Ninguém deve voltar o mesmo depois de uma incursão ao espaço. “Constelação”, nova produção de ficção científica da Apple TV+, parte deste pressuposto para criar uma narrativa pesada, com uma boa dose de terror psicológico. Com quatro dos oito episódios já disponíveis, a série vai se descortinando aos poucos – somente após assistir aos três primeiros temos uma ideia do que está por vir.
Noomi Rapace é a astronauta Jo Ericsson. Na sequência de abertura, ela está bem longe do espaço. Em um rincão gelado da Suécia, a vemos no carro com a filha, Alice (as irmãs Rosie e Davina Coleman). A menina está assustada e a situação não melhora quando a mãe a leva para uma cabana estranha.
Jo está agitada e fica reproduzindo uma gravação de algo que aconteceu no espaço. Pouco depois, a ação retrocede cinco semanas. Jo é integrante de uma equipe de cinco astronautas da Estação Espacial Internacional. Quando ela está numa videoconferência com o marido, Magnus (James D’Arcy), e Alice, as coisas começam a acontecer.
COLISÃO
A colisão de um objeto com a estação fere gravemente o chefe da expedição, o americano Paul Lancaster (William Catlett). A comunicação com o solo é cortada. Duas colegas ficam responsáveis por salvar o comandante. A Jo cabe tentar entender o que atingiu a estação – e o que ela enxerga não tem nada a ver com detrito cósmico. Em breve, ela estará sozinha em uma cápsula de fuga, com pequena probabilidade de sobreviver no retorno à Terra.
Mas ela sobrevive, claro, pois é disto que a história trata. E é a partir daí que conhecemos as demais partes envolvidas no mistério. O mais enigmático é Henry Caldera (Jonathan Banks, o famigerado Mike de “Breaking bad”, aqui se reencontrando com Michelle MacLaren, que dirigiu vários episódios da série de Vince Gilligan e assina os dois primeiros de “Constelação”).
Caldera é um físico americano que ganhou o Nobel no início dos anos 1980 e confiou a Paul o trabalho de sua vida: uma pesquisa que está prestes a descobrir um novo estado de matéria que só pode existir em gravidade zero. Quando o objeto atinge a estação, toda a pesquisa pode se perder – Caldera quer os dados de qualquer maneira.
Na audiência para prestar contas do que ocorreu, Jo se vê sozinha. Seus colegas não viram o que ela afirma ter enxergado em sua caminhada espacial. A superior russa, Irene Lysenko (Barbara Sukowa, musa do cineasta Rainer Werner Fassbinder), insiste que o que ela viu foi detrito – caso isto se confirme, quem terá que arcar com os prejuízo no reparo da estação serão os EUA, e não a Rússia.
O impasse entre as agências espaciais é fichinha perto de como Jo se sente. Ela tem a sensação de que não é mais quem era. Não só vê, como ouve coisas. Seu carro não é da cor de que ela se lembrava. A filha não fala mais sueco, como ela lhe ensinou.
As pílulas vermelhas e amarelas que Jo se vê obrigada a tomar não parecem ajudar em nada. O mesmo medicamento é ingerido pelos veteranos Caldera e Lysenko. As respostas para o que está acontecendo – e também para o passado das missões espaciais – vem lentamente. Mas valem a jornada.
“ CONSTELAÇÃO”
Série em oito episódios. Os quatro primeiros estão disponíveis. Novos episódios às quartas.