Com 50 anos de carreira, Roberto Tibiriçá regeu importantes orquestras e participou das duas primeiras apresentações de

Com 50 anos de carreira, Roberto Tibiriçá regeu importantes orquestras e participou das duas primeiras apresentações de "Pequena missa solene" no Brasil

crédito: Paulo Lacerda/divulgação

São Paulo, 1986, Masp. Mais de um século depois de composta, a “Pequena missa solene” (1863) teve sua primeira audição no Brasil. A apresentação foi comme il faut o compositor Gioachino Rossini (1792-1868) havia previsto: dois pianos, harmônio e vozes.

 

Belo Horizonte, 2012, Palácio das Artes. A “Pequena missa solene” teve sua segunda audição no país, agora em versão orquestral, assinada pelo italiano três meses antes de sua morte.

 

Roberto Tibiriçá se apresentou nos dois concertos – no primeiro, ao piano; no segundo, como regente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG). “A música é muito bonita. Rossini, conhecido como compositor bufo, estava mais velho. Então a inspiração aqui é mais contemplativa”, comenta o regente.

 


Doze anos mais tarde, Tibiriçá encabeça novamente uma apresentação da “Pequena missa solene”. Serão dois concertos – nesta terça-feira (19/3), às 12h, e na quarta (20/3), às 20h – no Palácio das Artes, com OSMG, Coral Lírico de Minas Gerais e os solistas convidados Lorena Pires (soprano), Edineia de Oliveira (mezzo-soprano), Daniel Umbelino (tenor) e Sávio Sperandio (baixo-barítono). O programa integra a série “Concertos da liberdade”.

 

 

Pecado mortal

 

O “pequena” é alusão à formação original da peça, não a seu tamanho (ela tem 90 minutos). Rossini a chamou de “o último pecado mortal de minha velhice”. “Ele engatou as óperas, uma atrás da outra: ‘O barbeiro de Sevilha’, ‘Semiramide’ (foram quase 40). A maioria tem um lado meio cômico. Mais tarde ele caiu nesta fase, em que vai se redimir dos pecados”, brinca o regente.

 

“É música santa ou santa música o que acabo de concluir? Nasci para a opera buffa, bem sabes! Pouca ciência, um pouco de coração, eis tudo. Sê pois, então, abençoado e concede-me o paraíso”, escreveu Rossini ao final do manuscrito da “Pequena missa solene”. A estreia ocorreu em março de 1864, em uma capela privada. Já a versão orquestral, que o compositor criou antes que outro o fizesse, no Théâtre Italien, em Paris – ele não chegou a vê-la.

 

 

O concerto de quarta-feira terá um sabor especial. Tibiriçá, que em 2024 atinge 70 anos de idade e 50 de carreira, será homenageado não só por sua trajetória, mas por uma conquista recente. Depois de quase dois anos – e a documentação de 5.460 páginas, ele conta –, o maestro paulistano receberá da Universidade Federal de Minas Gerais o título de Doutor por Notório Saber. A diplomação será realizada pela UFMG no segundo semestre, mas no concerto a Diretoria de Música da instituição vai fazer o anúncio oficial.

 

Roberto Tibiriçá rege a Sinfônica de Minas Gerais em 2010

Como regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Roberto Tibiriçá comanda concerto gratuito no Parque Municipal de BH, em maio de 201O

Euler Jr/EM/D.A Press/9/5/2010

 

Atualmente à frente da Orquestra Sinfônica do Paraná, Tibiriçá, regente titular da OSMG entre 2010 e 2013, começou na música por influência familiar.

 

“Minha avó foi uma grande pianista, chegou a tocar no cinema mudo, e minha mãe também tocava. Aos 5 anos, ganhei meu primeiro piano e, aos 8, minha avó gastou todo o dinheiro que tinha para comprar ingressos para um concerto da Guiomar Novaes no Teatro Municipal de São Paulo. Aquele foi meu primeiro divisor de águas”, ele conta.

 

O segundo viria um tempo depois. Pianista do coro do Festival de Campos do Jordão, teve sua grande chance quando o musicista que acompanhava o maestro Eleazar de Carvalho em suas aulas adoeceu. Foi levado “morrendo de medo” para substituir o pianista.

 

 

“Ali me apaixonei pela regência e não larguei o velho. Fiquei 18 anos estudando com ele”, conta Tibiriçá, que foi galgando os degraus da carreira.

 


Depois de vencer, por duas edições seguidas, o Concurso para Jovens Regente da Osesp, assumiu as orquestras Sinfônica Brasileira, Petrobras Sinfônica, Sinfônica Heliópolis, OSMG, Sinfônica de Campinas, Filarmônica de São Bernardo do Campo e Sinfônica do Sodre, em Montevidéu, no Uruguai.


Piano fechado

 

Tibiriçá não cursou universidade de música, daí a importância do diploma por Notório Saber. “Sou ex-aluno salesiano. Fugi do colégio jovem para fazer música. E minha mãe me deu todo apoio.” Após a morte da mãe, fechou o piano. “Tocava mais para ela, e a regência foi ocupando todo o meu espaço.”

 


Começou a dar aulas particulares de regência há duas décadas. A experiência lhe rendeu o livro “Regente sem orquestra”. “É direcionado exclusivamente ao exercício da independência das mãos do regente.” Com edições em português e inglês, vem sendo utilizado em universidades, inclusive no exterior. Com a vivência em Belo Horizonte, o maestro criou raízes. “Um pedaço do meu coração está em Minas”, conclui Tibiriçá. 

 

“CONCERTOS DA LIBERDADE”


“Pequena missa solene”, de Rossini. Regência: Roberto Tibiriçá. Com OSMG, Coral Lírico de MG e solistas convidados. Quarta-feira (20/3), às 20h, no Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro,
(31) 3236-7400. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria e na plataforma eventim.com.br. A apresentação de terça (19/3), às 12h, sem a presença dos solistas, tem entrada franca
(não é necessário retirar ingresso).