O Sepultura nasceu em 1984, no Bairro Santa Tereza, Zona Leste de Belo Horizonte, por iniciativa dos irmãos Max e Igor (atualmente se grafa Iggor) Cavalera – guitarrista e baterista, respectivamente. Completavam a formação original Paulo Xisto (baixo) e Wagner Lamounier (vocal). Em 1985, Lamounier é expulso do grupo e Max assume os vocais, ao mesmo tempo em que Jairo Guedz entra como segundo guitarrista. Em 1987, Jairo sai e Andreas Kisser assume seu lugar, resultando na formação clássica que duraria 10 anos.


Em 1985, o selo Cogumelo Records promove um festival de bandas a fim de fazer uma seleção para seu cast. No fim daquele mesmo ano, o Sepultura, um dos grupos participantes, faz seu debute fonográfico, com “Bestial devastation”, em um vinil que trazia, na outra face, “Século XX”, do também incipiente Overdose. Apesar da baixa qualidade de produção, o trabalho, gravado em dois dias, rendeu bons frutos, que, somados a uma turnê de divulgação nacional, levou a banda dos irmãos Cavalera novamente aos estúdios para gravar um disco completo.

 




Em novembro de 1986, vem à luz (ou às trevas) “Morbid visions”, primeiro álbum de estúdio completo e um dos primeiros discos de death metal/black metal do mundo. Foi um degrau a mais na escalada de sucesso da banda, que, com isso, se transferiu para São Paulo. No início de 1987, o grupo lança o álbum “Schizophrenia”, que o projetou definitivamente no cenário nacional e abriu as portas para o sucesso no exterior.


FASE CLÁSSICA


Com esse trabalho, a banda chamou a atenção da multinacional Roadrunner Records, com a qual assinou um contrato de sete anos. A primeira ação da gravadora foi lançar “Schizophrenia” – originalmente chancelado pela Cogumelo – internacionalmente. Foi com a Roadrunner que, em 1989, o Sepultura lançou seu terceiro disco de estúdio, “Beneath the remains”, que marcou o início da chamada “fase clássica”, com uma vertiginosa escalada rumo ao sucesso mundial.


Pela primeira vez, o Sepultura sai em turnê internacional, tocando junto com a banda alemã Sodom na Áustria, Estados Unidos e México, fazendo reverberar sua popularidade. Em 1990, o grupo se muda do Brasil para Phoenix, Arizona (EUA), contrata um novo empresário e grava o álbum “Arise”, que, lançado em 1991, eleva o Sepultura ao posto de uma das bandas de thrash/death metal de maior prestígio mundial. O álbum vendeu cerca de 160 mil cópias nas oito primeiras semanas e, ao final da turnê, somava mais de 1 milhão de cópias comercializadas.

 


MARCO DA DISCOGRAFIA


Em 1993, o grupo lança “Chaos A.D.”, que já possuía influências tribais, além de elementos de música industrial e hardcore, embalando letras que expressavam uma preocupação com a situação geopolítica mundial, em temas como “Refuse/Resist” e “Territory”, além de "Manifest", que denunciava o massacre da penitenciária do Carandiru. Apesar da guinada, “Chaos A.D.” foi um enorme sucesso e também vendeu mais de 1 milhão de cópias mundo afora. A consagração definitiva – e também o primeiro momento traumático – viria com o álbum seguinte, “Roots” (1996).


O disco mostrou um lado mais experimental da banda, com participação de Carlinhos Brown em “Ratamahatta” e a presença, ao longo das faixas, de percussão, berimbau e batidas tribais. “Roots” contém, ainda, duas músicas gravadas com as etnias indígenas Jasco e Itsari, no Mato Grosso. A música "Itsari" foi gravada na Aldeia Pimentel Barbosa, em 1995, às margens do Rio das Mortes (MT). Com esse lançamento, a banda tornou-se ainda mais famosa e influente, figurando como uma das maiores da cena mundial do metal à época.

 


TRAGÉDIA E RUPTURAS


Os problemas vieram a reboque. Em meados de 1996, o filho de Gloria Cavalera – esposa de Max e empresária da banda – é assassinado. Com uma turnê em andamento, o casal se volta totalmente para a tragédia e o Sepultura é obrigado a cancelar três semanas de shows dos Estados Unidos. Em dezembro daquele ano, Max anuncia sua saída da banda, após os outros três integrantes, em reunião, decidirem demitir Gloria do posto de empresária, alegando que os holofotes estavam todos voltados apenas para seu marido.


Com a ferida cicatrizada, a banda acostumou-se à nova situação imposta e Andreas Kisser assumiu temporariamente o vocal. Max formou sua própria banda, Soulfly. Posteriormente, o Sepultura resolveu buscar um novo vocalista, por meio de um processo seletivo. Em 1998, o grupo volta com um novo single, “Against”, que prenunciava o álbum homônimo, em que o novo vocalista, o norte-americano Derrick Green, é apresentado. Dez anos após a saída de Max, foi a vez de Iggor abandonar o barco, alegando incompatibilidades artísticas.


RAMONES, FOREVER


Nessa fase áurea, foram muitos os shows marcantes, no Brasil e no mundo, mas, para os fãs de primeira hora, teve um que entrou para a história, quando Sepultura e os Ramones, já uma lenda do punk rock, se apresentaram juntos no Parque de Exposições da Gameleira, em novembro de 1994. Overdose e Viper foram as bandas responsáveis pelos shows de abertura. Naquele ano, o quarteto nova-iorquino acabara de completar 20 anos de estrada e já se aproximava de seu fim, quando veio em turnê para o Brasil com sua formação clássica, com Joey, Johnny, Marky e CJ Ramone.


O show aconteceu num domingo à tarde. O vocalista dos Ramones definiu o lugar como um “pasto empoeirado”. Metaleiros, punks e toda sorte de fãs de rock pesado estiveram presentes. Tudo correu em paz, sem grandes confusões, o que era raro naquela época quando tribos diferentes se misturavam. A nuvem de terra do local do show, a ordem surpresa dos shows – com o Sepultura encerrando a noite, após o show dos Ramones – e a catarse coletiva diante de um momento musicalmente histórico atravessaram as décadas, sobrevivendo na memória de quem esteve presente.

 

FIM DE UMA ERA

 

O show no Parque de Exposições da Gameleira foi o último da formação clássica do Sepultura em Belo Horizonte. Depois que Max saiu da banda, os irmãos Cavalera só voltaram a tocar juntos em sua terra natal em duas ocasiões, com o projeto Cavalera Conspiracy. Aquele também foi o único show dos Ramones em Belo Horizonte. Passados 12 anos, em 2006, o baterista Marky Ramone se apresentou no Chevrolet Hall (atual Arena Hall), em carreira solo. CJ Ramone também voltou a Minas Gerais, em 2013, quando tocou em Betim.

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