A historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz foi eleita nessa quinta-feira (7/3) para a cadeira número nove da Academia Brasileira de Letras, a ABL. Ela é a 11ª mulher a integrar a organização desde a sua fundação, 127 anos atrás. A vaga havia sido aberta em dezembro passado, quando morreu, aos 92 anos, o também historiador Alberto da Costa e Silva, um dos maiores especialistas em cultura africana do país. O fato de a cadeira ter pertencido a ele foi um dos fatores que, segundo Schwarcz, levou-a a candidatar-se à ABL.
Em entrevista à Folha de S.Paulo em dezembro passado, quando anunciou a inscrição, a pesquisadora afirmou ter uma proximidade afetiva e intelectual com Costa e Silva. “Sempre nos preocupamos com as mesmas causas, do movimento negro, da igualdade racial”, disse ela na ocasião. Há uma tradição na ABL de preencher cadeiras vagas com nomes cujo perfil sejam de alguma maneira similares aos de seus antecessores. Schwarcz venceu pelo menos cinco vezes o Jabuti e é autora de mais de 30 livros, entre eles “As barbas do imperador”, “Lima Barreto – Triste visionário”, e “Brasil: Uma biografia”, com Heloisa Starling.
Costa e Silva, que ainda atuou como diplomata, deixou como legado estudos como “A enxada e a lança: a África antes dos portugueses”, de 1992, e “A manilha e o libambo: a África e a escravidão, de 1500 a 1700”, de 2002.
LISTA DE JABUTI
Já Schwarcz venceu pelo menos cinco vezes o Jabuti e é autora de livros como “As barbas do imperador”, “Lima Barreto – Triste visionário”, “Dicionário da escravidão e da Liberdade”, com Flávio dos Santos Gomes, e “Brasil: Uma Biografia”, com Heloisa Starling, além de ser uma das fundadoras da editora Companhia das Letras.
Disputaram a cadeira com a pesquisadora outros seis escritores: Antônio Hélio da Silva, Chirles Oliveira Santos e J. M. Monteirás, Edgard Telles Ribeiro, Martinho Ramalho de Melo e Ney Suassuna. Desses, os mais conhecidos são Telles Ribeiro, diplomata aposentado e autor de diversos romances, e Ney Suassuna, ex-senador que foi ministro durante o governo Fernando Henrique Cardoso e era primo do imortal Ariano Suassuna, morto em 2014.
A eleição de Schwarcz é também uma resposta a uma demanda cada vez mais forte na ABL, de uma maior representatividade feminina. A instituição fundada em 1897 por Machado de Assis previa até pelo menos os anos 1950 que apenas “brasileiros”, no masculino, podiam se candidatar a suas 40 vagas, e só foi aceitar uma mulher entre os membros em 1980, quando a escritora Dinah Silveira de Moraes, autora de “A muralha”, concorreu pela segunda vez a uma vaga de imortal.
Desde 2000, a eleição de mulheres tem sido mais frequente, ainda que sua presença na instituição seja irrisória em relação a de homens. Hoje, quatro mulheres – Rosiska Darcy de Oliveira, Ana Maria Machado, Fernanda Montenegro e Heloisa Teixeira – integram a academia, ante 35 homens. Schwarcz será a quinta.
ENTRE CHAS E AGENDA
A historiadora terá de conciliar os famosos chás dos imortais com uma agenda cheia, contudo. Além de ter escrito mais de 30 livros, Schwarcz é professora sênior do departamento de antropologia da Universidade de São Paulo, a USP, dá aulas como professora convidada na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e é membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, do Iphan, e do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da República.
Esta foi a terceira vez que os membros da ABL – cuja sede, o Petit Trianon, está localizada no Rio de Janeiro – usam urnas eletrônicas para votar. Assim como nas ocasiões anteriores, os equipamentos foram emprestados à academia pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ).
Até então, as eleições aconteciam apenas por carta ou por voto virtual, quando o imortal não estava presente na cerimônia, ou por cédula, presencialmente.