A multidão no entorno do Arena Hall, em Belo Horizonte, em sua maioria metida em camisas pretas, prenunciava a catarse que se viu a partir das 21h15, quando o Sepultura subiu ao palco para o primeiro show de sua derradeira turnê.


Com a plateia devidamente aquecida pelo Eminence, que fez o show de abertura, a banda fundada em Belo Horizonte há 40 anos abriu sua apresentação com "Refuse/Resist" e emendou com "Territory, Ambas do álbum "Chaos A.D.", de 1993, um dos títulos mais cultuados do Sepultura, antecessor do clássico "Roots".

 

Sepultura, banda fundada em Belo Horizonte há 40 anos, tocou para uma plateia eufórica

Alexandre Guzanshe/EM/D.A press


A plateia respondeu ao poderoso início de show pulando e gritando, de punhos cerrados erguidos no ar. O vocalista, Derrick Green, saudou os fãs em bom português antes de avançar no tempo até "Machine Messiah" (2017).

 




Depois de emendar uma sequência com "Dusted", "Attitude" (também de "Chaos A.D."), o guitarrista Andreas Kisser pegou o microfone para anunciar o novo baterista, Greyson Nekrutman. Contratado em cima da hora para substituir Eloy Casagrande, que abandonou o barco às vésperas da estreia da turnê, ele fez a proeza de se inteirar do repertório com excelência nos poucos dias que teve para isso.

 

Sepultura, banda fundada em Belo Horizonte há 40 anos, tocou para uma plateia eufórica

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Álbum de estúdio e velha guarda

 

Passado o momento revisionista, o Sepultura abriu espaço para seu mais recente álbum de estúdio, "Quadra", de 2020, executando "Means to an end" e "Guardians of earth", em que Kisser dá um palinha de seus dotes de violonista clássico.

 

A música também evoca a ligação que o grupo mantém com as tradições e as culturas indígenas desde "Roots". Uma pegada mais agressiva deu o tom com os números seguintes: "Mindwar", "False" e "Choke", com efeitos de luzes multiplicando os músicos no cenário.

 

A plateia, a essa altura, estava mais extasiada do que agitada, e Kisser anunciou, para delírio dos fãs da velha guarda, " Escape to the void", do álbum "Schizophrenia" (1987), o primeiro que gravou com o Sepultura e também o responsável por começar a projetar a banda para o Brasil e para o mundo.

 

Sepultura, banda fundada em Belo Horizonte há 40 anos, tocou para uma plateia eufórica

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Influências tribais

 

Com "Kayowas", de "Chaos A.D.", executada com um guitarrista de apoio e, Derrick percutindo um surdo, o Sepultura trouxe à cena a marca registrada que imprimiu ao metal mundial: as levadas percursivas e as influências tribais. Também serviu para o novato Nekrutman desfilar suas habilidades com as baquetas.

 

Os fãs, a propósito, o abraçaram sem hesitação como membro da família Sepultura, que chegou para segurar (bem) a peteca da " Celebrating life through death", como foi batizada a derradeira turnê.


O repertório seguiu com "Sepulnation" é "Biotech is Godzilla", que, com sua levada frenética, conduziu a plateia ao êxtase. "Agony of defeat", apresentada na sequência, credenciou o show, com seu ritmo mais pesado do que rápido - uma espécie de momento de preparação para o tomo final do espetáculo.

 

Sepultura, banda fundada em Belo Horizonte há 40 anos, tocou para uma plateia eufórica

Alexandre Guzanshe/EM/D.A press

 

Epílogo

 

O prenúncio do final do show se deu com uma mirada para o início da história da banda, com a execução de "Troops of doom", lançada em 1985 e, talvez, o primeiro grande sucesso da banda, ainda numa escala local e nacional, e ainda sem a presença de Kisser na formação. Em seguida, o grupo revisitou o álbum "Arise" (1991), com sua explosiva faixa-título. Um mosh frenético pediu espaço em meio à plateia que lotava a pista.


Previsivelmente, o melhor ficou guardado para o epílogo. Se "Roots" (1996), álbum que é indiscutivelmente o grande março da discografia do Sepultura, pareceu um tanto alijado do repertório ao longo da apresentação, ficou para ele a cena final.

 

Após deixar o palco por alguns instantes, Andreas Kisser, Derrick Green, Paulo Xisto e Greyson Nekrutman retornaram para quebrar tudo com "Ratamahata" - que na gravação original contou com a participação de Carlinhos Brown - e fechar com a faixa que batiza o clássico disco.

 

O público que esgotou os ingressos para a despedida do Sepultura em BH pulou e gritou como se não houvesse amanhã. E deixou a Arena Hall de alma lavada, certo de ter presenciado algo histórico - o fechamento do ciclo de uma banda que, surgida em BH, se tornou, ao longo de 40 vitoriosos anos, uma das maiores referências do rock pesado mundial.

 

Sepultura, banda fundada em Belo Horizonte há 40 anos, tocou para uma plateia eufórica

Alexandre Guzanshe/EM/D.A press

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