seu livro mais autobiográfico. Nele, Duras descreve a pobreza e a instabilidade emocional da mãe, além de narrar a história de amor de uma jovem francesa e um comerciante chinês mais velho. A obra ganhou o Prêmio Goncourt e consagrou a autora, que já tinha 70 anos à época.

 

A estreia de Marguerite Duras no cinema foi em 1959, quando roteirizou o premiadíssimo “Hiroshima, meu amor” (Alain Resnais). Vitor Miranda destaca a relevância mundial do longa: “Um dos filmes mais importantes da história do cinema”.


MEMÓRIA E TRAUMA

 

O filme, realizado 15 anos após a destruição das cidades japonesas Hiroshima e Nagasaki por bombas atômicas, retrata o encontro de uma atriz francesa (Emmanuelle Riva) e um arquiteto japonês (Eiji Okada), enquanto ela grava um filme antibélico em uma Hiroshima reconstruída. Passando por temas como memória e trauma, o longa roteirizado por Duras ganhou o Prêmio Internacional do Júri no Festival de Cannes de 1959, e chegou a ser indicado ao Oscar de melhor roteiro original em 1961.

 

Tanto “Hiroshima, meu amor”, quanto “Uma tão longa ausência”, de Henri Colpi e também roteirizado por Duras, serão exibidos em cópias restauradas durante a mostra no Cine Humberto Mauro.
Além de ser creditada como diretora e roteirista de diversos longas, Duras era sobretudo uma exímia romancista. Autora de dezenas de livros, seu talento com as palavras e a subjetividade característica do mundo literário muitas vezes eram transportados para a tela.

 

ELO LITERÁRIO

 

“Os filmes de Duras têm uma relação muito grande com a literatura. Isso é um reflexo de quem ela era: uma grande romancista, novelista e poetisa. Assistir ‘India song’ (Marguerite Duras) é como ler um livro, como se aquelas imagens na tela estivessem ilustrando um pensamento literário. Realmente é uma relação com o cinema muito diferente do que estamos acostumados”, explica Miranda.

 

“Azuro” (Matthieu Rozé), filme de 2021 e adaptação de “Os pequenos cavalos de Tarquínia”, escrito por Duras em 1986, e o documentário “Eu quero falar sobre Duras” (Claire Simon), que retrata o relacionamento de Marguerite com Yann Andréa, 38 anos mais novo que ela, são outras apostas da mostra.

 

O filme parte do desejo de Andréa. Procurando entender melhor a relação que teve com Duras, ele pede à jornalista Michèle Manceaux que o entreviste sobre a vida que levava com a cineasta.

 

Vitor Miranda também ressalta a importância de trazer o nome de Marguerite Duras ao público e revela que os filmes da francesa também estarão presentes na quarta edição da mostra “Clássicas: mulheres na direção”, que tem estreia prevista para 1º de março.

 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

 

DURAS, A ETERNA”
Desta terça (27/2) a quinta (29/2), no Cine Humberto Mauro (Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro). Entrada franca, mediante retirada de ingressos na bilheteria local uma hora antes de cada sessão.

 

PROGRAMAÇÃO

• Hoje (27/2)
“Azuro”, às 16h
“Eu quero falar sobre Duras”, às 18h
“Uma tão longa ausência”, às 20h

 

• Quarta (28/2)
“Hiroshima, meu amor”, às 16h
“India song”, às 18h
“Azuro”, às 20h

 

• Quinta (29/2)
“Eu quero falar sobre Duras”, às 16h
“Uma tão longa ausência”, às 18h
“Hiroshima, meu amor”, às 20h


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