Instalação da série

Instalação da série "Sudários" é uma das obras em exposição na Lemos de Sá Galeria, a partir deste sábado

crédito: Lemos de Sá Galeria/Divulgação

A ideia era ousada, mas se mostrou assertiva: se ao invés de pintar um afresco na parede, a própria parede fosse colocada na tela? Foi nisso que o carioca Dudu Garcia se inspirou para formar sua identidade artística. Há 22 anos, ele trabalha com elementos pouco convencionais, como reboco, concreto, limo, pedras e cal. Tudo isso sobre tela.


“Minha proposta é justamente subverter a arte”, afirma. “Até o Renascimento, todas as pinturas eram feitas em pedras e nas paredes. Depois, começou-se a pintar em telas para conseguirem transportar as obras com maior facilidade. Pensei, então: por que não fazer o caminho inverso e trazer a parede para as telas?”, explica.


O ímpeto de subversão artística levou o carioca longe. Suas obras já foram expostas – em mostras individuais e coletivas - no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Paco? Imperial, Galerie Debret (França), Gallery 32 (Inglaterra), Tendler Gallery (Bélgica), Violet Ray (EUA) e Motoazabu Gallery – Roppongi Hills (Japão).

“Costumo dizer que o acaso é meu sócio. Na série ‘Sudários’, por exemplo, as obras só chegaram nesse resultado final porque teve uma infiltração no meu ateliê, num canto escondido da parede. As bactérias e o mofo ali deram um efeito maravilhoso para as peças”

Dudu Garcia, artista


Agora, pela primeira vez, ele expõe seu trabalho em Belo Horizonte, na mostra “Limiar”, em cartaz na Lemos de Sá Galeria, a partir deste sábado (2/3) até 2 de abril.
Ao todo, nove telas e uma instalação resumem os últimos cinco anos de produção do artista. Grande parte das obras estava na série RA 135, de 2023, exposta recentemente no Rio de Janeiro – o nome da exposição faz referência ao endereço do ateliê de Dudu Garcia, no Centro do Rio de Janeiro (Avenida Rodrigues Alves).


Abstracionismo informal

“Limiar” transita entre o abstracionismo informal e o hiperrealismo. Nas obras do artista, a natureza, além de ferramenta de trabalho (afinal, os elementos utilizados são pedra, limo, cal, etc), é também coautora, uma vez que elementos alheios (como umidade e secura) influenciam o resultado final, deixando as telas melhores do que Garcia poderia imaginar.


“Costumo dizer que o acaso é meu sócio”, brinca ele. “Na série ‘Sudários’, por exemplo (que integra ‘Limiar’ com uma instalação), as obras só chegaram nesse resultado final porque teve uma infiltração no meu ateliê, num canto escondido da parede. As bactérias e o mofo ali deram um efeito maravilhoso para as peças”, diz, citando a série que simula uma loja de tecidos, mas, ao invés de panos, o que está enrolado supostamente à venda são as telas (sem moldura) de autoria do artista.


A exposição está dividida em três partes. Primeiro, estão todos os trabalhos feitos com carvão; na sequência, vêm as telas com pedra e limo, e, por fim, a instalação da série “Sudários”.


“LIMIAR”
Exposição individual de Dudu Garcia. Na Lemos de Sá Galeria (R. Germano Chatti, 255, Mangabeiras). Até 2 de abril, de segunda a sexta, das 10h às 17h; sábados, das 10h às 13h. Entrada franca. Informações: (31) 3261-3993.
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