O Museu da Inconfidência e a Casa da Ópera e serão as sedes dos debates, que irão de hoje a quarta, com entrada franca -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press)

O Museu da Inconfidência e a Casa da Ópera e serão as sedes dos debates, que irão de hoje a quarta, com entrada franca

crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press

Rede composta por mais de 70 pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, de diferentes instituições do país e do exterior, o Projeto MinasMundo promove, a partir desta segunda(25/3), em Ouro Preto, um seminário que encerra ciclo iniciado há quatro anos. O intuito da iniciativa é expandir o debate sobre cosmopolitismo, a partir da caravana modernista a Minas Gerais, em 1924.


O seminário, que será realizado no Museu da Inconfidência e na Casa da Ópera, tem como proposta abordar conceitos, questionamentos e influências relacionadas ao modernismo. A escolha do tema, "Quantos deslocamentos cabem numa viagem? O que é ser cosmopolita?", marca o centenário da viagem que mudou os rumos do modernismo – da qual fizeram parte Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, entre outros.

 


Durante os três dias de seminário, serão debatidas questões relacionadas à geopolítica, aos impactos de uma perspectiva eurocêntrica, à proposta de uma abordagem decolonial e ao cosmopolitismo e sua significação. Participam do evento nomes como Lilia Moritz Schwarcz, Wander Melo Miranda, Silviano Santiago, Conceição Evaristo, Leda Maria Martins, Ricardo Aleixo, Maria Angélica Melendi e Heloísa Starling, entre outros.


A programação do seminário prevê o lançamento, nesta terça, no Auditório do Museu da Inconfidência, do "Glossário MinasMundo" (Relicário Edições, 2024), organizado por André Botelho (UFRJ), Mariana Chaguri (Unicamp), Maurício Hoelz (UFRRJ), Pedro Meira Monteiro (Princeton University) e Wander Melo Miranda (UFMG). A publicação apresenta o resultado do trabalho dos pesquisadores do projeto.


"A gente entende que a viagem de 1924 é um marco simbólico muito diferente da Semana de Arte Moderna de 1922, que representou uma atualização da intelectualidade brasileira com as vanguardas europeias. Com a vinda da comitiva modernista a Minas Gerais, a partir do encontro com o barroco mineiro, passou-se a valorizar mais as culturas brasileiras, o que redefiniu a própria dinâmica do modernismo", afirma Botelho, um dos coordenadores do projeto.


Ele pontua que não houve propriamente um desalinhamento com as vanguardas europeias, mas uma busca pela renovação das artes a partir do contato com o outro. No caso da Europa, ele diz, esse "outro" era distante – a arte africana, a arte polinésia. O pesquisador destaca que, no Brasil de 1924, há a descoberta das artes populares como fonte de renovação.


Primitivo e popular

"No caso da Europa, ser mais moderno significava ser mais primitivo. No Brasil, esse primitivo vai ser traduzido como popular, e era algo que sempre esteve com a gente, mas uma visão eurocêntrica e branca não nos permitia ver. O barroco mineiro, até então, e Aleijadinho, em particular, eram vistos como uma cópia malfeita do barroco italiano."

 


Ele diz que, subitamente, o grupo modernista começa a entender essa expressão particular do barroco não como cópia malfeita, mas como diferença cultural, expressiva do país. "A diferença cultural é que passa a pautar a agenda modernista, e não apenas o problema da atualização. É uma espécie de paradoxo, eles viajam mais para dentro do Brasil e encontram algo mais cosmopolita, menos eurocêntrico", destaca, acerca da abordagem decolonial que se insere no debate.


Botelho salienta que o seminário é uma celebração da viagem de 1924, mas é, sobretudo, um campo que se abre para a discussão sobre os sentidos do cosmopolitismo na cultura brasileira. Ele pontua que estarão reunidos, entre hoje e quarta-feira, apenas parte dos pesquisadores do projeto. "Quisemos ampliar o debate, colocando nossas hipóteses em debate com outros especialistas e artistas, como o Paulo Nazareth", cita.


Essa é a primeira vez que o Projeto MinasMundo realiza um seminário em Ouro Preto. Edições virtuais foram promovidas durante a pandemia, assim como seminários presenciais no Rio e em BH, em 2022, e na Universidade de Princeton (EUA), no ano passado.

 


"A gente construiu essa rede há quatro anos com o objetivo de repensar e rediscutir o significado dessa viagem modernista de 1924, então, a princípio, o objetivo da rede está se cumprindo. Vamos lançar o 'Glossário', com mais de 70 verbetes, com os pesquisadores e suas pesquisas. Estamos cumprindo nosso objetivo. Claro que outras questões surgirão, mas a viagem, como esse marco, no centenário, é um papel que damos por cumprido", afirma Botelho.

 

SEMINÁRIO MINASMUNDO

A partir desta segunda-feira (25/3), às 10h, até a próxima quarta (27/3), às 17h, no Museu da Inconfidência (Praça Tiradentes, 139) e na Casa da Ópera (Rua Brigadeiro Musqueira, 104), em Ouro Preto. Entrada franca.


QUEM PARTICIPA

Confira convidados e organizadores do seminário

Andrea Borges Leão


André Bittencourt


André Botelho


Ângelo Oswaldo de Araújo Santos


Carlos Augusto Calil


Celi Scalon


Conceição Evaristo


Daniela Giovanna Siqueira


Denilson Lopes


Edilson Pereira


Elide Rugai Bastos


Elisa Reis


Enio Passiani


Heloísa Starling


Inés de Torres


Joana Tavares


João Pombo Barile


José Newton Meneses


Júnia Furtado


Leda Maria Martins


Lilia Moritz Schwarcz


Manaíra Aires Athayde


Maria Angélica Melendi


Maurício Ayer


Maurício Hoelz


Myriam Ávila


Paulo Nazareth


Pedro Meira Monteiro


Ricardo Aleixo


Roberto Said


Rodrigo Jorge Neves


Romulo Pinheiro


Rubem Barboza


Sabrina Parracho Sant'Anna


Silviano Santiago

Victor da Rosa


Wander Melo Miranda