Condenado nos EUA por ter estuprado uma menina de 13 anos em 1977, Polanski é alvo de diversas acusações recentes de abuso sexual na França -  (crédito: LOIC VENANCE / AFP)

Condenado nos EUA por ter estuprado uma menina de 13 anos em 1977, Polanski é alvo de diversas acusações recentes de abuso sexual na França

crédito: LOIC VENANCE / AFP

O controverso cineasta Roman Polanski enfrentará, nesta terça-feira (5/3), na França, um julgamento por difamação, por questionar a veracidade das acusações de agressão sexual feitas contra ele pela atriz Charlotte Lewis.


O diretor franco-polonês, de 90 anos, que qualificou as acusações de "mentira odiosa", não deverá comparecer ao julgamento em um tribunal correcional de Paris, onde será representado por seus advogados. A britânica Charlotte Lewis, de 56, comparecerá à audiência.

 


O vencedor do Oscar e de uma Palma de Ouro – por “O pianista”, 2003 – foi acusado diversas vezes de agressão sexual e estupro ao longo de sua carreira, acusações prescritas que não o impediram de trabalhar. Ele sempre as negou.


Em maio de 2010, em pleno Festival de Cannes, a intérprete britânica afirmou que o diretor de cinema a "agrediu sexualmente" durante um teste de seleção de elenco em sua casa, em Paris, em 1983, quando ela tinha 16 anos.


Lewis, que participou do filme "Piratas", de Polanski, em 1986, não o denunciou, mas prestou depoimento ante a polícia norte-americana.


“Memória excelente”


Nove anos depois, em dezembro de 2019, o diretor qualificou essas acusações de "mentira odiosa", em uma entrevista à revista francesa “Paris Match”.


"Como veem, a primeira qualidade de um bom mentiroso é uma memória excelente. Charlotte Lewis sempre é mencionada na lista de meus acusadores sem que nunca apontem [suas] contradições", afirmou o diretor.


O cineasta referiu-se desta maneira aos comentários atribuídos à atriz em uma entrevista publicada em 1999 pelo tabloide britânico “News of the World”: "Queria ser sua amante. Provavelmente desejava isso mais que ele", consta na reportagem. Em 2010, Charlotte Lewis denunciou que suas declarações "não [eram] corretas".


Após a entrevista de Polanski à “Paris Match”, a atriz apresentou uma denúncia por difamação, que, na França, quase sempre leva a julgamento. Os advogados do cineasta negam qualquer difamação em suas declarações e chamaram como testemunha o autor do artigo do “News of the World”, Stuart White.


"Difamar, desacreditar e caluniar são parte integrante do sistema Polanski e isso é o que Charlotte Lewis denuncia com grande coragem", declarou o advogado da atriz, Benjamin Chouai.

 


Polanski, nascido em 1933, vive na Europa para escapar da Justiça americana, que o considera fugitivo há mais de 40 anos, após ser condenado por manter relações sexuais ilegais com uma menor.


Na França, vive de maneira discreta desde 2020, quando a atriz Adèle Haenel abandonou indignada a cerimônia do prêmio César francês, que o premiou na categoria de melhor diretor por seu filme "O oficial e o espião".


Esse incidente tornou-se um dos símbolos da luta contra as agressões sexuais no mundo do cinema, que tomou força nos últimos meses, com as acusações de várias mulheres contra o ator Gérard Depardieu.


O julgamento por difamação também coincide com a polêmica aberta pelas acusações da atriz Judith Godrèche contra os diretores Benoît Jacquot, por estupro de vulnerável, e Jacques Doillon, por abuso.


No final de fevereiro, a atriz denunciou o "tráfico de meninas" na sétima arte, durante a cerimônia do prêmio César, e conclamou o setor a dar uma resposta ao problema.