Além das fotos, a publicação traz ensaios assinados por pesquisadores da música brasileira e depoimentos de artistas que conviveram com Clara Nunes -  (crédito: Fotos: Wilton Montenegro/Divulgação)

Além das fotos, a publicação traz ensaios assinados por pesquisadores da música brasileira e depoimentos de artistas que conviveram com Clara Nunes

crédito: Fotos: Wilton Montenegro/Divulgação

 

A quadra da Portela, no Rio de Janeiro, será o cenário para o lançamento, neste sábado (2/3), de “Clara, uma fotobiografia”, livro organizado pelo pesquisador de música popular brasileira e professor da PUC-Rio Júlio Diniz, que assina na obra um texto sobre a relação de Clara Nunes (1942-1983) com a escola de samba.

A cantora Clara Nunes

A artista mineira se mudou para o Rio de Janeiro em 1965, onde desenvolveu sua carreira

Wilton Montenegro/Divulgação


“Tenho Clara na memória afetiva da minha adolescência. Na época, ouvia-se a cantora nos LPs tocados nas rádios e nas casas dos meus pais e avós. Então, cresci da infância para a adolescência ouvindo, me emocionando com Clara Nunes e admirando-a”, afirma o organizador. “Depois fui estudar música, literatura e, até hoje, trabalho na universidade e fora dela com essa relação entre a música e a literatura que, para mim, é uma chave de entendimento do Brasil.”


Diniz observa que “a ideia foi fazer esse livro que não é uma biografia, não é um perfil biográfico, até porque já existe um trabalho muito bom, que gosto muito e recomendo, que é ‘Clara Nunes, guerreira da utopia’ (Agir Editora), de Vagner Fernandes. Ele fez o perfil biográfico dela, porém a minha intenção não tem nada a ver com isso; é uma fotobiografia”.


Além do texto do organizador, foram convidados a escrever na obra a professora Aza Njeri, doutora em literaturas africanas, que aborda a relação da artista mineira com as matrizes afro-brasileiras, e os pesquisadores da música brasileira Rodrigo Alzuguir e Rodrigo Faour.


Sobre esse último, Diniz comenta tratar-se de “um dos maiores pesquisadores da música popular brasileira, que fez as biografias da Ângela Maria, Cauby Peixoto e Leny Eversong”. Outra participação é a da doutora em letras e professora da UERJ Giovanna Dealtry, autora de “Clara Nunes – Guerreira”. O figurino de Clara Nunes é tema de ensaio assinado pela estilista Luiza Marcier.


O livro, de acordo com o organizador, “é uma declaração de amor a essa mulher extraordinária, essa mineira que lançou uma parte de Minas para o mundo, assim como a voz de Milton Nascimento, a poesia de Carlos Drummond de Andrade e Adélia Prado, como as Gerais de Guimarães Rosa e tantos outros. Minas está muito presente neste livro, inclusive com fotos da casa na qual Clara nasceu, da sua cidade natal e da fábrica na qual trabalhou, em Belo Horizonte”.


Ele observa que “Clara começa sua carreira em uma época difícil do Brasil, no início da ditadura militar e ela é essa voz poderosa que traz a indumentária e toda uma tradição cultural, musical e religiosa, das matrizes africanas, afro-brasileiras para o palco. Ela não era só uma sambista, era uma intérprete, uma grande cantora”.


Na opinião do pesquisador, Clara pertence a uma linhagem de artistas cuja obra oferece “uma interpretação que não é só musical, mas cultural, psíquica, psicológica, emotiva, afetiva, histórica das contradições do Brasil”. Ele cita os aspectos “da tristeza e, ao mesmo tempo, da euforia, do interior, do arcaísmo e do novo, das grandes cidades. Esse Brasil que não pode aceitar a dicotomia, a polarização. Não é um Brasil entre certo e errado, entre A e B. É um Brasil que tem que saber conviver com a sua multiplicidade e suas diferenças”.


Mineira de Caetanópolis, Clara Nunes se mudou para o Rio de Janeiro em 1965, para investir em sua carreira artística. Ela morreu em 1983, vítima de parada cardíaca, causada por choque anafilático.

 

Capa do livro "CLARA, UMA FOTOBIOGRAFIA"

Capa do livro "CLARA, UMA FOTOBIOGRAFIA"

reprodução

“CLARA, UMA FOTOBIOGRAFIA”
Organização de Júlio Diniz
Numa Editora e Editora Puc/Rio (209 págs.)
R$ 90